Na quarta, 7 de abril, comemorou-se o Dia do Jornalista. Uma pena para todos os colegas de jornada não termos o que comemorar, como disse um velho companheiro de redação. Sem sarcasmo algum, respondi que, lamentavelmente, o único bolo que poderíamos cortar seria o do segundo ano de ameaças e “brutices” gratuitas do presidente da República com os profissionais obrigados a acompanhá-lo. Não tenho dúvida em afirmar sobre a obrigação, na medida em que, mesmo aqueles vinculados à estatal de comunicação ou a empresas simpáticas ao jeito capataz de ser do capitão, não têm prazer nenhum em reportar fakes e fatos produzidos a partir da Presidência da República. Imagina ter de escrever, gravar ou filmar o que é dito naquele ambiente contagioso e hostil a quem só quer trabalhar.
Estrelados e mais sábios, os marechais Castelo Branco e Costa silva e os generais Médici, Geisel e Figueiredo eram muito mais simpáticos. Na verdade, desde janeiro de 2019 a imprensa ficou restrita ao negacionismo. Foi-se o tempo em que jornais, sites, rádios e televisões criticavam obras superfaturadas ou inacabadas, cobravam esse ou aquele desvio de verbas, a má gestão de alguns administradores, a aplicação desviada do orçamento e, eventualmente, a indicação de alguém fora da curva para ministérios e/ou empresas públicas. Atualmente, não há o que divulgar porque não se tem notícia do que é feito nas quatro linhas do governo. Aliás, fora o segundo tempo do auxílio emergencial, que ainda não foi pago, ninguém (nem mesmo os apoiadores) sabe se há alguma coisa sendo feita.
O fato concreto é que, após quatro secretários de Governo, quatro ministros da Saúde, três da Justiça, dois da Defesa, dois chanceleres e uma intempestiva varredura nos comandos militares, o que se conhece é o bate cabeças entre a verdade do vírus e a mentira da cloroquina e da hidroxicloroquina, entre Bolsonaro e família e a ciência, entre o coronavírus e a falta de vacina e, mais macabro, entre a fulanização da pandemia e quase 13,5 milhões de infectados e 341 mil mortos. Por conta do silêncio abissal do Executivo, o noticiário está resumido à sustentação da gripezinha, às rachadinhas, à tentativa de um golpezinho e à mortandade sem tréguas de brasileiros atingidos pela Covid-19, doença ainda hoje negada pela pajelança do Palácio do Planalto.
Também há brechas para um ou outro colunista vez por outra comentar sobre a unidade física, espiritual, terapêutica e falaciosa da família Bolsonaro. Sintetizando, um está absolutamente ligado ao outro, sobretudo quando há necessidade de destruir, sem dó nem piedade, qualquer tese que gere algum desconforto à vontade de permanecer no poder. O problema é que Bolsonaro não controla a necessidade de agradar a turma do Control C+Control V, aquela que alcança orgasmos múltiplos ao publicar ou republicar memes a favor do capitão e contra Luiz Inácio, João Dória, Sérgio Moro e semelhantes. Pior é o presidente não controlar as palavras.
Acostumado a “visitar” somente estados e cidades simpáticas, nessa quarta-feira (7) ele convocou o ministro de boa vontade Marcelo Queiroga para acompanhá-lo a Chapecó, onde, mais uma vez, ignorou o avanço do vírus, desancou as medidas restritivas para tentar conter o crescimento da doença, afirmou que não haverá lockdown nacional, voltou a defender o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, o tal tratamento precoce, e, dirigindo-se aos familiares de quem perdeu a vida para a Covid-19, pediu para que parassem de “chorar o leite derramado”. É o mesmo que rir da desgraça alheia. Ouro deboche. Simples assim, porque, felizmente, não foi a mãe, a mulher ou um de seus cinco filhos. Tudo isso um dia após o Brasil registrar 4,2 mil mortes decorrentes da doença em um único dia. É de lamentar a presença do médico Queiroga em um governo que, além de desmenti-lo diuturnamente, prima por negar o óbvio, consequentemente o caos.
Será que o país de Bolsonaro é diferente do meu ou da maioria da população? Parece, pois, mais do que persistir em erros grosseiros, está sempre na contramão do que pensa ou quer seus governados, independentemente de valores políticos ou matizes partidários. Por essas e outras razões, tornou-se comum ouvir no Parlamento, nas ruas, botequins, filas de supermercados ou qualquer outro local onde haja harmonia e solidariedade que ser contrário ao bolsonarismo não é sinônimo de esquerda, mas sim de sanidade, lucidez, evolução, discernimento, inteligência, bom senso e humanidade. Quando tenho oportunidade, escolho trajetórias e não equilibristas. Não defendo a perfeição, mas normalmente opto por pessoas que saibam seu verdadeiro valor. Prefiro a fome de saber à sede de poder.