Sem o brilho e o glamour de décadas anteriores, lideranças de várias correntes religiosas optaram pela oportunidade convergente e sapecaram para o mundo que 2021 será um ano melhor. Como leigos, não devemos duvidar do que dizem os papas, principalmente porque não desejamos confusão com os astros, com o além, com o intelecto, muito menos com a cabeça (des)pensante da maioria. Entretanto, não podemos nos negar uma pergunta. Será melhor para quem? Ainda que não queiramos confusões, todos temos muitas dúvidas técnicas, econômicas, políticas e até emocionais sobre o que nos espera. Mesmo contra desejos pérfidos, poucos têm dúvidas de que até os soberbos sofrerão percalços nesses 300 e poucos dias que ainda nos restam do ano que sucedeu o pior que os da geração acima de 60 viveu em dois séculos presente nesse mundão.
Não somos tão velhos assim, mas cuidamos dos nossos interesses desde meados dos anos 50. Nossa preocupação é o Brasil. Por isso, respondendo em parte à primeira indagação, podemos começar por questionar a economia. Obviamente que direita ou esquerda – em qualquer tempo – teria estendido as mãos aos que não têm renda e pago o auxílio emergencial. Ocorre que – parece que poucos ficaram sabendo -, muitos dos que receberam dispunham de recursos de sobra. E ficará por isso mesmo. O país está no buraco, mas a ficha só não cai para o governo positivista do tenente Jair Bolsonaro (capitão após a reserva) e do macroeconomista e ex-banqueiro Paulo Roberto Nunes Guedes. Como resolver a questão em situações de cofres vazios? As saídas são limitadas: ou imprimimos dinheiro ou criamos e aumentamos impostos.
Já adivinharam a solução? Aumentar impostos, é claro. Imprimir dinheiro só não gera inflação para os Estados Unidos, que fazem isso com relativa frequência e repassam o ônus para os tupiniquins que idolatram o dólar. Por isso, são ricos, mercenários e adoram os pobres que teimam em viver dolarizados. É simples assim. É uma questão de criatividade. Portanto, aguardemos os IPTU, IPVA, INSS, Imposto de Renda, água, luz, além das contas do supermercado, escolas, farmácias e similares. Pouco ou quase nada nos sobrará. Resta sonhar e esperar dias melhores na política.
Dinheirocracia – Pouco provável. Assistindo à posse dos prefeitos no primeiro dia de 2021, levamos um susto com o discurso do democrata Eduardo Paes, que substituiu o dinheirocrata Marcelo Crivella. Paes jurou que sua principal proposta será o combate à corrupção no Rio de Janeiro. De imediato, ocorreu sua visceral ligação com o ex-presidente Lula, ex-preso de Curitiba, e com o ex-governador Sérgio Cabral, recolhido ao Complexo Penitenciário de Bangu. Não imaginamos tratar-se do mesmo Eduardo Paes. Reflexão de alguns segundos e a maioria optou pela máxima do “in dubio pro reo”, muito utilizada por magistrados que não querem ler o processo, naturalmente para não correr o risco de ter de julgá-lo. Enfim, na dúvida preferimos o silêncio e desligamos a TV, antes que gritássemos feito loucos desvairados “Fora Globo Lixo”.
Homem sem H – Voltamos para o futebol e a idolatria dos bons jogadores. Novo susto. Na virada do ano, um dos grandes ídolos do esporte bretão no Brasil deve ter feito muita gente perder a calma, o senso e, por pouco, não se surpreender com a mão na cintura e próximo de soltar um gritinho de horror. Fantasiado de papel alumínio, um provável ex-ídolo sexual de muitos participava de uma festinha particular, regada a parças. Olhando detidamente as fotos que circularam pelas redes sociais ninguém sério conseguiu vislumbrar a presença de nenhuma dessas mocinhas recatadas que buscam esse tipo de regabofe para ascender socialmente, ainda que a dobradiça tenha de ser trocada dia sim, dia não. Era Clube do Bolinha. Preocupante, mas entendível que a fartura de dinheiro permite esses rebuliços mentais e físicos.
