Mundo sem papa
Brasil prepara lista sui generis de substitutos de Francisco na papança

Dia ensolarado de folga, de Nossa Senhora Aparecida, aniversário de 65 anos de Brasília e véspera de jogo do Flamengo. Ingredientes convergentes para um belo dia de lazer defronte ao Lago Paranoá, ainda que imaginando o infinito e as loucas belezas de Copacabana. Tudo a ver não fosse a partida de Jorge Mario Bergoglio, o seu, o meu, o nosso papa Francisco. Com a velha mania de repórter 24 horas por dia, não posso me calar diante da tristeza pela partida de homem simples, sereno, polêmico, latino e de palavra fácil.
Pop como poucos, Francisco talvez seja o primeiro argentino adorado pelo menos por dois terços do povo mais católico do planeta. O outro terço (o que nunca pega em terços) ama de paixão um outro hermano, o cabeludo Javier Milei, o amigo dos principais inimigos dos terços maiores. A menos que tenha mudado e eu não alcancei a informação, esse mesmo terço odeia tudo que diga respeito à Igreja Católica, notadamente as imagens dos santos que seus líderes usam somente quando precisam construir novos templos, montar suntuosos estúdios de TV e financiar manifestações contra a democracia.
Papa sem papadas, Francisco, Chico para os progressistas, também é autor de uma infinidade de frases lindas, reflexivas, abrangentes e, principalmente, fáceis de chegar ao coração de “patriotas” empedernidos, de esquerdopatas sonhadores, de mitos deslumbrados com o poder, de salvadores da pátria quase sem pátria e até de argentinos obrigados a idolatrar o mala do Milei. Em uma das citações mais eloquentes, Bergoglio lembrou aos mais de 7 bilhões de habitantes da Terra que “Apenas os que dialogam podem construir pontes e vínculos”.
É claro que a expressão nada tem a ver com o ex-governador Ademar de Barros ou com o ex-prefeito Paulo Maluf, astros do tal do bordão rouba, mas faz. Para quem não lembra, Maluf era tarado por pontes e viadutos. Na verdade, a mensagem do papa objetiva mostrar aos católicos e não católicos que ninguém vence sozinho no campo, na política, no futebol ou na vida. Uma pena, mas hoje, feriado nacional, o Brasil, a Argentina e o mundo pararam para ouvir a pior notícia do dia. Até 2013, ano da chegada de Francisco, não torcíamos por nada ligado aos portenhos.
Guardadas algumas marcas de vinho, os alforjes e as mãos de Dios do grande herbívoro Diego Armando Maradona, o papa Bergoglio foi a melhor exceção. Que Deus o tenha e que o próximo conclave espalhe pela chaminé da Capela Sistina menos fumaça preta. Que a fumaça branca eleve um nome que agregue e não estrague o que ainda existe de bom no mundo vermelho de vergonha pela atuação de broncos do tipo Donald Trump, Elon Musk, Vladimir Putin, Benjamin Netanyahu e Neymar Junior. O assunto é sério, mas, no Brasil, a tristeza pela partida de Francisco só não foi maior porque faz algum tempo que o tal terço vem preparando o pastor Silas Malafaia para a papança.
Pule de dez ou de 22, que já foi 17, o mestre da desavença, do dízimo e da rica bajulação àquele que foi sem nunca ter sido tem concorrentes menos expressivos, entre eles Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva, Filipe Luís, Renato Gaúcho, Abel Ferreira e Wesley Safadão. A lista sui generis deve ser enviada em breve para Roma. Eu não voto, mas simbolicamente vou emitir sinais de fumaça na direção do Supremo Tribunal Federal, onde Alexandre de Moraes, que não quer ser papa, trabalha firme para elevar todos os catequistas do salmo 171. Vá em paz papa Francisco. Leve com você todos aqueles que não sabem o que dizem.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
