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Brasil, como além-mar, tem rei fraco que faz fraca a forte gente

Vem de longe a ajuda dos grandes clássicos da literatura no enquadramento do mundo. Eles são sempre auxílio decisivo para que as coisas sejam percebidas exatamente como são. Em os Lusíadas, Luís de Camões retrata D. Fernando como “o brando, o remisso, o inconsciente e sem cuidado algum”. Li sobre outros, mas esse monarca caracteriza exatamente o que vivemos no Brasil de hoje. Inquestionavelmente, o exercício do poder reflete o que as pessoas são. De reis fracos, hesitantes e caricatos, tivemos alguns exemplos em nossa história. Dom Fernando I bem que poderia ser confundido com um homônimo brasileiro, cuja caricatura como presidente virou cartaz de borracharia de periferia em tempo recorde.

Apelidado de O Formoso, o Fernando em questão foi o nono rei de Portugal e Algarve de 1367 até sua morte, em outubro de 1383. Último filho de Pedro I (não o nosso) e Constança Manuel, não era chegado à governança. Tinha obsessão pelas frivolidades. Para ele, a vida da Corte era um tédio que se aliviava com perseguições a fidalgas, lebres e pombos. Enquanto líder da terra de Cabral, mostrou uma faceta bastante eloquente dos dirigentes medíocres e fracos. Texto publicado por Pedro de Azevedo retrata um documento do século XVI, transcrito do texto “Auto d’uma posse do Castelo de Noudar e inventário do que lá existia no século XVI”.

No tal escrito, em vez de apresentar soluções para os problemas surgidos, o prefeito de Noudar fazia um relato catastrófico do que o antecessor supostamente lhe legara. Infelizmente, séculos depois, quaisquer paralelos com nossa realidade não são mera coincidência. Temos o mito e temos os fatos. E fatos fardadamente cabeludos. Consultando antigos e contemporâneos historiadores, acredito que vem daí a análise poética e absurdamente realista de Camões. Para o autor da epopeia nacionalista denominada os Lusíadas, a fraqueza dos reis, dos congressistas que só se dão bem e dos presidentes que nada resolvem, que se perdem em desculpas e propagandas pessoais e que se enrolam cada vez mais em loucas e estapafúrdias ameaças, é que fazem fraca sua forte gente.

Baseado no classicismo do dramaturgo lusófano, está claro que a força do gestor é que garante a reputação da organização que comanda. Não importa aconselhamentos de CEOs travestidos de cabos, sargentos ou generais, se ele (o gestor) não souber enfrentar situações de conflito interno e externo. Um bom gerente está sempre bem informado – nunca desinformado – acerca da real situação vivida pela empresa e sobre o ambiente onde ela está inserida. Normalmente essas informações são usadas para tomada de decisões que conduzem a companhia para o porto seguro mais próximo. Afirmam os historiadores, com os quais concordo, que os que pensam – e agem – assim são líderes, transcendem sua área de atuação e frequentemente são convidados a aceitar novos desafios e a replicar seu modelo de governo.

Impressionante, mas 442 anos após a morte de Luís de Camões tenho a nítida impressão de que Dom Fernando I reencarnou no Brasil do século XXI. Na verdade, no século XX, mas foi neste século que ele resolveu nos amedrontar com sua fraqueza. Força mesmo só ao lado dos generais e dos tanques. Camões bem que poderia ser um daqueles arretados poetas baianos de nossos tempos. Talvez um repentista do sertão da Paraíba, de Pernambuco, do Ceará ou das Alagoas. Quem sabe o poeta urbano das comunidades cariocas ou paulistas. Tanto faz. Onde aportasse agora, ele certamente repetiria o verso de advertência da fraqueza humana. Não há dúvida de que “que um fraco rei faz fraca sua forte gente”.

O problema, caríssimo Camões, é vós não ter tido oportunidade de mostrar à sua excelência que governança pífia é sinônimo de colapso econômico, seguido de inflação galopante, desemprego, fome e desastre social. Os portugueses de então viraram a chave e se deram bem. E nós? Vamos esperar o Brasil virar poeira? Insistir em personagens ocultos como Fernando português e Fernando alagoano (?) é apostar no caos. Mais uma desastrosa administração e viraremos fumaça. Aí sim descobriremos quem é que inferniza o país.

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