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Brasileiro moderado livra Brasil dos extremistas de direita e de esquerda

Ao nascer, todo ser humano recebe, além da vida, um bônus denominado livre-arbítrio, cuja definição mais filosófica é o poder de escolha. Do ponto de vista religioso, significa a capacidade que nos é dada de decidir de acordo com a própria vontade, sem condicionamentos prévios ou causas determinantes. Eventuais erros ou acertos certamente serão debitados ou creditados, despercebidamente ou não, em nossa conta presente ou futura. Tudo isso para dizer que nós somos os únicos responsáveis por nossos atos. Faz parte do cartão existencial de cada pessoa agir conforme seus instintos.

E assim caminha a humanidade, particularmente a dividida massa brasileira. Após séculos de uma divisão supostamente simbólica, o Brasil de nossos dias escancara seus dois povos. Na religião, no futebol e, principalmente na política, a ordem dos mais radicais é eliminar os que incomodam ou aqueles que torcem por um lado que não é o dele. Sempre ouvi dizer que liberdade é a capacidade de reflexão. Faz alguns anos descobri que os radicais não perdem tempo em refletir. Eles sabem tudo. Obviamente que é inerente ao ser humano a raiva, o preconceito, a hipocrisia e a insanidade. O problema é que a maioria não consegue enxergar isso.

Muito mais distintos do que água e óleo, os brasileiros estão divididos por uma tênue linha de ameaças, agressões verbais e físicas e até assassinatos, tendo como mote principal apenas a superioridade. Ou seja, os adversários de ontem são hoje inimigos que, mesmo sem saber por quem, lutam para mostrar que um é mais poderoso do que o outro. É o cúmulo da ignorância, do obscurantismo, do radicalismo da incompreensão e do apedeutismo. Mas o que fazer se o povo de um lado e de outro ainda não aprendeu o que é viver em sociedade plena?

Talvez não aprendam nunca. Morrerão incultos, brutos e estúpidos. Infelizmente, o homem só percebe que é igual ao vizinho quando deixa de olhar para o próprio umbigo. Partindo do pressuposto do egoísmo e da individualidade, não há como separar os radicais da direita dos da esquerda. São iguais nas causas, como algumas discrepâncias nas ações. Embora as intenções sejam dessemelhantes e, de um lado, haja mais respeito às opiniões alheias, a indignidade e a mesquinharia são as mesmas. A grande diferença é que, aparentemente, o patriotismo de uns é direcionado para o crescimento socioeconômico da nação.

Puramente destrutivo, o patriotismo de outros não cessa até que a gestão, as propostas e as ideias do “inimigo” sejam desconstruídas. Tudo na base da modernidade chamada fake news. Contrariamente ao que dizem, os conservadores sem ideais querem queimar numa fogueira moral os que fogem da manada. Sem nenhum interesse pelo Estado forte e coletivo e sempre dispostos a derramar sangue pelo poder, eles lutam para atingir seus objetivos sórdidos, entre os quais o totalitarismo. Esquecem que nação alguma é feita com medidas radicais.

Apesar de se acharem propositores de um Estado democrático, na verdade o que buscam é o Estado de exceção. Insensatos por natureza, os radicais são craques em projetar nos outros as suas loucuras. E elas são muitas. Tantas que, para eles, é normal vandalizar ícones da República, atirar bombas em prédios públicos e depositar coroas de flores em frente à residência de quem sobreviveu duas vezes depois de ousar vencer democraticamente o mito do radicalismo. Em lugar de desejar-lhes mal, sugiro que tomem mais água, sentem e esperem o tempo passar, porque o Brasil e o mundo não dependem somente deles. Pelo contrário. Só duram por causa dos moderados. Tenho orgulho em ser um deles.

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*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

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