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Remédio é o trabalho

Bolsonaro dá a senha para guerra contra Covid

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Autor/Imagem:
Isa Andrade

Antes que o 1º de Maio, Dia do Trabalho, chegue, o povo vai estar trabalhando, as crianças voltarão às escolas e o Brasil dará os primeiros passos para uma nova era após a hecatombe provocada pela Covid-19. Inimigo comum de toda a sociedade, o novo coronavírus deverá ser combatido em campo aberto, nas ruas.  A senha foi dada pelo presidente Jair Bolsonaro. É hora de trabalhar – insiste. E lembra que quem fechou tudo, chora mortos e a falência da economia.

Nas audiências no Palácio do Planalto e em conversas informais no Palácio da Alvorada, Bolsonaro tem dito que a Covid chegou pomposa, proibindo outras mortes. Ele ataca essa tese. Alerta que morre-se de câncer, enfarte, tiro ou de fome. E diz que o melhor antídoto contra isso é arregaçar as mangas para que o País não pare de vez. A primeira batalha para vencer a guerra, avalia o presidente, é afrouxar o o isolamento social.

Ao menos dois governadores que estiveram no Palácio do Planalto nos últimos dois dias concordaram com Bolsonaro. Exemplos dessa nova postura são Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal, e Romeu Zema (Novo) de Minas Gerais. Os dois passaram a entoar o coro de que é preciso rever a quarentena. Apontam, porém, que a volta à normalidade deve ser feita de forma gradual.

O entorno do presidente pensa do mesmo jeito. O que mais se ouve é o velho jargão segundo o qual devagar e sempre, chega-se onde se deseja. Nada de intempestivo, é verdade. O confinamento social horizontal, como tem sido visto, deve ser rompido de maneira moderada, sem exacerbar. O momento é oportuno para a adoção de um sistema vertical.

Outro aspecto que tem sido ponderado, e que deve, portanto, ser levado em consideração, são as características próprias de cada Estado, bem como suas normas sociais e culturais, que diferem, e muito, neste Brasil continente. E mais: é preciso mostrar que calor não mata o vírus. Exemplos são Pernambuco e Ceará, onde as pessoas têm trocado as praias por filas em hospitais.

Bolsonaro, porém, é cauteloso. Nas conversas que vem mantendo com outras autoridades, não prega o retorno de toda força produtiva ao trabalho. Na opinião dele, é preciso preservar a saúde de grupos de risco. Num primeiro momento, portanto – diz o presidente, com justiça -, pessoas com doenças pré-existentes, como diabéticos e hipertensos, ficarão de fora.

A quarentena, nesse novo modelo, será quebrada apenas para pessoas saudáveis, supostamente resistentes ao novo coronavírus. Ou seja, idosos, em particular, serão mantidos em casa. O resto volta ao trabalho, mesmo que respeitando algumas orientações, como o uso de máscaras para evitar a disseminação do vírus.

Bolsonaro entende que a sociedade deve rejeitar a regra milagrosa ditada por Dona Morte de que está proibido morrer de outros males. É como se a porta-voz de Hades, Shinigami, Anubis e tantos outros deuses mitológicos cultuados desde a antiguidade, decretasse que só vale morrer se for por Covid. O resto não existe.

O presidente quer apagar justamente essa mensagem que se espalhou de boca em boca, levando pânico à população, apresentando uma verdade mascarada de fake news, de que morte, agora, só mesmo as provocadas pelo vírus que veio de Huwan. O que não pode, no entendimento de Bolsonaro, é admitir que o brasileiro, desinformado, fique em casa aguardando a ordem de, como uma boiada, seguir para o matadouro.

A esse respeito, um interlocutor do presidente sugere que o momento é de enterrar os profetas do apocalipse e distribuir o remédio que atende pelo nome de trabalho. Porque só o emprego gera a renda que paga comida, diversão e lazer, fundamentos essenciais da vida.

Há exceções, é verdade, mas dar um basta ao isolamento total é questão de honra – ou de bom-senso. Números contabilizados em todo o mundo atestam que quem se fechou, não evitou mortes e viu a economia afundar, deixando prejuízos incalculáveis. Já onde houve uma abertura, permitindo que setores básicos (e não meramente os essenciais) voltassem à atividade, respira-se aliviado.

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