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Brasileira na Alemanha compara chuvas ao fim do mundo

A cada verão, a pequena cidade de Altena, na Alemanha, espera por fortes chuvas, uma pequena inundação do rio que passa pelo vilarejo, e até mesmo eventuais toques de recolher por conta dessas alterações. Mas esta semana, o cenário típico de verão se tornou tão mais drástico que os moradores dali ficaram “chocados”, segundo descreve a brasileira Andrea Wiegmann, de 47 anos, que vive na cidade.

“As pessoas falavam que era o fim do mundo, estavam desesperadas”, relata Andrea, que mora na Alemanha há mais de 18 anos e desde 2008 em Altena.

A brasileira conseguiu escapar de transtornos e riscos por viver em uma área mais alta da cidade, cuja população é de cerca de 16 mil habitantes. Mas ela relata momentos de desespero ao buscar notícias da sogra e de primos do marido, que moram no centro de Altena, mais afetado pelas enchentes. Apesar do susto, todos da família estão bem.

Entretanto, esta e outras cidades da Alemanha ainda estão contando vítimas fatais e desaparecidos em decorrência das fortes chuvas e enchentes que deram os primeiros sinais no início da semana, culminando em um dia caótico na quarta-feira (14/7). No país, cerca de 100 mortes já foram confirmadas, e os números sobre desaparecidos ainda são incertos.

Apenas no distrito Ahrweiler, mais de 1,3 mil pessoas são consideradas desaparecidas.

A reportagem não encontrou dados de vítimas especificamente em Altena, que fica no distrito de Märkischer Kreis, no Estado de Renânia do Norte-Vestfália. Mas a cidade foi destaque no noticiário, entre outros motivos, por ter sido local de morte de um bombeiro que estava em serviço na contenção às enchentes.

“Está todo mundo muito triste (com a morte do bombeiro), porque a cidade é pequena. Todo mundo conhece todo mundo.”

Falando com a BBC News Brasil na manhã de sexta-feira (16/7), a brasileira contou que parte da cidade ainda estava isolada, inclusive alguns de seus amigos; sem eletricidade; com estradas interditadas; e cheia de lama.

Moradores perderam casas e carros, e restaurantes e lojas ficaram inundados. Quem não foi tão afetado buscou ajudar na limpeza e cedendo abrigo.

“As pessoas estão colaborando, o governo também… Vieram pessoas de outros lugares para ajudar. Mas vai demorar meses (para recuperar os estragos).”

Andrea menciona que uma das barreiras encontradas pela vizinhança para ajudar quem foi afetado é a falta de eletricidade para mover os carros — lá, boa parte dos veículos são elétricos. Outra característica local, o uso e a moradia em sótãos, também se tornou uma vulnerabilidade às chuvas.

“Algumas pessoas fazem dos porões apartamento. Então, tinha gente dormindo na hora das enchentes. Vi um senhor na TV falando que a filha estava no sótão dormindo e ele a salvou quebrando a porta para tirá-la.”

“A correnteza era tão forte que os únicos carros que passavam era dos bombeiros.”

“Todo mundo foi pego de surpresa. Estava anunciada uma forte chuva, mas nunca pensamos que fosse acontecer o que aconteceu.”

A Alemanha mobilizou cerca de 15 mil policiais, militares e agentes de serviços de emergência para lidar com as consequências das chuvas.

Cientistas e autoridades, como a primeira-ministra Angela Merkel, estão destacando o papel das mudanças climáticas nas fortes chuvas, que afetaram também a Bélgica, Holanda, Luxemburgo e Suíça.

Hannah Cloke, professora de Hidrologia da Universidade de Reading, Inglaterra, afirmou que “as mortes e a destruição em toda a Europa como consequência das enchentes são uma tragédia que deveria ter sido evitada.”

“O fato de que outras partes do hemisfério Norte estão atualmente sofrendo ondas de calor e incêndios recordistas devem servir como um lembrete de quão mais perigoso nosso clima pode se tornar em um mundo cada vez mais quente”, afirmou Cloke à BBC.

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