Entrevista/Edna Domenica Merola
Brasil, continente também na literatura, se destaca com escritores coletivos

O Brasil não é um país continental apenas quando se fala de sua dimensão territorial. É, também, um celeiro de criatividade que vem pelas mãos e mentes de contistas, cronistas, poetas e romancistas. Há entre esses uma grande massa de independentes. E nesse grupo, aqueles que escrevem coletivamente. É o caso de Edna Domenica Merola, que tive a grata satisfação de entrevista. Conheça um pouco sobre ela e sobre o processo de criação coletiva, no bate-papo a seguir:
Fale um pouco sobre você e sua trajetória literária.
Comecei a publicar em 2001. Meu primeiro livro foi sobre técnicas de Psicodrama aplicadas a oficinas de escrita criativa. Em 2010, publiquei 2 livros: um com textos curtos em prosa e outro de poemas. Em 2012, um de crônicas. Em 2014 e 2017 voltei a escrever sobre aspectos teóricos do ensino/aprendizagem da escrita criativa. Em 2022, organizei duas coletâneas de textos curtos de vários autores. Em 2024, outro livro solo em prosa: a narrativa de um período temporal que vai de janeiro de 2016 a janeiro de 2023. A narrativa tem vários capítulos nos gêneros: crônica, teatro, poema, conto.
O que a inspira a escrever? Como é o seu processo criativo?
O que me impulsiona é a interação com outros escritores e escritoras.
Há alguma preferência por temas ou gêneros?
Os temas sociais e os existenciais me mobilizam.
Texto coletivo não é algo tão comum entre os escritores. Como é lidar com outros escritores? Você se frustra ao se deparar com lidar com outros escritores os caminhos diversos que seus colegas tomam em relação ao texto?
Lidar com outros escritores é como a superação do “patinho feio”, é “voltar para casa”. Os caminhos diversos que meus colegas tomam em relação ao texto são sempre desafios: uns mais gratificantes, outros menos.
Como você controla o ego de escritor ao trabalhar com outros autores? Há uma disputa interna ou você consegue levar isso numa boa?
Como os grupos demandam um papel de coordenação, eu acabo assumindo esse papel. Nesse exercício, procuro evocar o lado mais desenvolvido do outro e pedir para que a pessoa lidere naquele particular. Com o tempo, as pessoas passam a ter mais confiança e “baixar a guarda”. E por tabela, isso também me ajuda a deixar minhas energias circularem normalmente e gerar felicidade.
Como você lida com as críticas ao seu trabalho?
Procuro valorizar o resultado do trabalho conjunto, ou seja, o texto que traz as marcas autorais de cada participante e de mostrar que o texto conjunto cria uma egrégora, uma instância com força criativa: um grito de rebeldia a esses tempos de Inteligência Artificial.
Como você se relaciona com seus leitores?
O Café Literário do Notibras faculta que alguns textos que escrevo sejam lidos quase que imediatamente após a escrita. Então evita aquela sensação de nascimento de “bebê azul” ou de “narciso desencantado”. O texto curto em mídia digital é uma experiência diferente da publicação de um livro solo impresso e também de participação como autora numa coletânea. Todos esses esforços compensam a dedicação à escrita que é uma constante – quase uma sina.
Há alguma pergunta que não fiz e você deseja responder?
Qual o papel que o grupo desempenha na existência de indivíduos que teimam em continuar escrevendo, à revelia da sociedade organizada em bolhas e redes e comandada por Big Techs? Para mim o grupo ajuda a lidar com os medos que nos afetam num mundo que se volta cada vez mais para a retirada das liberdades individuais e coletivas.
