Presidente do Brasil desde o primeiro dia de 2023, Luiz Inácio já mudou a cara do Brasil, mas, por razões diversas, ainda não deslanchou para aqueles eleitores mais imediatistas. A necessidade de se dedicar a temas pontuais, mas complicados, tiraram Lula de alguns afazeres urgentes, entre eles a reconstrução nacional, a estabilidade econômica, a retomada do crescimento do país, a redução da pobreza e da desigualdade social e a melhoria dos serviços de educação e saúde. Nessa quadra em que vivemos e após quatro anos de desordem absoluta, nada é mais importante do que a consolidação da democracia, ameaçada desde a ascensão do tenente golpista. Portanto, se é que está havendo, o atraso pode e deve ser creditado à herança maldita do governo do mito.
Voluntária ou involuntariamente, a tentativa de levante do dia 8 de janeiro e o genocídio do povo Yanomami monopolizaram a administração. Óbvio que o Brasil e os brasileiros têm pressa. No entanto, açodamento é sinônimo de destrambelhamento. Pelo menos 60,3 milhões de brasileiros têm certeza de que Lula está buscando acertar. Sabem também que, ocorra o que ocorrer, o país jamais voltará ao lodaçal da era Bolsonaro. O caminho é tortuoso, mas esperamos todos que Luiz Inácio pense realmente em cuidar das coisas das nação de forma que os objetivo sejam convergentes e capazes de solucionar, a curto prazo, os numerosos e insolúveis problemas da sociedade, com destaque para a falta de empregos.
Particularmente, acho apenas que não é hora de pressionar quem, circunstancialmente, esteve até pouco tempo em lado oposto. Refiro-me ao presidente do autônomo Banco Central, Roberto Campos Neto. Por questões ligadas ao aumento dos juros, Lula está centrando fogo no BC, cujo mandatário tem mandato até dezembro de 2024 e não pode ser demitido ad nutum. Uma eventual demissão precisa passar pelo crivo do Conselho Monetário Nacional (CMN) e ser avalizada pelo Senado Federal. Ou seja, não é tão fácil como parece. Vale ressaltar que responsabilizar Jair Messias e a autoridade monetária pela alta dos juros não adianta nada. Qualquer menino de quinta série sabe que são eles (os juros) que seguram a inflação. Como Lula adiantou que não quer mudar coisa alguma no BC, reitero o achismo quanto a correção do caminho escolhido pelo presidente agora dono das rédeas.
Em seu terceiro mandato presidencial, ele é do métier e tem consciência de que macaco velho não mete a mão em cumbuca. Mais importante é o entendimento de que a ocasião não requer polêmicas. Pelo contrário. Quem sabe faz a hora. O momento é de revisar o passado recente. E, queiram ou não as viúvas do bolsonarismo, isso está sendo feito. Lula está mudando o cenário das comunidades indígenas, destruídas por anos e anos de garimpo ilegal com a conivência do governo federal de ontem. Não há necessidade de se reescrever a história. Ela será naturalmente escrita por esta e pelas futuras gerações. Só cegos, fanáticos e oportunistas não viram o que o povo viveu e sofreu depois de 2018.
Não tenho recibo ou promissória para tecer loas a Lula e a seu governo. No entanto, seria leviano e injusto se não admitisse que, em pouco mais de um mês sob nova direção, o Brasil não tivesse novamente despertado para o futuro. Foi mais rápido do que imaginaram os terroristas que, em vão, vandalizaram as sedes dos três poderes da República. A prova do recomeço é o encontro desta sexta (10) entre Lula e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Lembremos que fazia quatro anos que um líder brasileiro não adentrava a Casa Branca para um cafezinho pago por Tio Sam. Irrelevante para as Porcinas do regime miliciano do mito, a reunião certamente marcará a volta definitiva do Brasil à mesa dos poderosos.
Não imagino o que Lula e Biden dirão sobre Bolsonaro e seu mentor Donald Trump. Todavia, posso adiantar que os eventuais adjetivos serão da cintura para baixo. Entre os assuntos, não deverão faltar meio ambiente e luta contra a perversa extrema-direita de lá e de cá. Quanto aos bolsonaristas, que deverão ficar pregados à Globo Lixo para ouvir o recado de Luiz Inácio, resta o consolo de que até os mais fortes fracassam. Trump que o diga. Sobre a pressa dos imediatistas, registre-se que, além de garantir vida àqueles que haviam perdido a esperança, mais importante de tudo é o fortalecimento da democracia. O resto vem ou vai à reboque. Sem medo de errar, diria aos que têm pressa: muita calma nessa hora. O Brasil é nosso e o governo está apenas começando.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978