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Brasileiros sonham com Kamala para evitar ter pesadelos com cobras

Após a fracassada era bozozoica, o Brasil vive a plenitude da Era de Aquarius, que se refere a um extenso período em que o Sol transita pela constelação de Aquário durante o equinócio da primavera. E isso ocorre simultaneamente nos hemisférios Sul e Norte. Apesar disso e da fartura de notícias, o tema que vem movimentando o mundo político, econômico e da moda, além das salas pornô, é a eleição presidencial dos Estados Unidos. Depois de a desistência de Joe Biden ter assustado até o cumpadi Washington, a cartada democrata contra a Trumplândia tem nome e sobrenome: Kamala Harris, atual vice-presidente dos norte-americanos.

Não à toa, boa parte do planeta se acocha pela ascensão da primeira mulher negra a despontar como a provável inquilina da Casa Branca, consequentemente como a possível responsável pelo expurgo definitivo de Donald Trump. Aguardemos o dia 5 de novembro. Até lá, nos resta torcer para que Joe Biden dê conta do recado e conspire a favor de Kamala. Bicheiro de luxo, político e patriota de ocasião, belicista por convicção, preconceituoso por definição, invejoso por devoção e zombeteiro por desajuste mental, o candidato republicano só não consegue ser abstrato como foi e é seu pupilo brasileiro.

Embora pertençam à mesma falange do mal, é claro que que não há termo de comparação entre o capiroto estadunidense e o capetão tupiniquim. No entanto, a exemplo da vida difícil que o camarada Jair enfrenta no Brasil, Trump deve experimentar em breve dos mesmos venenos que destila desde sua sombria passagem pela presidência dos EUA e que também repassou ao discípulo dos trópicos: o deboche e a soberba. Com outras palavras para se referir ao então adversário Joe Biden, Donald, o primo-irmão do Patinhas, dizia aos correligionários que vencer o oponente seria mais fácil do que bater em bêbado.

Ainda que esteja morrendo de medo, ele mantém o discurso bizarro nas referências à nova rival que, a se confirmar a força demonstrada na campanha vitoriosa de 2020, deverá devolver Trump exclusivamente ao mundo dos negócios imobiliários, nos quais mantém duvidoso reconhecimento. O mesmo sucesso ele não teve nas mesas de jogos de azar e corre o sério risco de perder na política de oportunidade. De origem indiana e afro-americana, Kamala Harris fez carreira como procuradora antes de chegar ao Senado e à Vice-Presidência dos Estados Unidos. Portanto, ela nada tem de oportunista.

Tanto que, no dia seguinte à desistência de Biden, ao iniciar oficialmente a campanha presidencial, havia garantido apoio suficiente para ser nomeada candidata do Partido Democrata. Como fez no Brasil o inimigo número 1 dos bolsonaristas, Kamala deve mostrar a Trump que ele não é o vencedor que demonstra ser. Perdeu a eleição de 2020, acumula fracassos e dívidas impagáveis como proprietário de cassinos – os três faliram um após o outro na década de 1990 – e pode encerrar a enfumaçada e horripilante carreira de político de ponta. Para isso, basta que os americanos se engracem de vez com a menina dos olhos de Joe Biden.

Obviamente que novamente ele se recusará a aceitar a derrota. O argumento deverá ser o mesmo de 2020: as urnas foram fraudadas, posição compartilhada até hoje por Jair Bolsonaro nos esvaziados palanques que ainda lhe permitem subir. Junto do esvaziamento total do boneco Donald Trump, uma possível vitória de Kamala também significará para o Brasil novos começos. No mínimo, a manutenção do tempo de transformação. Mais do que o fim prematuro de uma sonhada candidatura da rainha Michelle à Presidência da República, Kamala será a certeza de que o frustrado sonho do clã Bolsonaro não passou de uma real ilusão. Pelo menos os brasileiros deixarão de ter pesadelos com cobras.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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