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Rixa dos vizinhos

Brasil perde espaço regional ao apoiar Londres contra Argentina

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Michal Santiago/Via Pátria Latina - Foto Divulgação

Como anda o jogo político envolvendo o Brasil, a Argentina e a Inglaterra, tendo como meta as Malvinas? Paulo Niccoli Ramirez, cientista político e professor da ESPM-SP, dá uma aula sobre o assunto.

Ele começa lembrando que no dia 8 de fevereiro, o Brasil defendeu a decisão de permitir que aviões militares britânicos que estejam voando para as ilhas Malvinas parem em aeroportos brasileiros.

O Itamaraty, em nota, disse que, embora apoie as reivindicações de soberania da Argentina sobre as ilhas, esse apoio não afeta sua “importante parceria” com o Reino Unido.

Para o professor Paulo Niccoli, o auxílio do Brasil ao Reino Unido se deve ao fato de o presidente argentino, Alberto Fernández, promover uma série de discursos e falas elogiando o ex-presidente Lula, além de o argentino representar a guinada da esquerda na América Latina.

“O Bolsonaro, precavendo-se dessa ascensão da esquerda no Brasil, resolveu se opor ao Alberto Fernández […] que vem fazendo críticas ao governo Bolsonaro”, explicou.

Além disso, o especialista fala que, desta forma, o governo brasileiro busca responder às ações do presidente argentino através de uma maneira diplomática, “tocando em uma das principais feridas da Argentina” que são as ilhas Malvinas.

Para o Brasil é importante manter as boas relações com os britânicos, devido a uma série de investimentos internacionais e por uma relação de dependência que o Brasil tem com as grandes potências econômicas, sejam os EUA ou a Inglaterra.

O professor também destaca que há uma grande semelhança na forma de governar entre Bolsonaro e Boris Johnson.
“O Bolsonaro também tem buscado diante de um vácuo de apoio que existe […] tentando uma política de boa diplomacia para favorecer certas atividades militares dos britânicos. Assim ele, diplomaticamente, age de alguma forma provocando os argentinos, que têm uma tendência mais à esquerda com o Alberto Fernández […]”, explicou.

Falando sobre o que o Brasil tem feito para manter boas relações com a Argentina, o professor afirma que é preciso analisar a relação entre os países a partir de dois momentos.

Primeiro o momento em que a Argentina era liderada por Mauricio Macri, que era um apoiador de Bolsonaro e representante da ala liberal e conservadora, fazendo com que na primeira fase do governo Bolsonaro houvesse algumas relações com a Argentina.

Contudo, após o processo eleitoral no país, o Alberto Fernández, que é mais próximo da esquerda, chegou ao poder, resultando na deterioração das relações com o governo brasileiro, esfriando as relações comerciais com o Mercosul, evitando, inclusive, que o bloco fechasse um acordo com os países europeus.

“O Brasil perdeu muito a força nas articulações com os blocos econômicos, sejam os BRICS, seja o Mercosul, e isso fez com que o país rompesse com a política petista de mais independência e articulação do governo federal com outras nações, e agora o governo Bolsonaro retorna a uma política mais submissa do Itamaraty em relação aos EUA”, declarou.

A rixa entre os dois presidentes representa uma ruptura entre os governos de ambos os países, prejudicando o fortalecimento das relações econômicas, políticas e sociais.

Prejudicando, inclusive, o setor automotivo, quando em 2021 diversas empresas abandonaram o Brasil, enquanto a Argentina manteve a sua indústria, mostrando a falta de uma articulação entre os dois países.

“Há uma redução com o governo Bolsonaro da escala de parcerias, não só do Brasil com a Argentina, mas com o Mercosul como um todo […] a política de Bolsonaro é uma política de submissão aos interesses norte-americanos […]”, explicou o professor.

A ação do Bolsonaro tenta provocar os argentinos através de uma ação diplomática apoiando o Reino Unido, mostra que o país está muito mais próximo do conservadorismo, o que naturalmente provoca um distanciamento muito forte criado com os governos da América Latina.

O Brasil hoje tem um governo do isolacionismo e um governo que foi isolado pelas grandes potências mundiais, com o Bolsonaro sendo atacado por governos e meios de comunicação estrangeiros, inclusive sendo motivo de piada internacional.

Com isso, Bolsonaro procura cada vez mais se aproximar de um conservadorismo ainda maior, e a aproximação com a Inglaterra se deve a isso.

“O fato é que estas artimanhas bolsonaristas que privilegiaram os militares, o Exército, as Forças Armadas do Reino Unido, acabaram por criar um incômodo diplomático, que certamente os argentinos deverão responder com outras provocações, sobretudo durante a eleição, quando o Alberto Fernández deverá declarar o apoio do governo argentino à eleição do Lula”, afirmou o professor Paulo Niccoli Ramirez.

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