Lembrando Roriz – Então, o que restou? Torcer pela positividade do presidente Jair Bolsonaro. Não esqueçamos que ele deve esse mandato à maioria daqueles que, como milhões de eleitores, abominaram os feitos e efeitos do recente governo proletário, socialista, trabalhista ou sabemos lá o que. Desafetos mentais de extremos, esses brasileiros aprenderam em alguns livros sérios e após várias décadas de vida que a direita sem nexo simpatiza com vassalos (substantivo masculino destinado àqueles que, no feudalismo, eram obrigados a se submeter às ordens ou aos tributos do soberano) e que o socialismo não empresta nada a ninguém. Só tira. Na prática, como fez o ex-governador Joaquim Roriz durante muitos anos no Distrito Federal, doa o que não é seu para seguidores capazes de perpetuá-lo no poder. Mandaram por quase 20 anos. Como em um verso do samba enredo de 1971 da Escola de Samba Unidos de Padre Miguel, “e o resultado foi aquilo que se viu..”
Gripe sacana – Dispostos a aceitar tudo que seu mestre mandar, vale recorrer ao item que mais incomodou o povo ávido por paz e saúde em 2020: a sacana gripezinha que já matou quase 200 mil pessoas e não poupou presidente, ministros, parlamentares, jogadores de futebol, artistas e endinheirados. Negada pelos fundamentalistas que batem ponto Palácio da Alvorada, o coronavírus paralisou o país, gerou ainda mais pobreza e continua mantando. Por isso, quando o assunto é covid-19 naturalmente opto pelos cientistas e médicos especializados. O pior é que chegamos a 2021 sem saber como comprar seringas. O que dizer das vacinas, ideologizadas por governos que deveriam estar preocupados apenas em salvar vidas e nunca banalizá-las.
Seringueira dá seringa? Com nossa mania de fulanizar los hermanos do Rio da Prata, somos obrigados a lembrar que até os argentinos saíram na frente. Nós? Nem seringas. Isso porque uma grande “poetisa” do fim de 2020 afirmou que o Brasil era o único país do mundo a dispor de seringueiras, a árvore que produz seringas. Pode parecer macabro – e é -, mas a tardia batalha contra o vírus da morte será a grande moeda política do velho novo ano. Quem vai faturar com a vacina? Certamente não serão os quase 220 milhões de potenciais sujeitos à infecção. Os que mantêm conscientemente algum entendimento político imaginam que a necessidade de hoje é evitar a recorrência dos leigos no poder e fugir do risco de elegermos novos caçadores de borboletas. Errar é humano, mas podemos evitá-lo. Se não morrermos antes por falta da coitadinha da vacina, que tal começarmos a planejar 2022.
Ah, De Gaulle – Temos de ter consciência de que o Brasil do início da primeira década dos anos 20 precisa ser diferente. Temos de combater o reality show de 2020, satanismo político e encontrar alguém que preste. Discursos vazios, divisões, despreparos, sandices, fundamentalismos e roubalheiras não nos serviram e não nos servirão de nada. Somos ricos de tudo, inclusive de espírito. Então, nada mais salutar do que pensarmos nos que ainda virão. Se não trabalharmos para expurgar da política brasileira malfeitores, foras da lei e estrupiados, jamais conseguiremos desdizer Charles de Gaulle. Por enquanto, seguimos a suavidade dos versos de Dida e Dedé da Portela, autores do samba Peço a Deus, imortalizado por Mestre Marçal. ” Peço a Deus um mundo cheio de paz…Peço a Deus pra sermos todos iguais…Peço a Deus que se propague a bondade… Peço a Deus amor e prosperidade”.
*Mathuzalém Junior, novo colaborador de Notibras, é jornalista profissional desde 1978