Marta Nobre
O Palácio do Planalto de Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, e o Palácio do Buriti, de Agnelo Queiroz, começam a ser atingidos por uma saraivada de denúncias de propinas pagas pela Andrade Gutierrez ao longo dos últimos 15 anos. Mas a artilharia, por ser pesada, vai jogar estilhaços também em Michel Temer e Rodrigo Rollemberg.
A bomba que fará estremecer um palácio, e tremer outro, tem como pólvora a delação premiada de Flávio David Barros, executivo da Gutierrez preso há quase um ano na Operação Lava Jato. Só para refrescar a memória, aquela construtora esteve à frente das principais arenas esportivas construídas para a Copa do Mundo de 2014. E o dinheiro que sangrou como propina dessas obras, é pouco se comparado com o desvio de Angra 3, também alvo da delação de Flávio Barros.
Temendo o que vem pela frente, os suspeitos de se beneficiarem do esquema das arenas esportivas já preparam uma linha de ação. O principal argumento é o inusitado da data da delação premiada. Não se sabe porque, ou se a interesse de alguém, o depoimento, oficialçmente, ainda não foi prestado. Explica-se: é que, embora estejamos na madrugada do dia 7 de junho, a data de assinatura do ‘Termo de Colaboração Nº 1’, de Flávio Barros, aparece como sendo o dia 24 de junho de 2016, às 9h40.
Sabe-se que foram quatro ou cinco oitivas do depoente. A certeza da data no futuro do pretérito aparece ao menos em uma. Um dos textos a que o repórter Mino Pedrosa, do site Quidnovi, teve acesso, relata em detalhes um forte esquema de corrupção instalado na construção da Usina Nuclear de Angra 3. No documento são denunciados políticos do alto escalão da República nas administrações de Lula e Dilma, como Edison Lobão, ministro de Minas e Energia.
Mas há outros nomes em evidência, como o de Romero Jucá, que foi líder de Dilma no Senado e ministro do Planejamento vapt-vupt de Michel Temer. Em outras oitivas, são citadas autoridades do governo de Agnelo Queiros, muitas das quais ligadas umbilicalmente a Rodrigo Rollemberg. É nitroglicerina pura.
A data do depoimento, contudo, pode ser motivo de questionamento da delação. No mínimo, deixa margem para recursos futuros, admitiu a Notibras um respeitado jurista. A partir daí, ele suscita a dúvida: por que motivos vazaram hoje um documento que, para efeitos a lei, será feito apenas em mais 20 dias?