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Amadorismo que isola

Bons tempos acabaram no Brasil, mas um dia voltarão?!

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo

Dia desses, em um desses escritos malemolentes, falei contra alguns “cantores” da chamada “nova” Música Popular Brasileira. Lamento ter de voltar ao tema, mas é só para ratificar que prefiro a velha MPB. Desses enganadores jamais terei um milionésimo da saudade como tenho dos tempos áureos de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão, Ednardo, Fagner, Jorge Ben, Erasmo e Roberto Carlos, Edu Lobo, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Gonzaguinha, Raimundo Sodré, Djavan, Paulinho Nogueira, João Só, Geraldo Vandré e até de Sérgio Reis e Eduardo Araújo. Embora não goste e não consuma suas músicas, ainda respeito como bons compositores e ótimos intérpretes meia dúzia de nomes da trupe atual, mesmo que estejam fora do meu padrão musical.

Entre esses, destaco Zezé Di Camargo, Leonardo, Chitãozinho e Xororó e a recém-falecida Marília Mendonça, uma das melhores do gênero. O problema é conseguir esquecer Elvis Aaron Presley, conhecido como Elvis ou simplesmente Elvis, The Pelvis. Ele foi reconhecido mundialmente apenas como o Rei do Rock e um dos ícones culturais do século XX. Também impossível não lembrar de 21 de julho de 1977, data de um memorável show do ator e cantor no Market Square Arena, em Indianápolis (EUA). Aos 42 anos, um mês antes de morrer, Elvis, prestes a terminar o que seria sua última apresentação, pede para o baterista segurar o microfone, vai para o piano e manda uma capela.

Com as mãos trêmulas, toca e solta o vozeirão, saboreando cada verso da igualmente inesquecível canção Unchained Melody, música de Alex North e letra de Hy Zaret, lançada na película Unchained, na voz de Todd Duncan. A canção acabou se tornando tema principal do filme Ghost, já na versão da dupla The Righteous Brothers. Não assisti, mas diz a lenda que, horas antes de partir para outra vida, ele ainda conseguiu sentar-se em frente ao piano de sua mansão no Elvis Presley Boulevard, em Memphis, no Estado do Tennesse, e tocou Blue eyes crying in the rain (olhos azuis chorando na chuva), letra e melodia do lendário Willie Nelson. Quem viveu lembra de momentos muito parecidos ocorridos com Elis Regina, Tim Maia, Wilson Simonal, Belchior, Raul Seixas, Renato Russo, Cazuza, entre outros ícones da verdadeira música nacional e que morreram no auge da carreira, no ostracismo ou levados pelo excesso de sucesso e suas terríveis consequências.

Pioneiro do rockabilly, fusão da música country com o rhythm and blues, o Elvis Presley da narrativa tinha 130 quilos, problemas cardíacos, dores abdominais intensas, diversos órgãos comprometidos, depressão, insônia, inchaço generalizado, má circulação e um rosário de males. E cantou sua última canção de forma serena, angelical e magistral. Perdão por mais esse sincericídio, mas é só para ilustrar e dar uma única (tenho numerosas outras) explicação sobre as dificuldades que boa parte de minha geração tem para ouvir Pablo Vittar, JoJo Todinho, Anitta, Ludmila, Simaria Mendes, Wesley Safadão Kevinho, Maisa Silva Luísa Sonza, Whindersson Nunes e afins de hoje em dia. Curiosamente, alguns fazem parte da lista dos 50 cantores mais influentes do Instagram.

Uma pena que os autores da tal lista nunca tenham ouvido pelo menos um dos citados no primeiro e terceiro parágrafos. Certamente teriam ficado envergonhados. É a denominada evolução, cujo significado é progredir, alcançar certo grau avançado de civilização ou cultura. Por isso, perdoem-me os fãs dessa turma esganiçada, mas chamaria isso de involução. Saudosismo à parte, prefiro um milhão de vezes as histórias e enredos da velha MPB. A gente se envolvia com a música, com seus autores e intérpretes. Hoje, mal e porcamente, conseguimos saber que esse pessoal existe e que compõe dez, cem, mil músicas na mesma plataforma, lota as redes sociais, mas dificilmente será lembrado como estrelas no futuro.

No máximo um asteroide. A exemplo de Elvis, fico com o que é bom e que jamais morrerá. O tempo é de mudança. Por isso, ainda espero voltar aos Tempos Modernos da boa música, da boa política, do bom e disputado futebol e, sobretudo, dos políticos de carteirinha. O Brasil sempre teve enganadores no Planalto, no Congresso, nas assembleias e câmaras municipais. A diferença é que eram profissionais. Pelo menos pareciam. Hoje, o amadorismo e os pernas de pau nos isolaram do mundo.

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