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Incêndios politizados

Brasil pega fogo e povo finge não ver que está vendo

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Autor/Imagem:
Sonja Tavares - Foto Reprodução/ABr

Depois de décadas de uma pendenga com a Itália para saber quem é o dono da oitava economia do mundo e após perder o status de potência do futebol, o Brasil finalmente galgou esta semana o primeiro lugar em alguma coisa. Afirmações daqui, controvérsias dali e suposições dacolá, expressivo grupo de especialistas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) atesta que hoje somos o país mais quente do planeta. Dúvidas à parte, o consenso é que em setembro não terá refresco. De acordo com diferentes medidores, pelo menos até a metade do mês os brasileiros conviverão com temperaturas variando entre 40º.C e 45º.C.

Naturalmente propício para as queimadas, o período prolongado de calor excessivo em vários estados pode ser um convite para que tenhamos mais lucidez no trato com o meio ambiente. Tudo bem que a maior parte do território nacional esteja situada na Zona Tropical da Terra, caracterizada pela maior incidência de calor atípico. Entretanto, não podemos empurrar para debaixo do tapete as principais causas do aquecimento global no Brasil, com destaque para as queimadas, a atividade agropecuária sem norma e as emissões de poluentes no meio urbano.

O clima quente acima da média também tem sido observado nas disputas municipais, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, cidades onde só é proibido dedadas na Faixa de Gaza e facadas no baixo ventre ou nas partes pudendas. O resto vale. Mas o que tem a ver a política do fogaréu com o Brasil pegando fogo? Tudo. Enquanto eles se matam em nome do poder, o Pantanal e a Amazônia estão em chamas. A consequência é que os rios locais e seus afluentes estão secando. Resumindo, não há ninguém preocupado com o caos que se desenha. Muito pelo contrário.

Nas brigas pelo poder municipal, setores da extrema-direita cobram mais atitude da gestão atual. Já apoiadores do presidente instalado no Planalto insinuam que, além de criminosos, os incêndios foram provocados de forma orquestrada. E nós? Como somos apenas um detalhe, no fim acabaremos no banco dos réus como os grandes culpados pelo fumacê. Na disputa e do sujo com o maltrapilho, somos obrigados a dançar conforme a música. Aliás é a própria música que indaga sobre o tempo que o homem vai fingir não ver o que está vendo.

A verdade é que uns fingem que governaram ou que que governam, a maioria finge que legisla, líderes políticos fingem preocupação, ruralistas fingem que não têm culpa e nós fingimos que está tudo bem. O Brasil está em chamas, mas todos, com o jeitinho que nos é peculiar, esperamos sentados que alguém desenhe explicitamente o tamanho da crise em que estamos metidos. Nada disso é novo. Não à toa, política e meteorologicamente, 2023 foi o ano mais quente da história do Brasil e do mundo. Além da coroação do rei Charles III no Reino Unido e da eleição de Javier Milei, a guerra entre Israel e o Hamas deixou o planeta em estado de tensão. O Brasil de 2023 ficou marcado pela posse de Luiz Inácio como o 39º. presidente da nação, pela morte do rei Pelé e por inundações no Rio de Janeiro, no Norte e no Nordeste.

Nada, porém, foi tão relevante como a tentativa de golpe no de 8 de janeiro, data em que o povo assistiu estarrecido ao vandalismo do grupo derrotado na eleição presidencial. Só para avivar a memória, no calor máximo da imbecilidade, “patriotas” destruíram parte das sedes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Por enquanto, em 2024 o fogo só ardeu nas pradarias e nas padarias. Este ano praticamente não tivemos inverno, o que significa que ainda não esfriou a celeuma entre Brasil e Itália. Com a quentura exagerada, o que se espera é que, antes de politizar os incêndios, o homem brasileiro travestido de autoridade esquente os ouvidos pelo menos uma vez para tentar ouvir os lamentos do povo. Que este 7 de Setembro cubra o céu do Brasil com a fumaça da paz.

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