A revelação da postura do ex-ministro do GSI, Gonçalves Dias, deixou o governo atordoado e nas cordas, provocando a primeira saída de um auxiliar direto e com significativo histórico de proximidade pessoal e profissional com o próprio presidente Lula.
A primeira consequência foi a instalação da CPMI dos Atos Antidemocráticos ou CPI do 8 de Janeiro, como preferirem, após a base do Governo jogar a toalha e passar a enaltecer o papel da Comissão.
Apesar do esforço de alguns de emplacarem essa narrativa, não há Governo que aprecie a instalação de uma CPI, ainda mais no início dos trabalhos. Curioso é que deputados da base governista estavam contrariados no dia anterior com a pressão recebida pelo Palácio do Planalto para a retirada de nomes. Inclusive sendo revelada a estratégia para que o colegiado pudesse ser enterrado.
A reboque vieram a instalação de mais três CPIs, sendo que todas elas para funcionarem na Câmara dos Deputados. São as do MST, de manipulação de resultados em partidas de futebol, e, a das Lojas Americanas. Será muito trabalho para os líderes do Governo no Congresso.
O Planalto deu a impressão de preferir mais atenção aos espinhos do que às flores. Traduzindo, deixou a agenda política de lado e se concentrou em questões periféricas, ao invés das prioridades anunciadas até pouco tempo atrás. Haja visto que a reação do poder liberal ao anúncio dos detalhes do arcabouço fiscal, elevando o dólar para o patamar superior a cinco reais, não durou muito tempo nas manchetes da mídia.
Ou seja, por ação ou omissão do Governo Federal, experimentamos a volta ao passado, quando o ex-chefe do executivo usava polêmicas de toda a ordem como subterfúgios para não tratar de assuntos mais relevantes na vida da sociedade. Agora a pergunta que vem circulando nos bastidores do Congresso Nacional é se Lula vai inaugurar um novo perfil ou reviverá o esperado estratégico e ousado Lula de outros tempos.
Assim, vinha crescendo dentro do setor produtivo uma bolsa de apostas sobre o tempo que o Governo continuará com essa conduta, e principalmente a indagação do setor produtivo é quando o cenário entornará. Particularmente, aprendi ao longo de muitos anos que o Governo precisa governar e não ser governado.
Todavia, essa semana em termos de agenda política foi de pequenas conquistas e de sinais pontuais de retomada do comando da pauta. O Planalto conseguiu equilibrar o discurso em relação aos atos antidemocráticos e soube dar visibilidade ao depoimento do ex-presidente Bolsonaro na Polícia Federal, além de explorar novas e controversas declarações da ex-primeira-dama Michelle.
Com esse novo fôlego, os liderados de Lula fizeram um bom acordo para votação da urgência do PL das Fake News; de brinde, vislumbraram uma fissura na oposição e na base de Arthur Lira, quando houve desentendimento explícito sobre o acordo firmado anteriormente irritando bastante o Presidente da Câmara. A base palaciana avançou e conseguiu aprovar uma Medida Provisória que atende a classe artística, a quem tanto Lula se apoiou na campanha passada, e ainda teve o bônus de incluir nas MPs temas que estavam ainda em negociação, e tiveram um desfecho facilitado.
E desde sua chegada da viagem a Portugal e Espanha, celebrando mais acordos internacionais, Lula passou a distribuir afagos e boas notícias. Começou um dia antes com a aprovação do Projeto de Lei do Congresso Nacional que destinou recursos para a implementação do piso salarial da enfermagem, pauta que foi muito cara para o Governo anterior, que depois de seguidas derrotas não conseguiu atender a categoria.
Em seguida, outro fato significativo e de elevado potencial, e que passou despercebido por parte da mídia, foi a reunião que o ministro da Agricultura realizou uma espécie de consultoria formada por 11 ex-ministros da área. Dentro desse tema, ainda tivemos a defesa realizada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, de que o Agro não é o responsável pelo desmatamento.
Vale ressaltar o fato desse evento político ter sido na mesma semana da instalação da CPI do MST, conforme lembrado acima.
Entretanto, como nem tudo são flores, um dos maiores eventos do agronegócio nacional, o Agroshow teve a indelicadeza de desconvidar o ministro da Agricultura para a abertura do evento, priorizando a presença do ex-presidente Bolsonaro. De imediato, teve o patrocínio e presenças estatais vetadas. Outras consequências devemos observar nos próximos dias.
E para coroar a redenção no cenário político, anunciou-se, na véspera do início do feriadão proporcionado pelo Dia do Trabalho, o aumento da isenção da tabela do Imposto de Renda, medida que beneficiará mais de 13 milhões de pessoas, além do aumento real para os servidores públicos do executivo federal, que estavam há mais de 6 anos sem reajuste. Lula cumpre, assim, mesmo que parcialmente, promessas de campanha. Até porque, outros assuntos dependem de mexidas no Orçamento aprovado no ano passado. Mas os que desacreditavam desses gestos, andam colocando as barbas de molho..
Não custa lembrar que a reverberação do Poder Executivo sempre foi a necessidade de se voltar às pautas econômicas. Registre-se, portanto, o aumento do salário-mínimo, já antecipado, mas que será anunciado com pompas por Lula na festa do 1º de Maio. Como se vê, o Governo terá muito o que comemorar no seu primeiro Dia do Trabalho do terceiro mandato de Lula.
São promessas de campanha que estão sendo cumpridas, atendendo a população mais necessitada. Não se pode garantir que com esses gestos a picanha e a cerveja estão voltando para a mesa do povo, mas certamente embasarão um outro ânimo para o Governo continuar sua saga.
No mais, não podemos deixar de registrar, sem picardia alguma, que o aumento salarial dos servidores públicos federais, pelo menos em Brasília, beneficiará também aqueles que tanto torceram o nariz para o presidente Lula. Mas isso é papo para outros colegas conhecedores bem mais a fundo do tema..