Notibras

Bolsonaro vive uma incômoda rejeição que nem Putin salva

Os presidentes da Russia, Vladimir Putin e do Brasil, Jair Bolsonaro, posam para foto no palácio do Itamaraty

Desalentadora para alguns ex-otimistas, as últimas pesquisas de intenção de votos trouxeram duas notícias para o front bozolítico. Uma é ruim, mas a outra, com a absoluta isenção de Deus acima de tudo, é péssima. A ruim é que o presidente que defende o negacionismo e fanatismo em detrimento do governo não consegue escapar da diferença que varia entre 10 a 15 pontos percentuais, números que lhe garantem uma folgada e talvez eterna segunda colocação na corrida presidencial de outubro. Não é para chorar, pois não se sabe até quando ele ainda consegue manter parte do eleitorado fiel a seus descalabros. Os dados que assustam crescem diariamente e são observados justamente no miolo da seita encastelada no cercadinho dos palácios do Planalto e da Alvorada.

Além da desesperadora necessidade de votos, o candidato Jair Bolsonaro luta contra uma rejeição que incomoda do calo no dedo mindinho até o último fio de cabelo. Em todos os recentes levantamentos, há um único viés de alta na candidatura bolsonarista: a desaprovação do governo. E não há Auxílio Brasil ou frango com farofa que estanque a vertiginosa queda de popularidade do mito. Para ilustrar, um dos institutos divulgou dias atrás que a taxa de aprovação da administração do capitão caiu de 38,3% para 37,2%, enquanto a repulsão aumentou de 57,8% para 58,2%. Não é nada não é nada, mas é a prova de que as coisas não andam boas para os lados do golpismo a qualquer preço. Vale registrar que a literatura política mostra que nunca um candidato com esse nível de reprovação obteve sucesso nas urnas.

O índice de rejeição é superior a 45 pontos em todas as regiões do país, principalmente entre jovens e mulheres. Outrora reduto de Luiz Inácio – não sei se ainda é -, o Nordeste é onde Jair Messias tem pior desempenho. Quase 70% do brigador povo nordestino viram a cara para a gestão do ex-mito. É o preço do desajuste, do despreparo e, sobretudo, da necessidade absurda de querer agradar apenas o nicho da bolsonaridade. Ops! Quase soou como um adjetivo jocoso. A derradeira estratégia suicida foi anunciada semana passada, no auge do até agora conflito midiático entre Vladimir Putin, Joe Biden e boa parte dos líderes da Europa economicamente moderna. O Palácio do Planalto informou que o presidente vai a Moscou, justamente quando o vírus volta a ser negado e Brasil novamente registra mais de mil mortes por dia. Ficar aqui para que?

A pretexto de “ampliar relações comerciais com o mundo todo”, Jair Bolsonaro anunciou uma possível viagem à Rússia, inicialmente marcada para o dia 17 deste mês. O objetivo é desconhecido, mas, belicoso como é, certamente não gastará o rico dinheirinho do povo brasileiro para rogar ao colega russo para poupar a Ucrânia. De somenos importância, a desarrazoada “visita” comprovará o que todos dizem a respeito da lógica política do mandatário da Terra Brasilis: como não sei o que fazer, melhor me escafeder. Para lembrar a meus detratores, Bolsonaro é um dos maiores inimigos dos denominados comunistas, cuja definição ele nunca soube. Pelo menos jamais apresentou. A de que os comunas comem criancinhas está ultrapassada.

Ele não lembra – ou não sabe –, mas, em 25 de outubro de 1917, às 21h45, o tiro de um dos canhões do encouraçado Aurora (já soviético) sinalizou o início da chamada Revolução de Outubro, prelúdio da maior experiência comunista da história humana. Derrubada a monarquia russa do czar Nicolau II, começava ali o poder do Partido Bolchevique, de Vladimir Lênin. A falta de votos gera isso: acenos a Deus e ao Diabo. E não importa que eles estejam em Moscou, nas casernas, nos cercadinhos, no Centrão ou nos morros do Rio de Janeiro. A se confirmar, será mais um daqueles fiascos internacionais. Será que a ideia é pedir ao “generalíssimo” Putin para interceder contra os que rejeitam o governo do capitão?

Na melhor das hipóteses, o homi mostrará ao mundo que nada sabe do que diz saber. Quem sabe Putin não o esteja esperando para, após uma boa farofada com frango, decretar a paz na região. As parcerias em áreas como tecnologia espacial, militar e de telecomunicações não são maiores do que os acordos consolidados com Estados Unidos, Europa Ocidental e China. A nove meses das eleições, não adianta esperneios internos ou externos, pois dificilmente serão recuperados os votos perdidos para Sérgio Moro ou para antipetistas arrependidos. Isto posto, antes de tentativas extracampo, é fundamental a percepção de que é preciso começar a governar.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

Sair da versão mobile