Negócio da China
Brasil de poderes partidarizados dificulta saber quem manda
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emNo Brasil de Arthur Lira, Rodrigo Pacheco, Valdemar Costa Neto, Eduardo Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e das forças que se opõem aos interesses nacionais, o jacaré tem de nadar de costas. No país do faz de conta, todos os dias um desses espertos e um dos numerosos otários saem às ruas e, de repente, se encontram. Aí rende negócios da China. Quando não é um relógio, a carteira ou o tênis de última geração, é a dignidade ou o voto de cabresto. Nesse caso, um vota e o outro é eleito. Adivinhem de quem será a vantagem? Desnecessário responder. O dia a dia é a resposta. Na pátria armada vale desde alguém se valer de um defunto para receber um empréstimo até manipular “patriotas” desenxabidos para golpear governos eleitos democraticamente.
Reza a lenda que aquele que se acha esperto é o mais otário da história. Em se tratando de Brasil, essa teoria, além de ineficaz, é vascaínamente pendular. Em outras palavras, pode ser aplicada em contos da carochinha e quadrinhos infantis, mas jamais para definir políticos ou quem com eles se envolvem. A maior esperteza dos espertos pagos com dinheiro público é, como disse o filósofo e filólogo alemão Friedrich Nietzsche, dividir a cada legislatura os otários em duas categorias distintas: instrumentos e inimigos. E isso eles fazem com a maestria dos sábios.
Segundo o mesmo Nietzsche, o político trabalha com a tese de que aquilo “que serve de alimento e de bálsamo para um tipo superior de homem deve ser quase veneno para um tipo bem mais diverso e inferior”. A meu ver, a inferioridade desenhada pelo alemão se refere àqueles que, por razões múltiplas, se deixam manipular. São os que preferem os políticos de estimação aos que têm disposição para trabalhar pelo todo. Faço parte da mesma sociedade. Entretanto, sem me julgar superior ou inferior, tenho meu próprio pressuposto: sou daqueles que querem saber, embora não faça julgamentos vulgares dos que só querem acreditar.
Nos dias de hoje, vivemos uma situação política pra lá de interessante. Acho estranho e inusitado o fato de os três poderes do Brasil terem se tornado partidários. Não é o melhor dos caminhos. Pelo contrário. Fica difícil saber quem manda. Vem daí a regra da loucura político-religiosa nos grupos, nos partidos, nos povos e nos colegiados. Seria a loucura da época? Talvez. Nos eventuais contatos com pessoas que se maquiam de autoridades, o uso do cinismo como a forma mais eloquente de convencer as almas torpes a tocarem levemente no que conhecemos por sinceridade. Ainda não consegui, mas me fortaleci a tal ponto que já consigo avaliar a política como uma praga com a qual não devemos nos meter.
De acordo com os pensadores, não há fórmula mágica para catequizar políticos ruins, pastores evangélicos ou eleitores capacitados para receberem a alcunha de gado. Aliás, da tenebrosa cruza de política com religião é que nascem as pessoas mais perigosas da humanidade. São os tais que pensam estar sempre acima do bem e do mal. Representam a própria maldade humana, pois não aceitam sequer lampejos de contrariedade. Também se incluem nesse perfil os tolos que matam e morrem a pedido de seus aliciadores. Sem medo de me arrepender, adiro à tese de que, ao mesmo tempo, a política é o ato de prezar pelos interesses da população e a infame arte de enganar a população para atender interesses próprios.
No cenário atual, sob o comando absoluto do Centrão, é difícil imaginar um futuro digno, de liberdade e de oportunidades concretas para os nacionais. Estamos presos a uma polarização política idiota e que expressa claramente a falência do sistema político brasileiro. Libertário por definição, entendo que a riqueza da democracia é a criação de quantas vias forem necessárias. Mesmo sem saber onde irá chegar, o Centrão abandonou de vez o debate sobre as mazelas. Capitaneados pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), por Elon Musk e pelas lideranças do beligerante bolsonarismo, seus integrantes estão concentrados em duas propostas inegociáveis: acabar com Alexandre de Moraes e golpear Luiz Inácio. O projeto do grupo é bem claro: deixar um osso para a oposição roer e algumas bananas podres para diversão do gado. São os espertos do Brasil.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978