Como a gente desconhece as razões que levam um ser humano ao fanatismo exacerbado ou à apoplexia demasiada, escrever sobre os temas é como andar pisando em ovos. Nada, porém, explica ou justifica ações do tipo faniquito contra as instituições ou lideranças vitoriosas. Pior é aceitar como normal alguém sair atirando bombas somente porque foi derrotado politicamente ou no futebol, corneado pela mulher ou abandonado pelos que tardiamente se deram conta de que o Brasil não é um parquinho de diversões daqueles em que, a qualquer momento, um cidadão de mal com a vida resolve brincar de terrorismo. Para esses, o máximo rigor da lei. E sem possibilidade de anistia nem mesmo nos quintos “paraíso” para onde supostamente vão os fundamentalistas, inclusive o autor do atentado dessa quarta-feira (13) na Praça do Três Poderes.
Um dos maiores absurdos desta década, a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, parece ter sido uma brincadeirinha de criança mimada para alguns dos deputados e senadores e para a maioria da alcateia bolsonarista. Tanto que, de repente, mais um louco se achou no direito de bombardear o prédio do Supremo Tribunal Federal. Como os deuses do Olimpo estavam de plantão, o estagiário do terror pagou muito caro pela insanidade ou pelo chifre mal resolvido. A pergunta que não quer calar é simples: O que a República, os prédios públicos ou determinadas autoridades têm a ver com isso? Nada vezes nada. Carregado de explosivos, o chaveiro metido a terrorista em breve deve ser transformado em mártir por atleticanos e bolsonaristas inconformados com as respectivas derrotas.
Da mesma forma que o “atentado” premeditado pelo extremista Francisco Wanderley Luiz, o quebra-quebra de 8 de janeiro de 2023 é visto como uma blasfêmia da esquerda por boa parte dos atuais congressistas, principalmente para os que se dizem oposição, mas não têm ideia do significado do termo. Mesmo que o vandalismo dos prédios do Congresso, da Presidência da República e do STF tenha gerado prejuízos de milhões de reais aos cofres públicos, para os brincalhões do Parlamento tudo não passou de uma brincadeirinha de meninos mimados do Maternal II. Parece ser o caso do senador brasiliense Izalci Lucas, não à toa filiado ao Partido das Lágrimas, o PL de Valdemar Costa Neto e de um bando de “patriotas”.
Repito que tento evitar o assunto, mas como me calar diante do besteirol de um político antigo e de poucos ou quase nenhum projeto individual capaz de facilitar a vida do trabalhador. Para fazer média ou por falta do que dizer, sua excelência voltou à tribuna do Senado esta semana para novamente defender a anistia aos “terroristas” fantasiados de que não souberam perder a eleição geral de 2022 e, exclusivamente por isso, vandalizaram a República. Não discuto e fujo de quem queira discutir a respeito da capacidade, da ideologia, do denodo ou da honestidade do presidente vitorioso. Inquestionável é o fato de que ele ganhou. Se ganhou, sua vitória nas urnas deve ser respeitada. Excetuando a ditadura de Nicolás Maduro, é assim em qualquer lugar do mundo, inclusive nos Estados Unidos de Donald Trump.
Mesmo sabendo desde menino que anistiar crimes contra a democracia é inconstitucional, o senador continua jogando para a plateia. Em seus discursos vazios e repetitivos, ele insiste na tese de que o país só voltará à normalidade se os vândalos forem anistiados. Ainda que eleito para defender a totalidade do povo brasileiro, o parlamentar do DF se mostra enlouquecidamente predisposto a trabalhar para livrar da cadeia criminosos confessos ou presos em flagrante delito. Fica claro para os menos estultos que, na visão do senador bolsonarista, o normal é o golpismo. E se a quebradeira atingisse seu gabinete ou sua casa? Melhor deixar para lá. Ainda bem que a bomba da direita explodiu no colo dos defensores do projeto de anistia. O silêncio tomou conta da Esplanada..
A sociedade clama por segurança, por mais trabalho, menos impostos, menos desigualdade e pelo fim do preconceito e da fome. No entanto, para os parlamentares que pensam e agem como Izalci Lucas, tudo isso é de somenos importância. Pelo menos era. Importante é esquecer as mazelas do país e trabalhar incessantemente para anistiar os “patriotas” que, em nome da Pátria, promoveram e comemoraram a maior das agressões ao patrimônio público nacional, as quais, além de causar perplexidade institucional, envergonharam o Brasil perante o mundo globalizado. Se a ideia do senador é manter inalterada a sintonia ideológica com o banditismo patriótico, sugiro adotar de papel passado todos os “perseguidos” pelo ministro Alexandre de Moraes. Para azar dos obcecados pela morte de Xandão e para nossa sorte, bons ou ruins, ainda existem juízes no Brasil.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978