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Coisa de políticos...

Brasil de 50% de pecadores e 50% de crimes, é país da ironia

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Mathuzalém Júnior* - Foto de Arquivo

Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revelam que o número de presos no país se aproxima de 1 milhão. São exatas 919,393 pessoas privadas de liberdade, ou seja, a terceira maior população carcerária do mundo. Talvez os números sejam oficiosos, mas, de qualquer maneira, é triste atestar que a maioria dos presos é jovem, negra e de baixa escolaridade. Mais triste ainda é descobrir que algumas pessoas no corredor da morte poderiam não estar ali se os tribunais não tivessem sido lenientes com eles quando eram réus primários. Por inércia dos legisladores e conveniência de quem as aplica, as leis brasileiras, aliadas à facilidade recursal, contribuem com a degeneração do homem. Ao mesmo tempo, a “calmaria” da legislação altera valores sociais e transforma seres humanos em animais sem rédeas e sem compaixão.

O discurso da educação contra o crime já virou mantra em desuso. Também não colam mais as promessas contra a seca do Nordeste, juras de melhorias para o sistema nacional de saúde, controle de habitações em regiões perigosas e ações de combate à criminalidade nas grandes cidades. São tão estapafúrdias que me permite afirmar que a política é a arte de mentir tão mal que só pode ser desmentida por outros políticos. É o papel deles. Afinal, a função do político é dar esperança ao povo, de modo que o povo fique esperando para ser vilipendiado, esculhambado e abandonado. Uma pena, mas o problema não são os nossos políticos, mas a ignorância que tomou conta do povo.

Embora sejam sonoramente inaudíveis para os surdos, desagradáveis para os eleitores menos desinteligentes e terríveis para os cabos eleitorais que “vendem” seus candidatos como cidadãos de boa cepa, a discurseira sem nexo só é menos bizarra do que a mistura do piseiro com a música sertaneja. Acostumado a ouvir esses “louvores” terrivelmente desonestos, imagino que eles só devem fazer bem a duas pessoas: quem os escreve e quem os lê. Ambos têm certeza de que o produto final é uma obra prima, daquelas capazes de levar qualquer ouvinte a uma viagem sem volta e o candidato à máxima confiança: “Si consagrei com essa mentirada”. Nada de anormal, considerando que, na política, mais vale uma cueca grande do que um discurso coerente.

E as cuecas e o tamanho delas transcendem ideologias. Se me dão licença, idolatria política é algo inerente aos idiotas úteis. Azar de quem elege alguém como representante do centro, da direita ou da esquerda. Pobre de nós. Um dia ainda teremos consciência de que na Câmara, no Senado, nas assembleias legislativas e nas câmaras municipais cada um fica de um lado. O povo e o país é que ficam de fora. De tudo o que já foi dito sobre a política e sobre os políticos, não me canso de repetir que, de todas as coisas negativas na política, os políticos são a pior. Por isso, me arrisco a estranhar como alguns escolhem o crime quando há tantas maneiras legais de ser desonesto.

Uma das maiores ironias da vida nacional, o político brasileiro é capaz de, a cada quatro anos, pregar uma coisa e fazer outra. Em 2026, ajudarei meus candidatos proporcionais a pensarem no trabalho: não votarei mais neles. É o mínimo que posso fazer para que eles se convençam de que o voto é mais forte do que a bala. É a mesma bala que novamente me remete à multidão presidiária. Depósitos fétidos de mortos vivos, zonas de esquecimento marcadas pela convivência forçada, as penitenciárias não regeneram ninguém. Disso todos já sabemos. Em verdade, devido ao aglomerado de facções, elas hoje são “quarteis do crime”. Um dado que assusta à sociedade, mas não incomoda os políticos, revela que, entre as 50 cidades com maior índice de homicídios do mundo, 14 estão no Brasil.

Retrato triste das médias e grandes cidades do país, a bandidagem ocupou os espaços que deveriam ser ocupados pelo Estado. A olho nu, a criminalidade assumiu o comando de uma população que só é vista com alguma importância pelo Poder Público quando chega o dia de votar. Para os cidadãos de bem, está provado que, se não fosse o crime, a Polícia e segmentos afins do Estado morreriam de fome. Resumindo, o criminoso é quem garante o pagamento dos homi. Em outras palavras, um preso gera mais emprego do que a Petrobras e qualquer multinacional, juntas. Se não acreditam, ouçam o sambista Dicró, para quem “É um polícia para prender, um delegado para autuar, um promotor para fazer a caveira, o juiz para condenar, um carcereiro para tomar conta, um advogado para soltar e um jornalista para divulgar”. Então, como ser feliz se 50% é pecado e 50% é crime. Como disse o impoluto cidadão Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, “estamos todos no inferno”. Se sobreviver, voltarei ao assunto.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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