Celso Lungaretti
“Não me convidaram pra essa festa pobre//que os homens armaram pra me convencer//a pagar sem ver toda essa droga//que já vem malhada antes de eu nascer” (Brasil, Cazuza).
O que começa a transpirar da delação premiada da Odebrecht confirma que ela não deixará pedra sobre pedra na política brasileira.
Mas, exatamente a quem interessam, desta vez, os vazamentos alarmistas, quase apocalípticos? Óbvio ululante: aos mãos sujas, que querem deter a limpeza em curso.
Pois, quando o presidente da República e o governador do Estado mais poderoso têm suas cabeças colocadas sob a guilhotina, juntamente com parlamentares a granel, cria-se a comunhão de interesses necessária para uma solução crapulosa prosperar, com apoio amplo, geral e irrestrito dos podres Poderes, sob o pretexto de que a alternativa será o país mergulhar no caos e a economia ir definitivamente para o brejo.
E o Partido dos Trabalhadores? O PT fará discursos inflamados, nada mais, se incluírem no pacote uma boia para o Lula, que já deve estar com as malas prontas para a viagem a Curitiba.
Ele é a única esperança do partido para não ser estraçalhado em âmbito estadual e federal nas próximas eleições como já o foi em âmbito municipal nas últimas. Para livrá-lo da cana anunciada e tê-lo a postos como puxador de votos, o PT engolirá até o mais descomunal dos sapos.
E o Supremo Tribunal Federal? O jornalista Bernardo Mello Franco disse tudo (e eu assino embaixo):
“Até a semana passada, a hipótese de acordão parecia remota, já que exigiria a participação do Supremo. Depois do que a corte fez para salvar Renan, nada mais é impossível”.
E o rugido das ruas? Será bem menos possante, quase um miado, se o acordão nos for enfiado goela adentro enquanto a classe média estiver desmobilizada por ser período de férias escolares. Ninguém é de ferro.
Como o Cazuza pedia, o Brasil está mostrando a sua cara.
Sugere-se aos pais que retirem as crianças da sala, pois podem ter pesadelos…