José Escarlate
Em 1960 participei pela primeira vez de uma viagem presidencial. Foi à localidade de Vilhena, Território Federal do Guaporé”, que mais tarde passou a chamar-se Rondônia, sendo depois elevado à categoria de Estado. O Guaporé, criado por Getúlio Vargas em 13 de setembro de 1943, resultou no desmembramento dos estados do Amazonas e do Mato Grosso. O nome foi dado em relação ao rio que separa o Brasil da Bolívia.
Dia 4 de julho, às 5 horas da matina, eu já estava na Base Aérea. Dirigindo um trator, JK iria derrubar simbolicamente o último obstáculo que separava as duas turmas de operários que trabalhavam diuturnamente na construção de um longo trecho da rodovia Brasília-Acre.
A viagem de Brasília a Porto Velho, no velho Douglas C-47 presidencial foi tranquila, pouco mais de três horas. JK estava sentado na primeira cadeira, depois da cabine de comando, de frente para as demais poltronas. A seu lado, o chefe do Gabinete Civil, Oswaldo Penido. Na poltrona ao lado da sua, dona Sarah e, à frente, as filhas do presidente, Márcia e Maristela. A bordo, um naipe de jornalistas da pesada, e eu, no meio. Próximos ao presidente, empresários de diversas empreiteiras relacionadas com a obra.
Afinal, não era só a interligação da estrada ainda em terra batida. Havia o empresário paulista Sebastião Camargo, dono da Camargo Corrêa e responsável pela construção do campo de pouso de Vilhena, asfaltado pela empreiteira em 25 dias, conforme prometera ao presidente. Em Porto Velho, embarcou na aeronave o então governador do Território, coronel Paulo Nunes Leal. Mineiro, ele era coronel do Exército e lutou na Itália, durante a Segunda Grande Guerra Mundial. Simpático e bem falante, Paulo Nunes Leal rememorou aos jornalistas o diálogo que mantivera com JK, em fevereiro de 1960, durante reunião com governadores do Norte, em Brasília.
Desafiando o presidente, disse Paulo Nunes: “O senhor já ligou Brasília a Belém e a Porto Alegre, e está ligando a capital a Fortaleza. Por que o senhor não completa o outro braço da cruz construindo a rodovia Brasília-Acre?”. No seu jeitão mineiríssimo, Juscelino indagou: “Uai, Paulo, e pode?” No que ele respondeu: “Claro que sim, presidente. Mas é negócio para homem”. Abrindo um largo sorriso JK retrucou: “Se é negócio prá homem, então vai ser”.
Realmente, a abertura da então BR 29, que hoje é a BR-364, foi um novo desafio que o país hoje deve a JK. Tanto isso é reconhecido que, através da Lei 8.733, de 25 de novembro de 1993, o então presidente Itamar Franco deu a denominação de “Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira” à rodovia BR-364. Assim eu iniciava a minha fase de repórter presidencial.