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Boteco e bordel viram refúgio para abraçar Lula, Trump e Bolsonaro de boa

Diz o ditado que o lagarto é uma lagartixa que não chegou a jacaré. Nesse mundo de ziquiziras fabricadas nos bastidores sujos da política, decidi por conta própria assumir que a sujeira externa é reflexo da sujeira interna da mente de quem provoca a sujeira. Entenderam? Nem eu! Acho que o que quero dizer é que a maior sujeira é aquela que se esconde debaixo da “santidade” de quem nunca foi perfeito. Considerando que o ter é a consequência do ser, jamais serei canonizado, pois, embora tenha uma mente sã, meu ser está mais para insano, profano e insalubre do que para candidato a santo.

Para começo de assunto, prefiro sempre os botecos do tipo pé-sujo. É neles que eu invisto todas as minhas economias físicas, emocionais e heterossexuais. Não necessariamente nessa ordem, é claro. Sem a obrigação de dar chilique por causa de política, esse é o único lugar onde a gente pode abraçar um bolsonarista ou um lulista e depois pedir desculpas com a célebre e desconcertante frase: Pensei que fosse meu amigo. Digo isso com conhecimento de causa e de efeito. Estou cada vez mais convicto de que nada irrita tanto um inimigo, um patriota do que você ter opinião própria.

Eu tenho. Por isso, apanho mais do que bato. O que fazer se, fora os fumantes e os extremistas sem miolo, todos são iguais, inclusive os bêbados. Aliás, ao contrário dos bebuns, hoje boa parte dos brasileiros quer estar certo ao mesmo tempo. Calma! Favor esperar sua vez. Sem preocupação alguma com o chicote dos idólatras e dos fanáticos, faço o que acho certo. Afinal, o errado é deixar de fazer algo por medo do que os outros vão pensar. Sigo o que está na Bíblia: Feio é o que sai da boca. O resto vale.

Por exemplo, não vou ao pé-sujo da esquina ou ao quartinho escondido das profissionais do amor pela bebida, pelo cheiro da coisa ou pelo prazer. Vou pela ilusão. Lá e ali eu sou gente. Lá e ali o povo me respeita e não importa quanto tenho no bolso e nem o tamanho do que guardo além do bolso, isto é, dentro das ceroulas. Ninguém me cobra por ideologia, mas pela quantidade do que bebo e do que faço. Se não faço nada, nada pago. O melhor de tudo é ouvir do colega bêbado que, mesmo sendo feio como uma carranca, sou o companheiro mais lindo e cheiroso do pedaço.

E da menina louca pela moleza do pagamento? Considerando a tese de Sigmund Freud, para quem todo prazer é erótico, o que é verdadeiramente imoral é desistir de si mesmo. Sei que não há paixão mais egoísta do que a luxúria, mas quer coisa melhor do que ficar desnudo e ouvir da quenga estupefacta que você tem um trem do tamanho de um caminhão cegonha carregado com 35 caminhonetes trucadas? Mesmo sabendo que, acordado, o jipinho que a gente carrega cabe em qualquer garagem de quitinete, não há como não ficar feliz e se imaginar primo irmão do Kid Bengala.

O clímax de um dia em um desses paraísos é não precisar escrever para pedir apoio a Donald Trump, procurar um psicólogo, se aconselhar com Jair Bolsonaro ou rezar na mesma cartilha de Luiz Inácio. Por tudo isso, adoro os botecos e as casas de vadiagem. No primeiro, encho a cara com os amigos. Na outra, perco a pureza de minha corrupta e heroica imagem e esqueço a preocupação com o grito dos maus. Em um e em outro ambiente, o que não esqueço é a tese shakespeariana de que o medo é a mais amaldiçoada de todas as paixões baixas. Enfim, superior a qualquer bordel, o boteco pé-sujo é mais do que um lugar. É um estado de espírito. Bora tomar uma. Só tomar uma…

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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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