O Brasil continuará trabalhando com a China e os Estados Unidos em questões espaciais, independentemente das atuais tensões entre Washington e Pequim. É o que garante o coordenador de Satélites e Aplicações da Agência Espacial Brasileira, Rodrigo Leonardi.
“Temos várias interações no lado comercial. E em relação ao espaço, temos um programa com a China chamado CBERS – Programa China-Brasil de Recursos Terrestres”, disse Leonardi no 38º Simpósio Espacial realizado em Colorado Springs, na terra de ‘Tio Sam’.
.”Essa parceria tem 30 anos, foi deixada em segundo plano nos últimos seis anos, mas agora estamos planejando continuar trabalhando com eles nessa estrutura”, afirmou o representante brasileiro.
Quando perguntado se era difícil administrar essas parcerias em meio às tensões atuais entre Pequim e Washington, Leonardi enfatizou que não vê nenhuma dificuldade nisso.. “Não temos vergonha de trabalhar com os EUA ou os chineses”, disse ele. “O Brasil tem parceiros, independente de ideologias ou dispuitas entre seus próprios aliados”.
Recorde-se, a propósito, que presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante sua viagem à China na semana passada, disse que o Brasil não pode ser impedido de desenvolver a cooperação com o país asiático. Em nota que antecedeu o encontro bilateral, Lula disse que o Brasil está empenhado em intensificar a cooperação com a China em ciência e tecnologia, intercâmbio estudantil, cultura, mudanças climáticas, energia limpa e veículos elétricos.
As tensões entre os EUA e a China sobre Taiwan aumentaram esta semana em meio a relatos de que os EUA fornecerão à ilha 400 mísseis Harpoon antinavio em um acordo no valor de US$ 1,17 bilhão. Em fevereiro, a China impôs sanções aos empreiteiros de defesa dos EUA Lockheed Martin e Raytheon por venderem armas para Taiwan. As novas restrições incluem a proibição de todas as exportações ou importações com as duas empresas.
A parceria específica de Brasília e Pequim no campo de tecnologia espacial abrange um vasto campo de atuação. Mas, como há cláusulas confidenciais, não se sabe se existem projetos para uso militar dessas tecnologias.
As preocupações norte-americanas com a reaproximação do Brasil com a China, crescem simultaneamente aos gestos de Taiwan de cortar os laços com Pequim, com o apoio de Washington. Pequim vê a ilha como sua província, enquanto Taiwan – um território com seu próprio governo eleito – afirma que é um país autônomo, embora não chegue a declarar independência. Pequim se opõe a qualquer contato oficial de estados estrangeiros com Taipei e considera indiscutível a soberania chinesa sobre a ilha.
Vez dos russos
Leonardi disse ainda que o Brasil, paralelamente aos entendimentos com a China, espera que sua colaboração com a Rússia em questões espaciais no âmbito do BRICS continue a amadurecer.
“Temos uma cooperação espacial com a Rússia que está na estrutura do grupo BRICS. Claro, continuamos a nos envolver com nossos colegas da Roscosmos nessa estrutura”, disse Leonardi.
“O BRICS é uma visão para o futuro. É uma estrutura em que agora estamos colocando nossos esforços no compartilhamento de experiências e produtos de dados que podem evoluir no futuro para uma cooperação mais madura. Portanto, é um local para explorarmos.”
Leonardi pontuou que o Brasil está aberto à capacitação, ao intercâmbio de alunos e profissionais, e dando continuidade à tradição de trabalhar com todos no espaço.
Quando perguntado se as atuais tensões entre o Ocidente e Moscou afetam a cooperação do Brasil com a Rússia em questões espaciais, Leonardi foi enfático: “As tensões afetam a todos, eu diria que isso não é bom para ninguém. Ele também expressou esperança de que a paz seja encontrada o mais rápido possível, para que o Brasil continue trabalhando com todos no espaço.
Sobre a possibilidade de o Brasil participar da estação espacial proposta pela Rússia, Leonardi disse que é “um pouco cedo” para discutir esse movimento.