E assim caminha a humanidade, quero dizer, o Brasil. Preocupados ou cientes do risco da reeleição, bolsonaristas que exalam golpismo pelas narinas anunciam aos quatro ventos que, caso vença a eleição de outubro, Luiz Inácio não tomará posse. Claro que não é difícil descrever a preocupação dos milhões de antibolsonaristas que também temem a melancolia do ostracismo político-ideológico, mas adianto uma indagação feita há meses pelas torcidas do Flamengo e do Corinthians: Quem irá impedir? O Putin dos trópicos? Certamente ele tentará, mas, para conseguir êxito, terá de combinar com os russos.
Tarefa complicada, considerando que os camaradas de vermelho estão assoberbados na busca de justificativas para explicar a invasão maquiavélica e até rocambolesca da Ucrânia. E não adianta agradar o tirano das neves divulgando, via rede do cercadinho, que o Brasil ignora o sofrimento do povo ucraniano. O grande problema do Brasil é que parte do eleitorado está ocupada demais com o ego inflado do Bozo ou com a necessidade de amenizar a letargia administrativa do país. Tão ocupada que não tem tempo de perceber
Melhor seria que estivessem torcendo pela democracia ou pelo voto como única forma de decidir a vitória de um ou de outro postulante à Presidência. Seria. No entanto, como animais chucros ou indivíduos que não têm treino, especialização ou habilidade no desempenho de determinadas tarefas, expressiva parcela dos brasileiros sensibilizados pela histeria do golpismo prefere se convencer, por meio de falseamentos ilógicos, de que, melhor do que a compreensão, a lei e a ordem, é a implantação da Lei de Talião, antigo sistema de penas pelo qual o autor de um delito devia sofrer castigo igual ao dano por ele causado.
Absurda não fosse a principal argumentação dos seguidores de um dos presidenciáveis. Talvez ainda consigam aprender que o Brasil e o mundo só terão jeito quando os dirigentes e a população do planeta entenderem que não se corrigem erros cometendo erros piores. Criado pelo Código de Hamurabi, o primitivo código de leis da história da humanidade, a Lei de Talião vigorou na Mesopotâmia, quando Hamurabi governou o primeiro império babilônico, entre 1792 e 1750 a.C. Era o chamado olho por olho, dente por dente.
No Brasil de hoje, infelizmente, ainda convivemos com pessoas que gostariam de incorporar o espírito de Hamurabi. Uma pena. Talvez seja esse o conflito entre o bem e o mal. Os bons entendem – e respeitam – o posicionamento daqueles que torcem pelo retorno dessa prática. Entretanto, a certeza é no sentido de que esse não é o desejo da maioria do povo brasileiro. Na verdade, não deveria ser desejo de ninguém. Por isso, faço minhas as palavras de Mahatma Gandhi: “Quem não vive para servir, não serve para viver”. Em síntese, o país dos mitos está entre o império de Hamurabi e a sensatez de Gandhi. Pior de tudo é perceber que, nos dias de hoje, o mais atroz das pessoas más é o silêncio das pessoas boas.