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Quem leva os 40%?

Brasil, um país de todos, como todos sonhamos

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior*

Com Luiz Inácio encostado na traseira da emperrada carreata liderada por Jair Messias Bolsonaro, petistas e a esquerda mais extremada fungando no cangote e a conta do Centrão cada vez mais alta, natural que Jair Bolsonaro veja o poder escorrer pelas mãos autoritárias, centralizadoras, agressivas, destemperadas e vingativas. Responsável por um retrógrado projeto político denominado populismo conservador, consequentemente de corrosão da democracia, o presidente da República, usando o álibi da reeleição para evitar o comunismo, acabou por – voluntária ou involuntariamente – patrocinar a pavimentação do neofascismo em uma nação reconhecidamente democrática e com baixíssimos índices de lampejos esquerdizantes.

Medo de muitos, certeza de poucos, a história do Brasil comprova nosso despreparo ideológico. Desde os tempos do Império, a saga do povo sempre foi pela condução gerencial da nação. Infelizmente, por décadas nos acostumamos com a roubalheira diuturna dos portugueses, com os tanques da ditadura e, principalmente com a mentirada dos políticos, inclusive os presidentes. Em pleno século XXI, inconcebível para o brasileiro é o autoritarismo psicológico e sem conhecimento, a (des)necessidade de humilhar colaboradores, a falta de intelecto em quem se acha mandatário, o negacionismo, a ignorância e, sobretudo, o novo ordenamento administrativo, que é a subserviência ocupando o espaço da competência.

Esse parece o país dos sonhos de Bolsonaro e apoiadores, mas certamente não é o torrão sonhado por expressiva parcela dos 212 milhões de brasileiros. É verdade que nascemos tupiniquins, mas não crescemos ou queremos morrer sem reação ao mercenarismo, ao expansionismo intolerante e ao isolamento planetário imposto por lideranças alinhadas ao que existe de pior em termos de burocracia hierárquica. Já mostramos que, juntos, somos capazes de mudar. O que buscamos é simples e fácil de ser alcançado. Para isso, dispomos de um dos mais seguros sistemas eleitorais do mundo. Nosso voto é nossa arma e nosso exército está visceralmente vinculado à vontade, à ânsia e, agora, à necessidade de mudanças.

Como nem só de pão vive o homem, lembremos sempre da resposta de um sábio a um questionamento sobre a raiva: “A raiva é um castigo que damos para nós mesmos pelo erro de outra pessoa”. Portanto, já passou da hora de pensarmos no país sem a obrigação do apoio dos céus, que é precioso, mas inviável quando nosso destino será colocado em mãos humanas. Como velho cristão, defendo e defenderei sempre a vida como bem unilateralmente divino. Entretanto, como amante de pesquisas relativas à origem do mundo, não me permito esquecer que determinados povos antigos sacrificavam seus maus políticos como oferenda aos deuses para combater epidemias.

Jamais pensei transformar essa máxima de séculos anteriores em ideia para a atualidade. Seria uma catástrofe. Não precisamos convocar dr. Jairinho para resolver problemas de somenos importância. Temos a urna e o livre arbítrio como soluções mais palatáveis. Faltam apenas coragem, discernimento e um mínimo de conhecimento para usá-los com sabedoria. Apesar de multifacetado, continental, com raízes díspares, paixões diversas e cores que ultrapassam o abecedário, o Brasil não foi descoberto há 521 anos para ser feudo de extremos, tampouco quintal de ditadores, negacionistas, mitos, caçadores de marajás, sociólogos, salvadores da pátria, vendilhões, operários, brincalhões, socialistas ou revolucionários aposentados à esquerda ou à direita.

A nação é de todos e assim deve ser pensada por aqueles que esperam comandá-la. Por enquanto, a insatisfação é bem maior do que a certeza da escolha. Se um passou do tempo e outro não sabe o que faz, recorramos à história contra a dicotomia. Não esqueçamos que, entre o negativo e o positivo, há o neutro. Se um é avaliado como suposto vilão e outro é um clássico engodo, um mentiroso, lembremos dos discursos assertivos que já ouvimos por aí. É fato que, se um e outro dispõem de 30% do eleitorado, o somatório alcança 60%. Portanto, sobram 40% que podem nos salvar.

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