O desemprego no Brasil deve sofrer uma queda “significativa” pela primeira vez desde 2014. A constatação é da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que, nesta segunda-feira, 22, apresenta suas novas projeções para o mercado de trabalho no mundo. De um total de 13,4 milhões de desempregados em 2017 no País, o número será reduzido para 12,5 milhões de pessoas em 2018 e 12 milhões no ano que vem.
Em números absolutos, a queda do desemprego no Brasil é a maior do mundo. Mas os dados revelam também que um número cada vez maior de brasileiros atua em empregos vulneráveis, com limitadas garantias trabalhistas. Além disso, a redução continua a deixar a economia brasileira com uma taxa de desempregados duas vezes maior que a média mundial e dos emergentes.
De uma taxa de 12,9% de desemprego em 2017, o índice deve cair para 11,9% em 2018. Para 2019, a taxa ainda registraria uma nova redução, para 11,2%.
A melhoria no caso brasileiro está ligada diretamente ao desemprego da economia nacional. Usando ainda dados desatualizados, a OIT aponta para a expansão do PIB nacional de 0,7% em 2017 e um crescimento de pelo menos 1,5% em 2018. No Banco Central, pesquisa feita com analistas do mercado financeiro mostra que a taxa pode ser de 2,70%.
Respondendo ao Estado, o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, admite que os dados brasileiros mostram que “a direção é boa”. “Mas o caminho é ainda muito longo. Não estamos ainda onde queremos estar”, disse. “As taxas de desemprego no Brasil ainda são altas demais”, insistiu. Para ele, voltar às taxas de 2014 de 6,7 milhões de desempregados “levará mais tempo do que as pessoas desejam”.
Ryder também deixou claro que, nos próximos dois anos, as incertezas sobre o Brasil também podem pesar de forma negativa. “O Brasil tem desafios como a reforma trabalhista e questões políticas. As incertezas que rondam essas questões podem gerar um impacto na recuperação do País. Queremos um Brasil forte”, disse.
Segundo ele, a OIT tem olhado “de forma cuidadosa” para a proposta de reforma trabalhista no Brasil e alerta que, nas próximas semanas, os órgãos da entidade internacional irão dar sua opinião formal sobre a queixa que sindicatos fizeram contra as medidas sugeridas pelo governo. “Isso está sob consideração”, disse.
Os dados brasileiros de criação de postos de trabalho também são acompanhados por um número cada vez maior de pessoas no País atuando em empregos vulneráveis. Em 2016, existiam 25,1 milhões de brasileiros nessa situação. Em 2019, eles serão 26,2 milhões.
Recuperação – No mundo, a taxa de desemprego registrou uma estabilização em 2017, ainda que a vulnerabilidade de milhões de trabalhadores também aumentou e os empregos não tenham a mesma qualidade ou renda. Depois de uma alta em 2016, o desemprego no mundo ficou em 5,6% em 2017, com 192 milhões de pessoas afetadas. Para 2018, a taxa deve registrar uma pequena melhoria, com 5,5%.
Se a queda de 2018 se confirmar, o ano será o primeiro a registrar uma taxa de desemprego inferior a de 2008, quando a quebra do Lehman Brothers jogou a economia mundial em sua pior crise em sete décadas. “O ano de 2018 é um ponto de virada, com taxas de desemprego caindo para 5,5%”, apontou a OIT.
Parte da estabilização do emprego se da por conta do maior crescimento da economia mundial, com uma taxa de 3,6% em 2017, 0,2% acima do que se projetava inicialmente. O ano passado foi, de fato, o primeiro a ver um resultado melhor do que a projeção, pela primeira vez desde 2010. Nos países ricos, a expansão do PIB de 1,6% em 2016 foi elevada para 2,1% em 2017. Para 2018, a projeção é de um crescimento da economia mundial de 3,7%, com um novo fortalecimento em 2019.
Para o Fórum Econômico de Davos, nesta semana, Ryder irá levar aos líderes internacionais uma mensagem clara. “Sim, a economia está crescendo. Mas os níveis do desemprego são muito elevados e a questão de distribuição precisa ser avaliada”, insistiu. “A crise que começou em 2008 teve um impacto profundo”, disse, apontando para o desafio da desigualdade social.
Nos países ricos, os dados revelam que a crise financeira que eclodiu em 2008 causou um impacto durante toda uma década. Agora, com uma recuperação econômica clara, a previsão nas economias desenvolvidas é de que, finalmente, as taxas de desemprego estarão no menor nível desde 2007, com 5,5%.
Na América do Norte, a previsão é de 4,5%, enquanto a Europa deve registrar 8,5%, a menor taxa desde 2008, quando eclodiu a crise econômica mundial. Espanha, com 15%, e Grécia, com 19%, continuam sendo os índices mais altos de todo o continente.
Se os países ricos entram no sexto ano consecutivo de queda de desemprego, os emergentes vivem uma situação diferente. Entre 2014 e 2017, o que se registrou uma alta na taxa, causada pela queda nos preços de commodities e seus efeitos no Brasil e Rússia.
Contribuiu o fato de que Brasil e Rússia terem superado suas recessões, permitindo que os emergentes tivessem um crescimento médio de suas economias de 4,9%. Na prática, porém, o desemprego nos emergentes aumentará em 400 mil pessoas em 2018 e 1,2 milhão em 2019.
Pobreza – Um dos desafios, porém, se refere ainda à renda daqueles que tem trabalho. Segundo a OIT, 300 milhões de pessoas ainda ganham menos de US$ 1,90 por dia. A taxa vem sofrendo uma queda e representa hoje 11,2% dos trabalhadores em países emergentes. Se a conta incluir aqueles que ganham apenas US$ 3,10 por dia, esses trabalhadores somam 700 milhões de pessoas.
O que preocupa a OIT é que o ritmo de melhoria da situação dessas pessoas foi freado e que não há um avanço real desde 2012. Para 2018, um a cada três trabalhadores em países emergentes continua a viver na extrema pobreza. “Ainda que o desemprego global se estabilizou, os deficits no mercado de trabalho continuam generalizados”, disse Ryder. “A economia global ainda não está criando empregos em números suficientes e medidas precisam ser implementadas para que a pobreza entre os trabalhadores seja reduzida”, afirmou.
Em termos de empregos vulneráveis, eles atingem 1,4 bilhão de pessoas. Nos países emergentes, essa realidade atinge 75% dos trabalhadores. Até 2019, mais 35 milhões de pessoas também serão afetadas.