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Mamonas assassinas

Brasil, 31.12. Brinde ao povo guerreiro que venceu o ódio

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Autor/Imagem:
Armando Cardoso* - Foto de Arquivo/ABr

Poucos brasileiros acreditaram quando, antes de ressuscitar, Jesus prometeu ao bom ladrão três perdões e três encarnações – talvez quatro – com aval popular. Após ressuscitar, Jesus jurou ao fariseu terrivelmente defensor dos evangélicos que sua vida política poderia até ser longa, mas inócua, ineficaz, insossa e inodora. Jesus colocou ambos no sol para secar. Um rachou com os primeiros raios solares. Apesar do pontificado oposicionista sem nexo, sem horizontes e sem raiz, o outro brotou, floresceu e evidentemente cresceu como uma das maiores autoridades do Brasil, muito maior do que aquele que viveu somente quatro anos para fazê-lo menor.

Tentou, tentou, tentou, mas sucumbiu antes de qualquer conquista mais ou menos. Desnecessárias as adjetivações que marcaram seu governo, na medida em que, naturalmente, ele se transformou na menor e na mais pendular autoridade que a história deste país já viu. O resto está na gaveta do ministro Alexandre de Moraes. Cria do suposto aliado Michel Temer, o que deu nó no pingo d’água de Dilma Vana Rousseff, Xandão é hoje o inimigo número 1, 2 e 3 da imoralidade das fake news, das revoltantes atrocidades no auge da pandemia, da verborragia insana do ex-insuficiente e da imbecilidade do fracassado golpe de 8 de janeiro. Tudo isso feito em nome da família e da moralidade.

Que moralidade, cara pálida? Que família, caros “patriotas”? Por isso, me dê uma única boa razão quem acha que Xandão não tem autoridade ou moral para pedir a condenação de quem fez muito mal à nação. Não valem escrúpulo, ética, honestidade, respeito, democracia e trabalho. Nenhum desses vocábulos cabe no arquivo morto do cidadão. No vivo, só a frase Lula ladrão. Aliás, na ausência de discurso melhor e mais apropriado ao genocídio de um passado bem recente, a expressão virou verbete no dicionário dos oposicionistas que, como no verso da música dos Mamomas Assassinas, mais parecem baratas tontas peladias em Santos.

Faço minhas as palavras de um brilhante texto de um autor desconhecido: “Mesmo tendo demonstrado verdadeiro apreço à democracia e à liberdade, fui chamado publicamente de petralha e de comunista”. Nem vinculação partidária eu tenho, mas recebia – e recebo – os adjetivos como brindes a quem sobreviveu à longa noite fascista que se instalou no Brasil na véspera do Ano Novo de 2019. Do convívio sadio com alguns, sobraram ameaças, ódios, injustiças, ironias, manipulações coordenadas e apelos idiotas para aderir ao golpismo articulado e estimulado por um falso mito.

Sobrevivi e hoje brindo às mentes que consegui desembaçar e até recuperar. Por isso, decidi encerrar o ano brindando àqueles que se indignaram com as mórbidas brincadeiras produzidas durante a pandemia de Covid, que se revoltaram com as tragédias ambientais, que se preocuparam com o afastamento do Brasil das mesas do mundo globalizado e que jamais perderam a fé em dias melhores, apesar da tentativa de nos enfiar goela abaixo cloroquinas, ivermectinas e tubaínas menos conhecidas para combater um mal desconhecido e que, só entre nós, gerou mais de 700 mil mortes.

Também brindo e condecoro simbolicamente a todos os brasileiros que, mesmo ameaçados, rotularam de estultos os que abriam os dedos das mãos para fazer o gesto de “arminha”. E os que nunca fizeram parte do convescote vespertino no cercadinho do Palácio da Alvorada? A esses, o meu profundo respeito. Um brinde especial aos verdadeiros patriotas que sobreviveram à gripezinha maldita do mito e tiveram coragem de mostrar ao mundo que Jesus estava certo ao dar pelo menos mais vida ao bom ladrão. Sem passado e sem presente, o futuro do outro está nas mãos da Justiça representada por Xandão. Oxalá a toga preta se transforme na capa do Demo.

*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

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