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A cruz, a espada e as algemas

Bolsonaro entra na fantasia da Cabala para dar volta por cima

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Autor/Imagem:
José Seabra - Foto Reprodução/Ara Pyaú

Tradição mística em Israel , a Cabala vem sendo usada por Jair Bolsonaro para escapar das trevas políticas em que se meteu. Preso ao sionismo, com quem tem fortes laços, o ex-presidente mergulhou na crença de que pode haver uma força poderosa dos judeus por trás dele. E carrega na bagagem a fantasiosa história de evangélicos que voam em debandada para beber das águas do Jordão, como se fossem consagrados pela graça de Jesus. Ledo engano.

É certo que na bruma cinzenta das conspirações políticas, há sussurros de que a prática mística da Cabala se entrelaça com os fios do poder. Sob a penumbra das velas e o murmúrio de antigas palavras sagradas, alguns extremistas do seu entorno buscam não apenas iluminação espiritual, mas também um caminho para influenciar no próprio futuro e no dos seus seguidores.

Verdade seja dita. Na jornada pelo poder, muitos líderes políticos têm recorrido a métodos diversos para fortalecer sua posição e alcançar seus objetivos. Entre essas abordagens, a Cabala, com suas raízes profundas na tradição mística judaica, emerge como uma via de acesso aos segredos do universo e, por extensão, aos meandros que se busca atingir.

Não bastasse isso, nesses mesmos círculos mais íntimos do poder, há sussurros sobre líderes políticos que consultam mestres cabalistas em busca de orientação. Estes supostos sábios, envoltos em mistérios da Carochinha contados por nossos avós, tecem interpretações dos textos sagrados e dos símbolos místicos para oferecer insights sobre estratégias políticas e tomadas de decisão.

Bolsonaro e seu clã entendem que a Cabala, com seus ensinamentos sobre a harmonia do cosmos (agora visto como uma grande redoma e não uma mera Terra plana) e a interconexão de todas as coisas, oferece uma lente única através da qual possam enxergar os eventos e as relações de poder. Acreditam que através da compreensão dos segredos ocultos, é possível influenciar os eventos de maneira sutil, moldando os fluxos de energia que permeiam o universo de eleitores.

No entanto, como todas as formas de busca pelo poder, o uso da Cabala na política não está isento de controvérsias. Críticos argumentam que recorrer a práticas místicas para obter vantagem política é antiético e desrespeitoso, manipulando forças além do entendimento humano para ganhos pessoais.

Além disso, há aqueles que questionam a eficácia real da Cabala na arena política, sugerindo que suas promessas de influência transcendental são meramente ilusórias. Enquanto alguns líderes podem se sentir fortalecidos por suas consultas aos mestres cabalistas, outros podem descobrir que suas ações são tão limitadas pelas realidades terrenas quanto as de qualquer outro indivíduo.

Independentemente da veracidade de suas promessas, a presença da Cabala nessa perigosa seara que Bolsonaro insiste em percorrer persiste como uma sombra enigmática, alimentando especulações e teorias conspiratórias. No entorno do fujão (agora impedido de sair do país, monitorado por um grupo de delegados e agentes da Polícia Federal) os mais variados e conflitantes interesses se entrelaçam; e as linhas entre o sagrado e o profano se tornam turvas.

Mas mesmo assim ele insiste. Sua influência, embora cada vez mais reduzida, ainda existe. Porém, o fato de Bolsonaro desejar deslizar pelas encruzilhadas da mística cabalística pode ser mais um tiro no pé. O ato convocado por ele para o próximo dia 25, em São Paulo, pode ser o último. O ex-presidente, desesperado, está entre a cruz e a espada. No meio, Xandão. E as algemas dos federais.

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