Rota de colisão
Bolsonaro sugere a Maduro jogar a toalha. ‘Resistir será muito pior’
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emO presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira, 23, estar preocupado com a possibilidade de que haja uma resistência por parte de Nicolás Maduro, diante da decisão de Brasil, EUA, Colômbia e outros países de reconhecer o opositor Juan Guaidó como o presidente legítimo da Venezuela.
“Todos nós conhecemos um pouquinho Nicolás Maduro. Esperamos o pior. Há uma preocupação, sim”, disse Bolsonaro. “Mas achamos que Guaidó não receberá qualquer tipo de retaliação de Maduro, até porque o mundo está de olho nisso e os EUA também reconheceram”, afirmou o presidente.
Bolsonaro participou nesta quarta-feira em Davos de uma reunião com os presidentes da Colômbia, Equador e Costa Rica, além de chanceleres do Canadá e outros países.
Instantes depois ele confirmou a decisão do governo brasileiro. “O Brasil reconhece Guaidó como presidente da Venezuela. O Brasil, juntamente com os demais países do Grupo de Lima, que estão reconhecendo um a um esse fato, daremos todo o apoio politico necessário para que esse processo siga seu destino”, disse.
Ao deixar o encontro em Davos dedicado à crise venezuelana, membros da oposição de Caracas não continham as lágrimas diante dos anúncios dos diferentes governos da região. “Vamos dar todo o apoio para que a transição possa ocorrer”, completou Iván Duque, presidente da Colômbia.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconheceu Guaidó como presidente de facto do país e convocou líderes latino-americanos a fazerem o mesmo. Trump elogiou também as manifestações desta quarta-feira na Venezuela.
Horas depois, Maduro anunciou a ruptura das relações diplomáticas entre Venezuela e EUA e deu um prazo de 72 horas para os diplomatas americanos deixarem o país.
Se o epicentro dos protestos estava em Caracas, foi longe dali, nos Alpes suíços, que começou a ser desenhado a estrutura do que ocorreria diante dos protestos. A meta era a de construir uma aliança ampla que pudesse blindar Guaidó.
Logo pela manhã, antes mesmo de o povo venezuelano sair às ruas, o chanceler Ernesto Araujo ja estava reunido em Davos com o ministro de Relações Exteriores do Paraguai, Luis Alberto Castiglioni. “Queremos que seja ampliado para permitir que haja um impacto”, disse o paraguaio. “Hoje, a única maneira é a pressão internacional”, declarou. “Precisamos de uma aliança global”, disse.
A esperança dos diplomatas é de que, com os EUA no Grupo e o Brasil fazendo parte dos Brics, possa haver uma pressão maior sobre russos e chineses, que mantém o apoio a Maduro.
Ao longo do dia, um dos objetivos era o de chegar também a um consenso para que uma aliança internacional fosse estabelecida para pressionar Maduro. Na visão de alguns dos governos da região, o Grupo de Lima ameaçava ficar sem impacto se continuasse a fazer declarações de força, mas sem o envolvimento dos EUA e potências.
A ideia era a de acompanhar passo à passo o que estava ocorrendo em Caracas, enquanto se proliferaram as reuniões em Davos. O próprio Itamaraty indicou que iria “sentir a temperatura” das primeiras horas dos protestos para avaliar se declararia o apoio oficial à oposição. O risco, segundo a chancelaria, era de que o protesto fosse seguido por violência.
Colombianos e outros países da região já queriam ter declarado apoio a Guaidó logo que os protestos começaram. A decisão, porém, foi a de aguardar uma sinalização americana, justamente para garantir a força da medida e evitar que o problema se transformasse apenas em uma situação de impasse diplomático dentro da América Latina.
O reconhecimento americano acabou ocorrendo perto das 18h do horário suíço. Neste momento, por uma coincidência, o Fórum Econômico Mundial havia organizado uma reunião fechada entre líderes da ONU e os presidentes da região, entre eles Jair Bolsonaro. Oficialmente, o tema era a resposta à crise humanitária na Venezuela.
Fontes que estiveram dentro do encontro, porém, confirmaram ao Estado que o tom mudou diante dos acontecimentos e o que se decidiu foi o de acelerar o processo de reconhecimento para dar um sinal claro das intenções da região.
Quando a parte formal do encontro terminou, os presidentes da região passaram a se reunir de forma separada. Um dos envolvidos nas conversas era Eduardo Bolsonaro, filho do presidente. A decisão foi a de seguir o gesto americano e passar a dar apoio a Guaidó. “Acompanhamos o processo em direção da democracia para que o povo venezuelano se libere”, declarou Ivan Duque, presidente da Colômbia.
Enquanto os presidentes faziam a declaração, membros da oposição venezuelana que estavam em Davos para o encontro não aguentavam as lágrimas e se abraçavam.