Curta nossa página


Cartas marcadas

Bolsonaro entrará na guerra das urnas ao lado do bem ou do mal?

Publicado

Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior* - Foto de Marcelo Camargo

O ponteiro ainda não concluiu a primeira volta da corrida eleitoral e o capitão presidente já deixou claro quais serão suas armas na disputa pela Presidência da República. Com todas as letras, vírgulas, pontos e vírgulas e sem qualquer interrogação adiantou que não gosta de jogar dentro das quatro linhas da Constituição. Ou seja, não consegue disputar, desrespeita adversários, xinga juízes e auxiliares e, na hipótese da reserva, ameaça furar a bola, rasgar as camisas e sujar o campo com as porcarias que produziu ao longo desses três anos e três meses de governo. Em síntese, não entende que uma peleja forçosamente abriga vencedor e perdedor. Para ele e seguidores não existe o vocábulo derrota.

Nesse domingo (27), no lançamento formal de sua campanha à reeleição pelo PL, um dos pilares do Centrão, o presidente, candidato desde a posse. prometeu uma “guerra” sem trégua do bem contra o mal. Não ficou claro em qual desses lados ele se inclui. Ao lado do fiel escudeiro Fernando Collor de Mello, exemplo de guerreiro de coisa alguma, Jair Messias, em nome da defesa da democracia, jurou convocar “seu” exército (supostamente os apoiadores) em caso de um balancê do conservadorismo. Pura bazófia ou mais uma daquelas bravatas provocativas que ele mesmo sabe tratar-se de desarrazoada patacoada.

Como não há chance de empate em uma eleição presidencial, o risco de Bolsonaro ficar fora é o mesmo de Luiz Inácio, Sérgio Moro, Ciro Gomes e afins. Conforme estabelece o artigo 2º da Constituição, será considerado eleito presidente o candidato que obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos. Na matemática, a conta é simples. O vencedor será aquele com mais de 50% dos votos válidos em primeiro turno. Haverá necessidade de uma segunda volta caso o percentual não seja alcançado.

Entende-se por jubilado o postulante que tiver números menores do que os exigidos pela lei. Aí, mais uma norma simplória: tentem novamente o tablado em 2026. O problema é que, no front bolsonarista, quanto mais as coisas mudam, mais continuam as mesmas. Em outras palavras, no reduto do golpismo essa conta é somada, dividida e multiplicada de forma diferente. O resultado tem de ser o que eles querem. Para eles, a disputa é secundária. A eleição precisa ter cartas marcadas.

Na cartilha do capitão, a história do bem contra o mal tem outro significado: caso perca, a ideia é avacalhar com o país. O pretexto será atender ao povo do bem, o mercado, consequentemente os militares e o Centrão. Resta saber se o povo que não quer o mal aceitará uma virada de mesa. Vale lembrar os estertores do governo Collor, quando o então presidente “convocou” o povo a “inundar” o Brasil de verde amarelo, dando-lhe força para provar que os defensores de sua saída eram minoria. O dia combinado foi 16 de agosto de 1992. Só que o tiro saiu pela culatra.

Em várias cidades do país, as pessoas adotaram o preto, com roupas e bandeiras nas fachadas das casas e de prédios. Um mês depois, por 441 votos a favor e 33 contra, a Câmara aprovou a abertura de processo contra o ex-caçador de marajás. O resto o Brasil e o mundo acompanharam. Resumindo, não basta ter aquilo roxo para se achar o dono do mundo. Às vezes, o melhor é se mostrar como o filho do dono do mundo. Na verdade, ficar calado ainda é a melhor solução. Quem procura acha, mas existem coisas que a gente perde e nunca mais encontra. Elle que o diga.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.