O ano começou com más notícias que fazem o coração disparar. As inundações da Bahia, que atingiram 850 mil pessoas, provocaram 26 mortes e deixaram mais de 80 mil sem casa, foram seguidas por chuvas pesadas em Tocantins, Maranhão, Goiás e Minas Gerais, onde também se viu mais lama, mais uma vez pelo transbordamento de uma barragem, além do deslizamento de terra que provocou a destruição de dois prédios históricos em Ouro Preto.
Enquanto o Brasil sofria, Bolsonaro passeava de jet ski, se internava por razões obscuras, e persistia com sua campanha criminosa contra a vacinação – desta vez tendo como alvo as crianças, que são prioridade na proteção social, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente. Fake news sobre a vacina, disseminadas por bolsonaristas e seus apóstolos, e a exposição de epidemiologistas favoráveis à proteção dos mais jovens pela deputada Bia Kicis estão entre os expedientes sujos adotados pela horda do ódio e da ignorância.
Um espetáculo de horror desnecessário em um país já assombrado por desastres ambientais – o mais recente é a onda de calor e estiagem no Sul – e que enfrenta mais um pico de Covid com a rápida disseminação da variante Ômicron, ainda com um apagão parcial nas estatísticas do Ministério da Saúde.
Mas, como diz o ditado português, não há mal que sempre dure: epidemiologistas dizem que será esse o último ano da pandemia. No momento em que escrevo, 1,2 milhão de doses de Pfizer chegam ao aeroporto de Guarulhos para vacinar crianças, de acordo com os grupos prioritários. Um alento que, infelizmente, veio tarde demais para proteger a comunidade escolar na volta às aulas, o que pode consagrar o Brasil como um dos recordistas na morte de crianças para o coronavírus, como alertou a Sociedade Brasileira de Pediatria na semana passada.
Do front político as notícias também são progressivamente melhores, com a clara rejeição de Bolsonaro por 66% da população, e a disparada de Lula à frente nas pesquisas eleitorais. E essa não é apenas uma opinião política: remover Bolsonaro é uma questão humanitária e democrática (vide relatório da Human Rights Watch) e Lula parece ser o único candidato viável na disputa. Principalmente se conseguir manter a aliança com Geraldo Alckmin, o que para mim seria uma “vacina” contra a antipatia de boa parte dos veículos de imprensa em relação ao candidato do PT. De falsa equivalência e vieses editoriais estamos fartos.
O milagre mais difícil nesse momento parece ser mesmo o econômico e o ambiental, intrinsecamente ligados às tragédias que presenciamos. Se ainda não há consenso sobre as causas iniciais da pandemia, e não se sabe exatamente o peso que tem as mudanças climáticas nas enchentes e secas, o certo é que a mistura de desmatamento e desigualdade já elegeu suas principais vítimas: as populações mais pobres e desassistidas que dependem mais diretamente da natureza para viver – seja da agricultura familiar, como indígenas e quilombolas, seja os que vivem às margens do rio nas favelas de Itabuna. Serão elas também as principais vítimas dos eventos extremos que prometem se multiplicar e se intensificar com a progressão do aquecimento global que, no Brasil, tem no desmatamento e na agropecuária seu principal motor.
Um novo governo em 2023 terá que ir muito além do Bolsa Família para recuperar o Brasil. Também terá que fazer mais do que reconstruir as políticas ambientais destruídas por Bolsonaro. Não há futuro sem a inclusão da questão do clima nas prioridades nacionais. Nem desigualdade que minore sem que o fator social caminhe lado a lado com as estratégias ambientais. É esse debate que temos que provocar nas campanhas eleitorais.
Se 2018 foi o ano de voltar ao passado, que 2022 nos leve enfim ao futuro.