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Bom baiano ensina como fazer da vida um poema

Baiano, persistente, conselheiro cultural. Cheio de virtudes (e sabedor de alguns próprios, embora pequenos defeitos), Nicolas Rosa é daquelas pessoas fácil de interagir. Nesta entrevista, ele revela sonhos, mostra o lado otimista comum a todo brasileiro e garante, em tom firme, que as portas estão abertas para todo mundo, restando a cada um saber manejar o trinco.

Leitor assíduo desde criança, Nicolas, do alto de toda a sua experiência, dá uma dica: escrever é fácil. O difícil é manter o ritmo, para não esquecer, por exemplo, de como se pedala uma bicicleta.

Leia a entrevista a seguir:

Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritor.

Meu nome é Nicolas Oliver, e assino como Nicolas Rosa. Nasci em Salvador, cidade aonde voltei a morar depois de passar alguns anos no interior. Eu tento me firmar como escritor há mais de 10 anos, passando a ter mais sucesso recentemente. Publiquei em algumas antologias, blogs, sites, revistas virtuais. Consegui, na cidade de Santo Antônio de Jesus, ser eleito conselheiro municipal de Cultura, representando a Literatura.

Como a escrita surgiu na sua vida?

É difícil explicar um momento. Eu sempre li muito desde criança, e quando adolescente comecei a escrever pequenos textos. Crescendo, passei a melhorar na escrita com a prática.

De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?

Eu me inspiro em autores como Machado de Assis, Wilde, Orwell, além de ter lido O Cortiço, O Ateneu, Madame Bovary, entre outros, livros que formaram em mim um senso crítico e um humor muito refinado. O que li sobre economia e política também tiveram muita influência em mim. Tomarei a liberdade de colocar aqui um poema sobre como me formei:

Rápido curso autoral

Direi em num resumo breve,
Como ser bom autor,
Seja em prosa ou poesia.
Cabe ler Orwell, e Machado,
Shakespeare e Vonnegut:
Asimov e Tom Clancy,
Livros do SENAI,
Sabrina e Vagalume.
Sabendo o que faz sublime o clássico,
E instigante o best-seller,
Escolher um estilo entre ambos,
Que não seja pedante,
Mas também não seja apelativo:
A síntese demora,
Mas vale a pena.
Após isso,
Você pode escrever mil coisas:
Poesias, crônicas, memorandos,
Textão no facebook,
Romances inacabados.
A maioria ficará bem ruim.
Nem você lembrará disso.
Após um bom tempo tentando,
Surgirá algo
Que dará para se chamar de aproveitável:
É seu momento de ouro!
A partir daí você nasceu,
Antes estava em gestação.
Aproveite bem esta nova vida:
Fazendo o que vale a pena,
Você poderá ter uma aposentadoria humilde,
Mas honrada,
Ou sentar entre os luminares.
Antes disso é esforço,
Depois disso talvez seja sorte.
Esteja pronto para quando a sorte chegar,
Pois ela ama os preparados!

Isso descreve minha formação, e pode servir de guia para outros, embora eu não me considere um grande modelo!

Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?

Desde cedo eu me compreendi numa situação similar a de Machado de Assis, a de um jovem literato que teria que construir sua vida através do serviço público. Então eu passei a me qualificar para ter sucesso nisso, como meu modelo.

Quais são os seus livros favoritos?

A Teoria de Peter, de Lawrence Peter, de gestão. O Ocaso de Império, de Oliveira Viana, e A Guerra na Àfrica do Sul, de Doyle, em livros históricos. Literários, Quincas Borba, de Machado, e Cabra das Rocas, de Homero Homem. Em matéria de crítica, Tudo que é sólido se desmancha no ar, de Bermann, e A Angústia da Influência, de Harold Bloom.

Quais são seus autores favoritos?

Machado de Assis, Wilde, Orwell, Marshall Bermann. Com grandes reservas, Oliveira Viana.

O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?

Eu tenho dificuldade para me concentrar para realizar romances longos, mas estou sempre fazendo uma poesia, uma crônica, um conto, um artigo. Nunca fico parado.

Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?

Eu gosto de falar muito de política econômica, tema do qual cresci rodeado. Gosto falar também de relações de trabalho, e sobre o processo criativo.

Para você, qual é o objetivo da literatura?

Tornar o mundo mais bonito para as pessoas.

Você está trabalhando em algum projeto neste momento?

Eu estou tentando emplacar meu primeiro romance, Delendaríada, um romance space opera, em prêmios nacionais, e estou com um novo romance em fase de esboço, Bestas e Deuses, um biopunk.

Quais livros formaram quem você é hoje? O José Seabra sempre cita Camilo Castelo Branco como seu escritor predileto, o Daniel Marchi tem fascinação pelo Augusto Frederico Schmidt, e o Eduardo Martínez aponta Machado de Assis como a sua maior referência literária. Você também deve ter as suas preferências. Quem são? E há algum ou alguns escritores e poetas contemporâneos que você queira citar?

Minha formação é variada. Envolve textos de Marx, Lenin, Galbraith e outros pensadores, e quando cresci tive acesso ao pensamento de Chardin, Spengler, Marshall Bermman e Harold Bloom. Além de ter lido, em literatura, Machado, Dostoievski, Shaw, Homero, mitologia de variados povos, etc… isso tudo foi formando a visão que tenho hoje, que é um visão espiritual faustiana.

Cabendo citar autores atuais, aqui na Bahia Itamar Vieira Júnior, e Anderson Shon e Gabriel Cezart, com seu Excelente Estados Unidos da África, além dos meninos da Editora Folhetim, tem feito um bom trabalho. Eu também gostei do trabalho feito em Namibia Não, a peça e o filme, e tem um carioca maravilhoso, o Lusa Silvestre, que roteirizou o filme Estomago a partir do trabalho de Luiz Mendes Junior, um egresso do sistema prisional.

Como é ser escritor hoje em dia?

A mesma coisa que sempre foi, dificuldade para ser reconhecido e intrigas no meio intelectual. Parte da luta se perde parado no mesmo ponto, tentando se firmar na vida e escapar da pequeneza de certos espaços.

Qual a sua avalição sobre o Café Literário, a nova editoria do Notibras?

Achei maravilhosa a seleção de textos. Adoro ver os autores brasileiros podendo ter um novo espaço.

Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?

O autor deve buscar ter uma formação filosófica sólida. Não só ler aquilo que ele gosta, mas buscar ler economistas, pensadores do direito, teólogos, para poder ter uma visão de mundo ampla e própria ao invés de apenas copiar o que outros dizem. Ter uma visão de 360 graus, do macro e do micro, é vital para quem quer poder ser chamado de um bom escritor.

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