Curta nossa página


Corrida ao Planalto

Bolsonaro numa sinuca, e Lula sem bola 7, leque da sucessão fica aberto

Publicado

Autor/Imagem:
Armando Cardoso* - Foto de Arquivo

Maior bem para qualquer cidadão, a democracia representa a liberdade de escolha de um candidato, ainda que, no decorrer do mandato, surja o arrependimento. Na democracia, a primeira coisa que precisamos aceitar é que nossos desejos políticos nem sempre se realizam. A maior ameaça à democracia não é falar o que pensa, mas sim tentar calar quem pensa. Seja de direita ou de esquerda, o governante que escuta seu povo terá sempre um governo novo. O que deixou a Presidência pela porta dos fundos não acreditou nisso. Em sua terceira encarnação, Luiz Inácio Lula da Silva parece que também não.

Como estabelece o silencioso bordão político, quem não dá atenção, vira segunda opção. Isso quer dizer que o resultado inesperado de 2022 pode se repetir em 2026, embora o atual ocupante do Palácio do Planalto tenha uma virtude que poucos têm: a coragem. Sem ziguezaguear como o governo, imagino que muitos brasileiros estejam comparando Lula à Viúva Porcina, aquela que foi sem nunca ter sido. Acho que é exagero, mas uma pífia aprovação de 24% me leva à dúvida que certamente atormenta a cabeça de dez entre 11 eleitores do presidente. É a minha pergunta do milhão: Será verdade que o Lula 3 acabou sem ter começado? Também acho que não.

Os caminhos são tortuosos. O ex-presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), alicerçou a pior das trilhas a ser seguida por um mandatário com pouco apoio parlamentar. A encruzilhada incomoda e talvez continue incomodando por longo tempo. Não é o fim, mas, caso não haja um atalho de volta à estrada iluminada, pode ser o começo do fim. Ao pedir por caminhos abertos, é fundamental que Lula da Silva não se esqueça de uma coisa: caminhar em boas companhias. Caminhando para o terceiro mês de 2025 e a exatos 23 meses das eleições de 2026, a disputa permanece acirrada entre os que podem dizer, mas não dizem nada, e os que nada têm a dizer, mas acham que dizem tudo.

A esmo, distribuem cartas de naipes diferentes para pessoas iguais. Como qualquer conversa de bêbados, com intermediação de chapados, até agora ninguém entendeu onde um quer chegar e até aonde o outro pode ir. É um caleidoscópio em braile, com imagens em japonês e sem tradução simultânea. Por enquanto, a certeza é de que a expectativa de mudança no quadro de inelegibilidade não se tornará realidade. Por outro lado, há a dúvida em relação à lógica da glória e do prestígio. A situação é tão cristalina como o lê lê lê rimando com o Pererê. Sob medida, a pergunta que não quer calar talvez não tenha resposta imediata.

Provavelmente nem a médio prazo. Em nome do povo brasileiro, o que eu quero saber é se a queda de popularidade tem a ver com a deficiência da comunicação ou com a ausência do que comunicar. Ao que parece, o mesmo terremoto que varreu o capital político de um para a Conchinchina aguarda somente a chegada das águas de março para levar a força política do outro para a Mongólia. Embora os números sejam desfavoráveis, eu não duvido de ninguém que tenha alcançado a terceira encarnação. O pleito de 2026 ainda está por chegar. No entanto, o tempo é sempre curto demais para quem precisa dele.

A hora H e o dia D já vão longe para os que, apesar da inspiração positiva, sabem que o calendário joga contra suas pretensões. Se a sinuca é de bico para quem convive com a incômoda inelegibilidade, a bola 7 continua bem distante da caçapa do franco atirador. O problema maior é a ausência de herdeiros políticos. À direita falta cacife para enfrentar quem tem votos. Considerando a chance de Lula não ser candidato a mais uma vida, a esquerda já combalida ficará sem discursos e sem propostas. Acredito que, por conta disso e da desconfiança eleitoral, houve um natural desencantamento dos intelectuais e uma óbvia desconexão com a grande massa, hoje muito mais antenada e politizada do que em 2002, 2006, 2018 e 2022. Aguardemos novos números para saber quem fica e quem continua a caminhada.

……………………..

*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.