Maior enfermidade do gênero humano, a ignorância é vizinha da maldade. Ela emburrece e imbeciliza cada vez mais os estultos. E entendam por estultos todos aqueles que insistem em se travestir de patriota para se manifestar contra o resultado das urnas, xingar o presidente eleito e seus eleitores e, principalmente, vaiar e destratar ministros do Supremo Tribunal Federal em viagem de representação do Brasil. Um povo que não respeita suas autoridades dentro e fora do país a quem respeitará? Mãe e pai? Duvido! Não é de espantar nem mesmo àqueles que vendem a alma em nome da riqueza. Infelizmente, é o exemplo de educação que temos dado ao mundo. Pouco importa que os magistrados do STF não sejam quem imaginamos. Como cidadãos supostamente respeitosos e conscientes, é nosso dever considerar e, mesmo contra a vontade, honrar a liturgia do cargo.
O ataque hostil de meia dúzia de beócios aos ministros Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Luíz Roberto Barroso, Cármen Lúcia, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski é o reflexo mais cristalino do nível de educação que parte do povo brasileiro alcançou ao longo desses quatro anos de desgoverno de Bolsonaro. O problema é que a vergonha produzida por esse grupo sem noção atinge toda a população, inclusive os mais de 60 milhões de eleitores que votaram para expurgar o presidente negacionista e absolutamente despreparado que os patriotas de araque defendem. O povo ordeiro, correto e da paz certamente não agiria como fora da lei. Prova inquestionável disso foi a eleição de 2018, quando Fernando Haddad perdeu para o mesmo Jair Messias. Haddad perdeu porque faltaram os votos que petistas arrependidos ou loucos por uma nova boquinha lhe tiraram.
Perdão pelo sincerídio, mas nada mais mandrake do que arrependimento de espertalhão. Sacanagens e facadas à parte, ninguém acusou ninguém pela derrota. Entenderam que, se houve culpa, ela deve ser creditada ao próprio partido que não soube – e não sabe – separar militantes de oportunistas. Esperaram dois longos pares de anos para virar o jogo. E viraram democraticamente. Embora seus seguidores mantenham o chororô de menino mijado, Bolsonaro perdeu nas quatro linhas. E para o jogo ganho não há retorno. Nem mesmo a força será capaz de alterar a vontade da metade mais um do povo brasileiro. A outra metade que aguarde 2026. Até lá, juntem os cacos e, caso o presidente derrotado reapareça, tentem alugar uma outra legenda para uma nova aventura. O 17 e o 22 não enganam mais.
Esta está perdida. E tenham certeza de que os ministros do STF nada têm a ver com a falta de votos do ex-mito, cujos grandes feitos foram cinco: partidarizar as Forças Armadas, contribuir para o isolamento mundial da Pátria Amada, apoiar o orçamento secreto para encher a ” burra” de deputados e senadores, negar um vírus que matou quase 680 mil brasileiros e gerar uma horda de seguidores que se acham superiores a todos, particularmente aos ministros do STF. Por conta de sua santificada administração, sentimentos caros ao povo – a alegria, a solidariedade e o amor ao próximo – deram lugar ao ódio, à estupidez, à discriminação e ao preconceito indiscriminados. Tudo dentro do script político da Terra Brasilis, na qual o costume é o mesmo há 522 anos: sem vilão não há história.
Talvez ainda levemos algumas semanas – ou meses – para que os sofredores patriotas se conscientizem de que rei norto é rei esquecido. Difícil, considerando que a patriotada pode ser avaliada como classe média na conta bancária, milionária na imaginação e pobretona na cultura, no discernimento e no senso crítico. Pobres coitados. Eles poderiam ser apenas cômicos, mas as últimas semanas me fizeram acreditar que são muito mais do que isso. Agem, rezam, choram, xingam e praguejam como seres com desenvolvimento mental e intelectual insuficientes. Estão bem próximos da tragicomédia, uma comédia trágica do bolsonarismo. Seus fanáticos apoiadores ferem o bom senso até daqueles desprovidos de alma.
Enquanto a desordem impera em frente aos quartéis transformados em sede do jus esperniands, Jair Bolsonaro permanece escondido, agindo primitivamente como um guri birrento que busca chegar ao pré-primário com ajuda do corpo discente das escolas. E Lula? É o irmãozinho querido de todos os que participam da COP 27, onde estão os papas do mundo, inclusive dos Estados Unidos e da China. É pouco? São as diferenças entre os que odeiam e os que amam. Por tudo isso, nada me impede de ratificar o que disse no início desta narrativa. Realmente a ignorância é a mãe de todas as doenças.