Sem nada o que fazer de bom para passar o tempo sem sofrimento ou ressentimentos, nesse domingo (11) resolvi assistir a takes da 27ª Parada do Orgulho LGBT+. Antes que pensem alguma besteira a meu respeito, fixei os olhos na TV inicialmente porque não era a 24ª. edição da manifestação multicolorida. Depois, porque nada tenho contra os que desfilavam fogosamente pela Avenida Paulista, um dos cartões postais da cidade de São Paulo. Entre a multidão, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, fez um discurso ortopedicamente corporativo, embora tenha dito o que a maioria dos brasileiros gostaria de dizer, entre eles eu.
“Orgulho de ser quem somos, das batalhas que vencemos, de todas as pessoas que estão aqui porque estão vivas, apesar de um mundo que as massacra”. Discordo da generalização, mas, independentemente do que somos, temos de ter orgulho de quem somos. E ponto final. Para quem, como eu, não é do ramo, entendo que houve alguns exageros simbólicos, os quais prefiro definir como semânticos. Nada que ofendesse minha honra, tampouco minha definição como macho alfa. Todavia, sem preocupação alguma, não me senti representado pelo agrupamento estimado em 3 milhões de pessoas. Exageros à parte, entendo que a manifestação é a melhor forma desse pessoal dizer que existe.
E o apelo estava embutido no tema da Parada, relacionado à luta pela garantia de direitos para a população LGBTQIAP+. Uma pena, mas, em pleno século XXI, parece que as diferenças ainda incomodam muita gente. É impressionante, pois vivemos uma época revigorante, evolutiva e cada vez mais liberal. Hoje, os cães farejam drogas, os tubarões farejam sangue e o ser humano não consegue sentir o cheiro do próprio suvaco. Somos obrigados a conviver com servidores públicos com renda média superior a R$ 30 mil criticando seus polpudos salários. Ganham muito, produzem pouco e nada sabem sobre a pátria que fazem questão de não conhecer. Por isso, reitero que a situação do Brasil pode ser definida em algarismos romanos: VIXI.
Voltando às cores do arco íris, mesmo aaadddoooorando o que vi, o único momento em que me achei configurado naquele magote de gente foi quando ocorreu a “retomada” da Bandeira do Brasil, simbolicamente na posse dos patriotas enrustidos desde a suástica do imbrochável (?) Jair Bolsonaro. Não me meto nessas dúvidas de brochuras, mas não tenho nenhuma suspeição para afirmar que o Messias e o pastor e deputado Marco Feliciano (PL-SP) se fixaram em frente à TV durante toda a Parada, a qual (desculpem o trocadilho) assistiram de cabo a rabo. A respeito dos exageros, apenas fiquei assustado com alguns dos mais variados, desvairados e estrogonóficos discursos.
Por exemplo, descobri durante a fala da coordenadora do evento, Leonora Mendes de Lima, mais conhecida por Léo Áquila, que não faço parte do Brasil em que ela vive. Para a multidão ensandecida, envaidecida e colorida, a moça (e não me importa que não seja) gritou que “o Brasil é preto, é viado, é sapatão, é lésbica, é travesti, é bissexual, o Brasil é nosso”. Eita!!! Como quase chefe dos Paleolíticos Trogloditas, grupo que se esconde sob as capas de botijões de gás, onde eu me incluo? Deixa pra lá. Sou intolerante apenas à lactose. Portanto, faço minhas as palavras daqueles que dizem que a intolerância irracional de muitos justifica a hipocrisia ou a dissimulação de alguns. E, via de regra, o povo dissimulado prefere esconderijos mais conservadores, algo como um armário sob medida.
Para estes, diria que o medo é a arma dos fracos, do mesmo modo que a bravura é o porrete dos fortes. Escritor, filósofo e político dos anos 1800, Mariano José Pereira da Fonseca, o Marquês de Maricá, costumava dizer que “não somos sempre o que queremos, mas o que as circunstâncias nos permitem ser”. Pelo sim, pelo não, parto do pressuposto de que há certos passatempos e prazeres que censuramos nos outros mais por inveja do que por virtude. O resumo da ópera é que uns nascem para cantar, alguns para dançar e outros simplesmente para serem outros. Sinceramente, às vezes canto, às vezes danço, levanto, ando, corro, jogo, me jogo, grito, choro, conto, desconto, somo, divido, multiplico, faço, desfaço e até disfarço. Sem qualquer tipo de preconceito, só não consigo sentar. Entretanto, fecho com todos que acham que o Brasil é todos que admiram o arco íris.