Se este texto fosse de uma série chamada “Como encontrar solução para quase tudo usando a comunicação”, aqui estaria o primeiro capítulo. O desgastado processo para a criação do partido político de Jair Bolsonaro, Aliança pelo Brasil, que até o último trimestre de 2020 havia homologado apenas 10% das assinaturas necessárias, levou o presidente a reconhecer, em dezembro, que seria muito difícil obter o registro em tempo para as próximas eleições.
Luís Felipe Belmonte, segundo vice-presidente da legenda, entende que a pandemia prejudicou a verificação, pelo TSE, das assinaturas colhidas até agora. Faltam cerca de 450 mil. Os bolsonaristas acreditam que a chancela e a liderança de seu comandante em uma agremiação traria alguma novidade ao cenário para 2022. Pode ser verdade.
A ideia é boa, diante das pesquisas que circulam, e o presidente é, sem dúvida, um personagem de características originais. Gostem ou não uns e outros. Essa estratégia, entretanto, parece comprometida para o próximo pleito.
Ter um partido político puro-sangue, com um estatuto que reafirma as convicções e discursos amplamente difundidos pelo capitão e que foram capazes de levá-lo ao Palácio do Planalto, responsáveis por acordar uma grande parcela de brasileiros, seria o ideal. Diante da improbabilidade de obter o registro do Aliança em curto prazo, Bolsonaro deverá, obrigatoriamente, pousar em uma legenda de aluguel.
Nesse quesito ele já está habituado – foi filiado até hoje a oito partidos de diferentes matizes. Ou não poderá ser candidato.
É uma única e definitiva solução? Não é. A sugestão mais simples, fundamentada a seguir, passa pela comunicação de massa e suas características e efeitos sobre o inconsciente coletivo.
Ao lançar a marca Aliança no conturbado universo político, em um momento de superexposição, ele já obteve um ganho institucional de grandes proporções. Embora adormecido e ainda inexistente, o partido Aliança tem assegurado recall a qualquer momento. Com todos os conceitos da era Bolsonaro.
Recentemente o TSE recebeu e deferiu inúmeros pedidos de alteração de nomes de siglas partidárias, a maioria por fusões de agremiações. A solução mais simples e eficaz pode estar nesse caminho. Belmonte, independente de seguir com a sua luta pelo registro, poderá conduzir um processo mais fácil e viável para 2022. Negociar com um partido disposto a assumir as digitais do bolsonarismo e solicitar a mudança do nome atual dessa sigla para Aliança pelo Brasil.
Um soldado sabe avaliar que uma guerra é vencida quando as baixas são menores do que os ganhos. O purismo ideológico está restrito, no Brasil, a uma parcela mínima de pessoas engajadas, estudiosos políticos e à lupa da imprensa sensacionalista que subverte a verdade. São insignificantes do ponto de vista eleitoral. A grande massa vai entender que aquele é o partido de Bolsonaro.
Se realizada uma campanha institucional organizada, profissional, em quinze dias ninguém terá lembrança de que o Aliança era antes denominado Republicanos, PTB ou PP. Esse é um fenômeno que reside no consumidor, independente do seu grau de instrução, origem, região. Pergunte a qualquer um qual a denominação anterior do partido Avante. Ninguém saberá responder, exceto aqueles cujo universo é restrito ao Congresso Nacional. Entretanto, os votos estão fora dele.
Estatutos também podem ser modificados, numa segunda etapa. E o que fazer com o atual registro cartorial do Aliança pelo Brasil? Modifique também para algo similar, ou apenas uma sigla, não há impedimento a não ser que prevaleça o preciosismo e a vaidade. Na troca de nome de um partido já formado, a capilaridade existente poderá auxiliar na formação de uma agremiação de grande poder político, sem a perda de tempo e prazos. Não há fidelização ideológica purista em um sistema com mais de trinta partidos políticos. O próprio Bolsonaro sabe e experimentou isso.
A maioria esmagadora dos eleitores vota em pessoas, não em estatutos. E não dão a menor importância a embalagens antigas, querem a novidade, querem a sensação de um sabor diferente, ainda que seja o mesmo. Acomodar conveniências, aspectos internos, distribuição de poderes, cessão de uso de marca (aí pode estar o gatilho), são movimentos permanentes na política. Será a saída mais inteligente para que o capitão tenha, sim, imediatamente o seu Aliança pelo Brasil.
Essa ferramenta é de extrema importância para dar maior dimensão à esfinge de Bolsonaro. Até agora ele não construiu algo semelhante ao que foi o PT para Lula. No momento é o único que pode dar ao eleitor um endereço e dizer que a casa é sua, qualquer que seja a cidade e bairro. Nenhum outro pré-candidato anunciado poderá seguir essa rota, utilizada pela última vez em 1989, por Fernando Collor e seu PR.
O presidente também não poderá repetir nem contar com o cenário de 2018, já modificado. E para ampliar e fidelizar em curto prazo a sua tropa de elite e seus soldados, é muito mais estratégico e eficaz trocar a placa da fachada por outra: “Sob nova direção”.