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Brasil em chamas, e bombeiro só mira a urna

Aos olhos do mundo, o tenente Jair Bolsonaro – capitão para os bajuladores – é uma cópia mal ajambrada e esfarrapada do magnata amarelão Donald Trump. Presidente dos Estados Unidos por um único mandato, Trump, para quem não se lembra, é aquele que gritou, esperneou, xingou, ameaçou, quase implodiu o Congresso norte-americano, ficou ainda mais vermelho de raiva, mas, no fim e ao cabo, morreu na praia. Aliás, como ocorre com todos os que se acham superiores às leis, às normas, às pessoas e às instituições. No Brasil, uma nação de quase 200 anos de independência, não será diferente.

A diferença é que Trump ainda pode escolher entre as praias do Atlântico e do Pacífico. Aqui, talvez a escolha seja menos clássica e mais coerente com a história do protagonista. Quem sabe o Piscinão de Ramos. O fato é que o Brasil de hoje não foge aos olhos do governo dos Estados Unidos e dos membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Organização das Nações Unidas (ONU). Claro que, ainda que haja o golpe anunciado há três anos, haverá de parte dos EUA e dessas entidades respeito à nossa soberania. Entretanto, seremos oficial e solenemente escanteados do mundo moderno. Teremos de ficar à reboque dos camaradas tiranos Vladimir Putin e Viktor Orbán, respectivamente presidentes da Rússia e da Hungria.

Aí, finalmente estaremos de mãos dadas com o comunismo que o mito brasileiro diz querer combater. No melhor dos cenários, caminharemos rapidamente para a venezuelização do Brasil, inferno terrestre para o qual Bolsonaro e seus seguidores fundamentalistas juraram de pés juntos que Luiz Inácio iria nos levar. Antes de reafirmar que o peixe realmente morre pela boca, mais uma vez lembro do que escrevi há dias. São as tais incoerências do governo de um presidente que consegue ser incoerente até mesmo nos devaneios mais primitivos.

Em outras palavras, é sonhar governando, mas agir como se estivesse fornicando o povo. Para quem sabe ler, um pingo é letra. Para sorte dos brasileiros, tudo indica que a cantiga de grilo contra o sistema eleitoral brasileiro tem dia e hora marcados para terminar. Como ocorreu com Trump, mentor “intelectual” e político do mito, a toada deverá ser encerrada no dia 1º de janeiro de 2023, quando, após a execução do Hino Nacional e os devidos e salamaleques de praxe, Lula da Silva ou qualquer outro candidato melhor apresentável, for empossado oficialmente presidente da República.

Na verdade, tudo estará sacramentado quando um deles receber a faixa presidencial das mãos do cabo e do soldado que, preferindo não invadir o Supremo Tribunal Federal, optaram por continuar habitando uma nação mais palatável. Por falar em incoerências, como explicar a tara do mandatário brasileiro e de seus empedernidos seguidores com a urna eletrônica? Que mal ela lhe fez, além de, desavisadamente, elegê-lo sete vezes deputado federal e uma vez presidente da República?

Realmente o raciocínio lógico desse governo é dos mais incoerentes: a Floresta Amazônica literalmente pegando fogo, o povo desempregado, a fome matando novos e velhos, a bandidagem tomando conta das ruas, dos rios e até de nossas casas e a única preocupação são as urnas, cuja única fraude é não ter sido criada com voz para responder a seus críticos sem causa com uma pergunta e um pedido: “Por qué no te callas?” e Por que não governas?

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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