Após o Uruguai se distanciar de um acordo bilateral com a China, o Brasil e a Argentina assumiram de vez o papel de maiores parceiros de Pequim no bloco regional. Em entrevista, o cientista político Nicolás Pose destacou que o Brasil voltou a ser uma “peça-chave do Mercosul”.
Para o especialista, a posição da China de não negociar apenas com o Uruguai era “um cenário previsível, mais além dos esforços do governo uruguaio por negociar bilateralmente”.
“Era evidente que para isso seria necessário um enquadramento mais consistente que dependeria da posição favorável dos maiores membros do Mercosul, ou ao menos do Brasil”, ressaltou.
Após não ter sucesso em sua investida política, o Uruguai poderá sofrer um eventual custo político, “dando passagem” para o Brasil assumir de vez o papel de “peça-chave” no bloco.
O especialista também considerou que o retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa ter influenciado o interesse chinês de negociar bilateralmente um acordo com os uruguaios.
Conforme Pose, ao preferir respeitar a política do Mercosul de negociação conjunta, em vez de negociar diretamente com os uruguaios, a China mostra que privilegia a relação política com os parceiros maiores, o que indica que o Brasil recuperou uma posição mais significativa no sistema regional, voltando ser uma peça-chave.
“A direção da política comercial em particular e da política exterior adotada pelo Brasil, sem dúvidas acaba sendo muito importante para todos os membros do bloco, particularmente para países menores, como pode ser o caso do Uruguai ou de Paraguai”, afirmou.
Pose acredita que o Mercosul e a China poderiam avançar em acordos setoriais, mais limitados, que permitam determinados avanços na relação comercial.
Por fim, ele recordou que “os países do Mercosul estão ensaiando suas próprias tratativas bilaterais com a China em diversos temas”, observando que, recentemente, o governo argentino firmou um acordo que permite a importação de produtos a partir da China sem a utilização do dólar americano.