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Guerras santas

Brasil usa dois pesos e duas medidas para definir terrorismo

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Armando Cardoso* - Foto Ricardo Stuckert/ABr

A exemplo dos poetas e dos filósofos, deveríamos todos odiar o ódio e fazer guerra à guerra. Afinal, como disse Benjamin Franklin, nunca houve uma escaramuça boa nem uma paz ruim. Defendendo a tese de que a suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar, prefiro a toada de Bob Marley e de Roberto Carlos, para os quais, respectivamente, é melhor perder a guerra e ganhar a calma e a serenidade e não importam os motivos da contenda, pois a paz ainda é mais importante do que eles. Independentemente da forma como começam, os conflitos normalmente têm desfechos idênticos, conforme afirmação do filósofo e escritor francês Jean-Paul Sartre: os ricos e poderosos produzem as batalhas, mas são sempre os pobres e impotentes que morrem.

O problema é que, no mundo moderno e globalizado, o poder e o ódio andam de mãos dadas. O lado bom é que a agilidade da informação nos dá a certeza de que toda a propaganda de guerra, toda a gritaria, as mentiras e o ódio, invariavelmente partem das pessoas que não estão lutando. O lado ruim é quando os governantes querem ficar bem tanto lá quanto cá e preferem se agrupar sobre muros. Para a maioria dos que não fabricam armas, mísseis ou aviões que matam, a paz ainda é a melhor solução. Para essa mesma maioria, um dos dois lados é o vilão. No caso da refrega por territórios entre Israel e o grupo terrorista Hamas, ainda que seja clara a arrogância dos israelitas, o planeta inteiro sabe quem deu o primeiro tiro nesse triste e macabro confronto.

A violência foi iniciada a partir de um ataque sem precedentes do Hamas a Israel, que tinha o direito de se defender atacando. Desde então, o presidente brasileiro e seus principais aliados têm adotado um posicionamento dúbio em relação ao bombardeio. Apesar de ter sido rápido ao condenar, por meio de notas, a agressão ao povo judeu, os limites do governo brasileiro até agora são condenar todo ato de cólera na região, seja ele do Hamas ou de Israel, e pedir exaustivamente o cessar fogo. Para o mundo, isso não basta. Por mais que desejemos a quietude e o remanso, não há hipótese de usar uma das mãos para bater e a outra para afagar. É preciso um posicionamento concreto a respeito dos promotores da barbárie.

Da mesma forma que os baderneiros que invadiram e vilipendiaram os Três Poderes da República do Brasil, os integrantes do Hamas são bandidos, sanguinários e dispostos a matar ou morrer por suas causas imbecis, entre elas a de acabar com o Estado de Israel e como os judeus a qualquer preço. Portanto, não usar a classificação terrorista na referência do grupo islâmico tem colocado Luiz Inácio em uma berlinda digna de reflexões à direita e à esquerda. E pouco importa se a Organização das Nações Unidas não colocou o Hamas na lista de organizações terroristas mundiais. Embora faça parte da ONU, presidindo o Conselho de Segurança da entidade, o Brasil realmente perdeu a chance de mostrar os valores do seu povo, que é absolutamente contrário à matança de crianças, idosos, grávidas e indefesos.

Benjamin Netanyahu é a besta fera que a população árabe busca combater e, se possível, exterminar. O Estado de Israel, criado em 1948, vem em segundo plano. Todos têm direito de viver e de ocupar seus espaços, inclusive os palestinos. Inconcebível é a forma utilizada por um e outro lado para chamar de seu a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e até mesmo Israel. Uma vez declarada a guerra, é impossível deter agressores e agredidos. Queiram ou não, o covarde ataque do Hamas aos civis israelenses mereceu o troco, que deveria ser exclusivamente sobre as bases dos terroristas islâmicos. Não foi. Infelizmente, morreram e morrerão inocentes de ambas as trincheiras. Integrante da corrente que entende como contradição a existência de guerras santas, também acredito que ganhar uma disputa desse tipo é tão desastroso como perdê-la.

Matar pela paz é o maior dos absurdos humanos. Reiterando que matar na guerra não é diferente do que cometer um homicídio comum nas comunidades de qualquer capital brasileira, tampouco de quebrar criminosamente bens públicos para atender a sanha de poder de grupos políticos. Por isso, o mundo questiona os dois pesos e as duas medidas usadas pelo governo Lula da Silva nas menções ao Hamas. As ações dos terroristas palestinos são exatamente iguais àquelas vistas no dia 8 de janeiro deste ano na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Os daqui, os chamados patriotas, são e serão sempre terroristas. Como o pau que dá em Chico dá em Francisco, é justo que Lula receba críticas dos antagonistas. Ainda que haja uma velada simpatia pelos islâmicos, o presidente do Brasil precisa saber que quem começa uma guerra não pode lamentar a morte.

*Presidente do Conselho Editorial de Notibras

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