Notibras

Brasil da polarização só avançará quando todo político se der as mãos

Provérbio popular com inspiração bíblica, a frase “diga-me com quem andas e eu te direi que és”, de autoria desconhecida, serve atualmente para dividir e, às vezes, excluir as pessoas que supostamente sofrem influências de companhias ou do ambiente em que vivem. Na política, ela é usada para definir os ajuntamentos ou parcerias que devemos acompanhar ou evitar. Antes de prosseguir, devo lembrar que somente aos fracos de caráter, de consciência e de objetivos é permitido substituir boas atitudes, comportamentos e pensamentos por fanatismo, falso patriotismo ou por determinações ideológicas de ocasião.

É sabido que, em um mundo heterogêneo e complexo, nem sempre será possível a construção de consensos sobre todos os temas. No entanto, sabidamente o respeito, princípio de tudo, faz com que as diferenças entre as pessoas não sejam motivo de discussões destrutivas, tampouco de julgamentos intempestivos. Aprender a conviver com os antagônicos é a grande expressão da riqueza humana. Mesmo que não concorde com as opiniões alheias, aceitá-las sem criticá-las é o primeiro sinal de que você está evoluindo socialmente.

No jargão mais popular, poderia dizer que convidar o adversário para a festa é admitir a diversidade. Sei que é demais, mas o ideal seria tirá-lo para dançar, o que os filósofos chamam de inclusão. Disse tudo isso apenas para lembrar que, sem prudência e moderação, o melhor a fazer é ficar calado. Assim como as ações decorrentes dele, o pensamento individual e coletivo deve permanecer livre. É assim em qualquer democracia consolidada, inclusive na dos Estados Unidos, da qual Donald Trump quer se apropriar para impor seus instintos selvagens, expansionistas, divisionistas e covardes.

Quase foi assim no Brasil recente. Não foi por mero acaso. Não tenho direito de criticar conceito ideológico contrário ao meu. Todavia, tenho a obrigação de exigir respeito às minhas manifestações, independentemente de que elas sejam de defesa ou de empoderamento de correntes partidárias ou de pessoas distintas. Desde minha intromissão na política, em meados dos anos 60, convivo com a direita. Fora o longo período mais extremado da ditadura, jamais desejei o desaparecimento desse conceito ideológico, muito menos o fim físico de qualquer um de seus representantes, aos quais só denomino de direitões quando eles publicamente defendem o golpismo.

Como todos de Notibras, não sou e nunca fui comunista, mas, sem rispidez, grosseria ou ódio, permaneço contrário a todos que se coloquem como antidemocratas. Por isso, somente por isso, sou taxado de esquerdopata. Que seja. E por que não posso ser? E por que sou obrigado a respeitar os extremistas e suas ideias maluquetes? Valho-me da reciprocidade para lembrá-los do efeito bumerangue da política. Faz pouco tempo, um ladrão voltou e roubou a cena criada sobre um palco imaginário pelo defensor público da honestidade. Quem sabe o honesto não “rouba” o que lhe “roubaram”. Para isso, basta que mostre à sociedade que a mentira é a verdade que não deu certo.

Como sempre digo, não tenho vinculação, simpatia ou identificação partidária à esquerda, mas tenho tudo a favor da democracia, o maior bem da humanidade. Também insisto na tese de que minha posição de crítico da soberba de um segmento político não me impõe a necessidade de santificar o segmento que mente para esconder uma verdade obscura. Acima de quaisquer conceitos filosóficos, doutrinários, fisiológicos e ideológicos, sou um democrata. Eis a razão pela qual não tolero os que gratuitamente se insurgem contra as liberdades do povo. De uma vez por todas, direita e esquerda precisam saber até onde um presidente da República pode ir. Eles podem tudo, desde que trabalhem pelo país, não ameacem a liberdade dos outros e respeitem o direito dos outros. Aí talvez tenhamos um Brasil verdadeiramente de todos.

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*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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