O próximo ano está batendo à porta. Na numeração romana (MMXXII), 2022 será um ano comum do século XXI. Segundo o calendário gregoriano, ele começará num sábado e sua letra dominical será B. De acordo com o horóscopo chinês, será o ano do Tigre, iniciado a 1º de fevereiro. Xangô e Iansã são os orixás de frente. Natureza, espiritualidade, fantasia e diversão são sentimentos que deverão marcar a vida do brasileiro no período, pois refletem a fase pós-pandemia, quando o Brasil e o mundo tiveram de hibernar para fugir da letalidade de um vírus que dizimou milhões de seres humanos.
Até agora, a “gripezinha” sem importância levou dessa para melhor 613 mil patrícios. Cada ano é diferente do que acabou, na medida em que há particularidades na regência e aspectos necessários para mudanças, cobranças, esperanças, perdas e ganhos. De concreto e imutável, o que sabemos é que, no fim das contas, todos sobrevivem e prosperam. No mínimo, mais um filho ou uma relação revigorada. Se tudo der certo, talvez mais um sapato para a coleção. Previsões à parte, ano em que uma nova eleição definirá se permanecemos na era mitológica e continuamos imbecilizados (de modo mais simpático, divididos) ou se recuperamos a condição de nação importante para o mundo, 2022 deverá ser marcado por significados enigmáticos, ocultos e até cabalísticos.
Começando pelos próprios numerais cardinais, se tirarmos o algarismo 2 do milhar sobrará o que temos de chance de nos tornarmos livres da corrupção, do sedimentarismo parlamentar e, sobretudo, do personalismo político. É zero nossa chance de evoluirmos economicamente, de diminuirmos as desigualdades sociais, de um presidente assumir compromissos sérios com o povo e, principalmente, de nos aproximarmos do Primeiro Mundo. Talvez seja zero ao quadrado qualquer possibilidade de recuperação da credibilidade humana. Espero a eleição de um líder que me prove o contrário.
Estamos sem crédito uns com os outros, cansados de baboseiras e ávidos por pessoas ou grupos com projetos, propostas e vontade de governar para todos. Chega de mitos, leigos, salvadores ou usurpadores da pátria, déspotas, tiranos ou brincalhões desplugados da realidade. Queremos ser governados por gente sem vaidade, séria, capaz e consciente dos problemas que irá encontrar. Não convencem mais as frases de efeito, mas sem efeito algum. Na verdade, ninguém quer mais ouvir “nunca na história deste país”, “meu Exército” ou “minhas lives”. O que o povo quer são vacinas, emprego, salário, comida e melhores condições de vida.
Por enquanto, além dos 613 mil mortos pela Covid, recebemos a notícia de que outubro registrou a maior taxa de inflação dos últimos 27 anos, isto é, desde o Plano Real. Desastrosos para as pretensões bolsonaristas de reeleição, os dados inflacionários certamente serão devastadores para o provável novo presidente da República, que encontrará milhares dos 150 milhões de eleitores de bolsos e barrigas vazios. Se for Luiz Inácio, terá de provar capacidade em tempos de penúria, contrários à bonança mundial de seu primeiro governo. Vitorioso alguém do ninho tucano, a prova será ainda dura, pois lhe caberá tentar repetir o legado intelectual de Fernando Henrique Cardoso. Seja esquerda, direita ou centro, o vencedor terá de compor.
Não há fórmulas mágicas para recuperar uma nação na lona. Portanto, não haverá escapatória fora do tripé respeito, diálogo e união. A menos que a opção seja governar fora das quatro linhas. Deverão ser incorporadas à vitória novas questões, entre elas a necessidade de ouvir e saber compor com quem pensa diferente e a certeza de que, sozinho, o vencedor discursará, tergiversará, mas não terá soluções objetivas para os problemas reais do Brasil. Por essas razões, a necessidade real é eleger alguém que nos livre da crise e não que nos empurre para o fundo dela.