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Brasil terá casa nova no lugar do muro vermelho

Foto: Mauro Pimentel/AFP - EstadãoConteúdo

Quando um chefe de família – que pode ser de qualquer gênero, só para deixar claro – decide reformar a casa, é necessário que haja a concordância de seus membros. Não só. O desejo também. Alguém, entretanto, deverá colocar à mesa os projetos, a nova mobília, o maior conforto pretendido, as providências para economizar água e luz.

Essa comunicação será necessariamente ilustrada, didática, fundamentada, convincente. Ainda que alguns moradores discordem da cor da parede, do estampado do sofá, bastam argumentos claros, explanados com o auxílio de engenheiros, arquitetos, paisagistas e decoradores experientes. Coisa para especialistas bons na matéria e no convencimento.

Instalar o canteiro da obra sem que a maioria entenda o que será feito, sem que os habitantes sonhem com uma moradia melhor, mais iluminada, mais confortável para todos, livre de ratos e baratas, é certeza de problemas.

A reforma da casa Brasil passa atualmente por isso. O Palácio do Planalto não utilizou o período de transição para reservar um capítulo exclusivo ao setor mais importante aos seus objetivos: a Comunicação. Entenderam que o fato de ter obtido sucesso nas eleições, sem o auxílio de profissionais da área, combatido por grandes grupos da imprensa, enfrentando a divulgação de índices fraudados em pesquisas, justificava o total abandono de uma das ciências mais antigas da humanidade.

Não é difícil entender as razões. A Comunicação é uma caixa de ferramentas onde estão a publicidade e propaganda, as pesquisas de mercado, os meios de divulgação. Nas campanhas eleitorais ninguém apresenta um projeto acabado, apenas um esboço, uma ideia geral, que agrade à maioria. Depois disso, essa maioria e parte dos derrotados vão aguardar o momento de ver a planta detalhada. Desejam isso.

No primeiro momento, nas urnas, escolhem o empreiteiro que oferece novidades, mas quer ser convencida de que as melhorias na casa vão mudar a sua vida. Não só a da família, mas dos agregados, amigos, fornecedores, jardineiro, cozinheira, e vizinhança incrédula.

O novo governo instalou o tapume, mandou demolir algumas paredes, mas deixa a impressão de que está fazendo apenas alguns puxadinhos com resultado final duvidoso. Não utilizou o período de transição para preparar a defesa do que faria após assumir a responsabilidade da obra. Naquele momento deveria ter convocado uma equipe de profissionais e substituído os palpites no esboço, alguns assertivos, dados pela sogra, por plantas acabadas.

Deveria ter trocado o rascunho distribuído nas redes sociais pela perspectiva em 3D difundida nos diversos canais disponíveis depois da posse, para que todos entendessem como ficaria a residência no futuro. Muito mais bonita. Muito mais funcional. Muito mais aconchegante.

Não há mais razões para a ausência de especialistas e veículos isentos, que deveriam nesse momento desenvolver melhor o projeto para obter o alvará de construção e o futuro habite-se. Durante o período eleitoral, massacrado pelas críticas dos vizinhos invejosos da rua, habitada há muitos anos por suburbanos acostumados a jogar lixo nas calçadas e fazer gatos de água, luz e gás, acobertados por empresas distribuidoras de panfletos que pregavam a desordem coletiva, que recebiam milhões para produzir propaganda enganosa, praticar o ilícito, desviando as verbas do condomínio para o bolso do síndico e de seus conselheiros, a Comunicação passou a ser a vilã de todos os males.

Esses fatos do passado recente, ao contrário, só revelam a ampla capacidade e eficácia de uma poderosa ciência. Para o bem ou para o mal. A propaganda não é um luxo, mas um recurso obrigatório, se aplicada com técnica e responsabilidade. É um equívoco comparar os investimentos em publicidade com os do cinema. A publicidade está para a sétima arte, assim como a Fórmula 1 está para os carros de passeio. Naquele laboratório é que são desenvolvidas novas técnicas, são testados recursos inéditos, pagos pelas grandes corporações internacionais privadas para promover seus produtos e serviços. São elas que patrocinam a tecnologia e o cinema. Empresários não são loucos nem rasgam dinheiro, certo?

Campanhas publicitárias custam, sim, milhões de dólares. Desde de que justificadas, com objetivos determinados e aferidos os resultados centavo por centavo. Nada disso era feito nos governos quadrilheiros. E produzem efeitos sobre a massa da população que nenhum Twitter sozinho é capaz de conquistar.

Foram os célebres brasileiros – aqueles que estão atrás das grades – que introduziram a lavagem de dinheiro e desvio de verbas públicas por meio da publicidade, com a conivência midiática de grandes veículos de comunicação. É só deixá-los no passado. Há como substituí-los mas não são as redes sociais a mera solução. O Planalto deve mesmo abandonar as pessoas e empresas bandidas, mas não os profissionais e veículos honestos. Está perdendo um precioso tempo e parte de seus membros caminha de mudança para outros bairros, só por causa de uma briga de vizinhos. Se tivessem o auxílio de pesquisas sérias, teria verificado isso nos primeiros cem dias de governo. Tendo em mãos um projeto de Comunicação profissional, menos intuitivo e mais técnico, já teria corrigido a crescente opinião pública desfavorável (resultado recente), consequência do mal entendimento por parte da população de como vai ficar a casa nova.

Não é culpa do Congresso nem do STF, apenas. A Comunicação inadequada é a responsável pelo resultado negativo. São números verificáveis. Com técnica, o Planalto já poderia ter quantificado a dimensão da atual perda de internautas apoiadores ativos, corrigindo imediatamente a tendência. No ar e nas ruas, mas que podem ser recuperados. Precisam ser reativados e ampliados. É preciso falar com eles utilizando todos os recursos à disposição. As ideias e o projeto do atual governo são autênticos? São honestos? São verdadeiros? Sendo assim, já passou da hora de convidar a rua inteira para o churrasco da cumeeira na laje. Mesmo que sejam servidos por enquanto apenas frango com farofa e tubaína.

Entretanto, alguém sério e competente deve ser convidado, aquele especialista em prosa, para convencer a vizinhança de que o próximo evento será o encontro dos sonhos: haverá picanha com arroz carreteiro e chopp gelado. Servido na sala principal.

O vizinho da casa vermelha, que adora jogar pedra na vidraça dos outros, vai morrer de raiva. Aí, sim, vale tuitar um kkkkkk!

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