“Coisinha de Jesus”
Bolsonaro perde o 17, o 22, o rebolado e pode ganhar o 171
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emO tempo passou, o Brasil mudou, a vida deu um nó em biografias antes invioláveis e o pastor sem rebanho está cada vez mais enrolado. Solitário, sentado à beira do caminho, o capiroto sem farda nem de longe lembra mais aquele homem chamado mito e que, ambicioso do coturno ao quepe, se achava superior até mesmo ao Deus que cunhou como bordão. Cadáver insepulto, sua biografia capotou e caiu no despenhadeiro. Como ele não é cláusula pétrea e a extrema-direita não tem votos suficientes, sua majestade provinciana não volta à vida pública nem que o clã apresente uma emenda constitucional nesse sentido. Acabou. Morreu.
Independentemente dos figurantes que insistem em dividir o país em dois, o moço perdeu de vez o “rebolation” com a aprovação do relatório final da CPMI dos Atos Golpistas. Sem a mão boba do “parça” Augusto Aras, a tendência é que o Ministério Público acate o pedido de indiciamento feito pela relatora, senadora Eliziane Gama. Apresentada a denúncia, o bicho vai pegar para ele e para os demais 60 indiciados, inclusive cinco ex-ministros de Estado. Aqui se faz, aqui se paga. Apesar dos percalços, sem lenço e sem documento nos bolsos, os coitados da extrema-direita não se cansam de produzir factóides que, no dia seguinte, se voltam contra eles. Acostumado a ler as páginas de Opinão dos principais jornais do país, li recentemente um leitor paulista afirmando que a volta do PT ao poder significou o retorno da baderna.
Imagino que o celibatário viúvo do Jair tenha esquecido o dia 8 de janeiro, quando ele e seus asseclas levaram o Brasil e os brasileiros a experimentar o que há de pior em termos de baderna. Vale lembrá-lo que, naquele triste e lamentável episódio, certamente não havia um único petista na Praça dos Três Poderes. Nas entrelinhas, o tal viúvo do zero zero suspira e avalia como “vergonha” a ascensão de Luiz Inácio, considerada por ele com a volta “do repugnante nós contra eles”. Meu caro sofredor, lamento sua viuvez, que deverá ser longa, mas devo registrar que o “nós contra eles” nunca foi uma criação de Lula. Vocês, patriotas de meia tigela, são os responsáveis pelo ódio e pela divisão da nação.
Durante a pandemia de Covid 19, o grupo da paz torcia pela vida, enquanto o outro, enrolado em bandeiras encardidas e fúnebres, histérica e macabramente se limitava a contar o número de mortos. Era o gozo dos estultos contra o choro dos entregues à própria sorte. Esse tipo de lembrança os patetizados bolsonaristas jogam debaixo do tapete. Da mesma forma, eles odeiam quem não esquece do projeto raivoso e imbecil do mito de coisa alguma de se perpetuar no Palácio do Planalto. Para isso, a ideia era fechar o Supremo Tribunal, empastelar a Justiça Eleitoral, calar à força a boca da sociedade e entregar o governo nas mãos dos caciques do Centrão. A herança maldita virou um complicador para o presidente democraticamente eleito. Isso os viúvos da tirania também não mostram. É justo e democrático reclamar do que acham ruim. Também é um direito morrer pastando para salvar o “Coisinha de Jesus”. Entretanto, sejam coerentes.
Falem, por exemplo, da greve na Universidade de São Paulo (USP) e do “inferno” gerado pelos estudantes na vida dos professores. Todavia, não joguem na lixeira da alma corrosiva e antipatriótica que Deus lhes deu a invasão bestial das dependências do STF, do Congresso e da Presidência da República. O inferno causado pela ignorância de alguns ultrapassou nossas fronteiras. E o prejuízo? E a vergonha internacional? Proporcionais ao fracasso de um natimorto golpe, estes os bolsonaristas de varanda levarão para o túmulo ou para a prisão. Entre o chororô e a evacuação pré-xilindró, ainda resta um tête-à-tête com o xerife Xandão. O 22, que já foi 17, sucumbiu. O Brasil não é de grupos. Por isso, recomendo repensarem a vida, antes que não lhes sobre nada além do cabalístico número 171. A escolha é de cada um. Quanto a mim, estou aguardando a PGR e Xandão para botar meu bloco na rua e comemorar o fim daquele que foi sem nunca ter sido.