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Causa e efeito

Brasil tem deus supremo da soberba e do negacionismo

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior* - Foto de Arquivo

Pela natureza do cargo, o presidente de qualquer república é, naturalmente, um cidadão com autoridade sobre os demais. Mesmo nas republiquetas de bananas, como é tratada atualmente a nossa, é sempre bom lembrar que autoridade nunca foi sinônimo de superioridade, tampouco de soberba. No Brasil do faz de conta e do fracasso administrativo, o chefe de governo não se acha apenas o Deus supremo. Para ele mesmo e para alguns dos seus mais fanáticos seguidores, estamos falando de alguém que deve ser avaliado muito mais do que um mito. É o que de melhor já existiu por aqui. Ponto e numerosas exclamações.

Como os dois lados estão presentes em tudo que diga respeito à vida, no caso em questão também há o positivo e o negativo. Por exemplo, para outros tantos o presidente do ex-Brasil de todos não passa da causa e do efeito de tudo que pode ser considerado mazela. Para esse segundo grupo, com o qual eu fecho, a divindade capitã realmente está sem rumo. A nau foi ao pique. Copiando o brasiliense Joaquim Honório, autor de uma atualíssima carta ao Correio Braziliense, como Jair Bolsonaro coloca a culpa em qualquer um pelas desgraças do seu governo, “então qualquer um está em condições de governar o Brasil, menos ele”.

De fato, o quadro indica que, faz algum tempo, estamos acéfalos, órfãos de pai vivo. A mãe sumiu. Talvez tenha sido levada para um desses pés de goiabas citados biblicamente por Damares Alves, graças a Deus ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos. Brasilienses de alma, coração ou somente de quatro rodas, tenhamos cuidado, pois a pastora, filiada ao Republicanos, é pré-candidata ao Senado pelo Distrito Federal. Respeitosa e republicanamente, merecemos um parlamentar melhor e com mais conhecimento das coisas do Brasil, principalmente dos brasileiros.

As pedras não contam nada, mas todas sabem que o rancor e o ranço destilados diariamente pelo detentor do poder é muito pior do que qualquer pandemia. De forma anacrônica e beligerante, ele governa 8.516.000 km² exclusivamente por meio das redes sociais. Eventualmente visita um descarrilamento ali, uma tragédia acolá e, às vezes, faz proselitismo político em ocasiões impróprias. Seu forte são as motociatas, lanchaciatas, carreatas e farofadas com frango frito e frio. É nesses passeios recheados de pirotecnia que sua excelência aparece. O problema é que ele acontece apenas para meia dúzia de duas ou três mil pessoas.

Os milhões restantes só sabem do presidente quando ele tem comichões e decide atacar quem nada tem a ver com sua incompetência e nunca contribuiu para seu despreparo. O Google e três dos cinco filhos são seus únicos confidentes e assessores confiáveis. Eles é que governam. Os ministros pró-tempore e os 214,3 milhões de brasileiros que vivam de brisa. Em vez de trabalhar pelo seu povo e unir o ministério e as instituições para acalmar a população, fez de tudo e conseguiu transformar o Brasil em terra sem lei.

É o caso de perguntar: “Até tu, Brutus? Não esqueça que, enquanto deputado federal, perdia seu tempo na Tribuna da Câmara cobrando de seus antecessores respeito à Constituição, cumprimento das normas e, sobretudo, consideração pelo povo. Perdia seu tempo, porque ninguém o ouvia. A impressão que passa é que sua pífia administração tem explicação. A partir de seu exemplo, todos que assumem a adjetivação bolsonarista se imaginam com uma arma na mão, poucas ideias na cabeça, um monte de pedras no coração e nenhuma vergonha do que dizem ou fazem. Pelo menos esses últimos três anos e meio serviram para alguma coisa. Na marra, aprendi um pouco sobre negacionistas. Descobri, por exemplo, que eles só não negam o negativo. Coisas de quem nada tem de positivo.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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