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Nosso ego

Branca de Neve dá lição de moral sobre inveja

Publicado

Autor/Imagem:
Hellen Reis Mourão

Nesse texto pretendo dar um enfoque diferente. A análise do conto será focada na figura da madrasta, a Rainha Má. A história de Branca de Neve começa nos apresentando uma princesa que ao nascer perdeu sua mãe, e seu pai então se casa com uma nova mulher. Ao crescer, a beleza da menina desperta na Rainha inveja e motiva sua crueldade, a ponto de ela tentar cometer assassinato.

Os contos de fadas costumam apresentar de forma simbólica sentimentos comuns a toda humanidade. E em Branca de Neve temos um sentimento básico em evidência: A inveja.

A Rainha, madrasta de Branca de Neve, inveja a beleza da menina, pois não se conforma com o envelhecimento e com a perda do posto de mais bela.

Além disso, podemos ver na Branca de Neve, o desenvolvimento da psique feminina. Como ela pode evoluir e se desenvolver. A perda da juventude e da beleza nas mulheres, com o passar dos anos, é algo aterrorizante

O ego das mulheres até certa idade se estrutura em torno da beleza e sedução. Não entrarei no mérito da questão, nem dizer o que é certo ou errado, mas nosso inconsciente coletivo está pautado nessa estrutura – basta observar que a indústria de cosméticos, moda e tudo aquilo que se liga à beleza é voltada em sua maioria esmagadora para a mulher.

Com o passar dos anos e a consequente degradação do corpo, a mulher que se encontra no processo de individualização já deveria estar em contato com outros aspectos da psique, como o animus e o Self. E nesse processo de amadurecimento, o centro de sua psique deveria deixar de ser ego e passar a ser o Self, e essa identificação com a beleza diminuída.

Mas o que vemos atualmente em nossa sociedade é uma grande quantidade de mulheres, principalmente as ocidentais, onde a perda da juventude e da beleza é algo aterrorizante.

E esse é o drama da Rainha. Ela não possui um relacionamento com o inconsciente, estando completamente identificada com sua persona. Seu animus é quase inexistente, pois o marido é omisso na relação dela com a Branca de Neve, não exercendo a sua função de discernimento e reflexão.

Quantas mulheres atualmente em nossa sociedade, onde a imagem é privilegiada, não “assassinam” a sua própria criação em função de uma atitude unilateral? Elas cometem uma atrocidade com elas mesmas, fazendo da beleza e da juventude seus únicos atributos.

Mas a Rainha tem um caminho para o seu desenvolvimento, projetado em Branca de Neve. Através da princesa e sua jornada, a Rainha pode se desenvolver e sair da unilateralidade.

A Rainha então manda matar Branca de Neve, mas o caçador se compadece, salvando-a do destino trágico.

A figura do caçador que entrega à Rainha o coração de um veado, simboliza a figura do animus que começa a aparecer e a apresentar vestígios de reflexão e de proteção, mesmo sendo considerado apenas um simples servo.

Após esse episódio, Branca de Neve vai viver em uma casa com os sete anões. Onde passa a cuidar da casa para eles, lavando, limpando e cozinhando.

Nesse estágio, a princesa encontra o animus em sua forma múltipla. Ainda indiferenciado, e um tanto primitivo, mas que já apresenta um lado prestativo. E o mais importante, Branca de Neve se relaciona com ele, vive com ele e negocia com ele: Ela cuida dos anões em troca de proteção.

A Rainha descobrindo o paradeiro de Branca de Neve, tenta por três vezes matá-la. Na primeira vez ela amarra de uma forma violenta, uma fita ao redor da cintura da menina fazendo-a perder o fôlego, da segunda vez dá um pente envenenado a menina e na terceira vez ela da à menina a tão famosa maçã envenenada.

Nota-se que as duas primeiras tentativas de matar Branca de Neve estão associadas à vaidade e a terceira à sedução, pois a maçã na mitologia grega está associada a da deusa do amor, da beleza e da sedução, Afrodite. E ela sucumbe a todas as tentativas, sendo auxiliada nas duas primeiras pelos anões e adormecendo na terceira.

Ou seja, Branca de Neve e a Rainha devem amadurecer em relação à beleza e sedução, o que equivale a perder a ingenuidade e desenvolver a capacidade critica provinda de seu animus.

O desfecho é conhecido: um príncipe que andava pelas redondezas avistou o caixão de vidro feito pelos anões, ficando apaixonado. Ele leva o caixão para seu castelo. No caminho, a carruagem tropeça, e o pedaço de maçã que estava na garganta de Branca de Neve sai, e ela volta a respirar. O príncipe a pede em casamento, e convida para a festa a Rainha, que comparece, morrendo de inveja. Como castigo, ao sair do palácio, acabou tropeçando em um par de botas de ferro que estavam aquecidas. As botas fixaram-se na rainha e a obrigaram a dançar; ela dançou e dançou até, finalmente, cair morta.

Infelizmente a Rainha mantém sua atitude unilateral e não é transformada pela jornada da princesa, mantendo a inveja em relação a ela, que agora alcançou um desenvolvimento de sua personalidade e mantém um relacionamento com seu inconsciente, simbolizado pelo seu animus – príncipe. E a Rainha então encontra o destino de uma atitude radicalmente unilateral que é a morte.

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