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Brasil que muda (quando muda) evolui apenas para alguns

Fora de moda e uma fábula em se tratando do Brasil, o comunismo para os brasileiros é apenas um conceito distante, ultrapassado e retrógrado. Velho e acabado, o termo atualmente serve de muleta e de mantra para os abduzidos pela ignorância se referirem aos antagônicos. São os autodenominados “patriotas”. No Aurélio deles, comunistas são os que se manifestam contra o golpismo. Sem propostas, ideias e discursos, eles ainda não se aperceberam de que o socialismo que combatem, além de um verbete no dicionário e de uma rápida dissertação no Wikipédia, não passa de utopia para um país no qual a elite dominante é tacanha, desprovida de caráter, adoradora de poder, serviçal dos poderosos e doutrinariamente incapaz de mover uma palha para a sobrevivência nacional.

Do tipo sanguessugas, seus integrantes de cabeças ocas e cheias de galhos não se interessam por onde pisam, mas em quem pisam. A palavra de ordem é pisar. Por isso, somente no bordel chamado conservadorismo ainda pulula o vocábulo que, tivéssemos meia dúzia de ferrenhos defensores da igualdade, talvez prosperasse. A verdade é que, mesmo ante a impossibilidade disso entre nós, a paquidérmica e insossa aristocracia brasileira morre de medo quando alguém, ainda que de brincadeira, fala na abolição da propriedade privada e na coletivização dos meios de produção. Só o som de palavras como China, Vietnã, Laos, Coreia do Norte e Cuba geram urticárias. Ouvir que Cuba lançou é sinônimo de fechar o trampo até para sinais de Wifi.

De cabeças, coração e genitálias improdutivas, os fidalgos não temem somente a democracia eleitoral. Para eles, seria a morte também democratizar ambientes sociais e de trabalho. No máximo, aceitam socializar suas mulheres. De acordo com o Alcorão bestificado da alta roda, comunismo e palavrão têm a mesma sonoridade. O que a maioria (ou todos) não percebem é que a verborragia utilizada contra os “comunas”, além de intrigante, é absolutamente incoerente. Estimulados por um mito de beira de esquina, usaram a família, a ética e o controle da esquerda como justificativa para vandalizar três dos maiores símbolos da República. Entretanto, atingem orgasmos múltiplos quando são informados que o mesmo mito referendou a indicação do ex-deputado e ex-ministro Aldo Rebelo como sucessor de Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo, comandada por um daqueles aparadores de escarros de um clã forjado a partir de monturos de incompetência.

Curiosamente, Rebelo é um dos próceres do quase esquecido PCdoB, abrigo de outros famosos “esquerdopatas”. Aliás, depois de concebido à nova função de baba ovo murcho, a primeira declaração do camaleão foi contra o governo a que serviu durante pelo menos três pares de ano. Portanto, mesmo que ele tenha se convertido à praga do conservadorismo, o passado o condena perante os antidemocratas. Enfim, com a experiência herdada de meus milenares antepassados, estou convencido de que a suruba política e econômica mantida pelos cabralistas será eterna. Pedro Álvares Cabral e seus “formadores de opinião” procriaram seres humanos que não conseguem sentir o cheiro do próprio sovaco. O “descobridor” e seus lacaios partiram, mas deixaram como herança famílias de vorazes leões em uma ponta e de bodes e jumentos teleguiados em outra.

Paradoxalmente, apesar de todas as mudanças, nada muda no Brasil. O processo evolutivo é experimentado por poucos. Prazerosamente, a realeza fedorenta e seu chicote na forma de subempregos nos condenou a ser eternamente um país sem futuro. É a história que se repete. Seguindo os ensinamentos dilapidadores dos portugueses, depois do Pau Brasil e da borracha, a ordem é dizimar indígenas, nosso povo originário. E pouco importa se o preço a ser pago por eles é o acocoramento diante dos protagonistas e financiadores da orgia. Aliás, se acarneirar, isto é, mostrar o fiofó sempre que exigidos, é o esporte preferido dos nobres. Nobiliárquicos, mas naturalmente desinteligentes.

Descendentes diretos do esgoto a céu aberto que é a política brasileira, os membros da elite se esmeram e se lambuzam nos fast foods do mundo. Mais food do que fast, já que não conseguem se conectar se não estiverem galhardamente em bandos. No frigir dos ovos murchos dessa rapaziada sem nexo, para eles não há diferença entre democracia e tirania. Nu e cru, o fato a ser destacado é a surpresa deles ao perceberem que sobrevivemos a mais uma das armadilhas e traições que prepararam para nosotros. Sei que é bobagem insistir com essa retórica, mas repetirei mesmo assim: se político fosse dinheiro, o astro defendido pela fina flor seria troco. No máximo, valeria um pé de página na obra shakespeariana O Diário de um Pangaré Manco.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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