Julieta, aos 20 anos, conheceu o seu Romeu, que, por esses acasos da vida, nascera exatamente na mesma data que ela. A moça, no entanto, era mais experiente por questão de minutos. Isso, aliás, era motivo de brincadeiras do tipo “Me respeita, que sou mais velha!”
Romeu, que sempre fora afeito a obedecer, aceitou de bom grado aquele mando e desmando de Julieta. Tanto é que, um mês após se conhecerem, ela o intimou a ser seu namorado. O rapaz nem cogitou refugar e, no final do ano, já estavam casados de papel passado.
O casal, alguns poderiam dizer, não completaria bodas de papel. Ledo engano, pois, após quase quarenta anos de união, Julieta e Romeu estavam para completar bodas de esmeralda. Desavenças, é óbvio, que também aconteciam de vez em quando, mas nada que fugisse do normal entre duas pessoas que vivem juntas. Seja como for, tais querelas nunca ganhavam corpo, tamanha a impetuosidade da esposa.
Não pense você, a propósito, que Julieta fosse uma megera. Tal pensamento, aliás, seria uma injustiça com aquela mulher, que também sabia ser carinhosa e fazer o marido ter lá seus tremeliques. Mas deixemos a intimidade matrimonial e tratemos de outros assuntos.
Pois bem, lá estavam os dois pombinhos deitados na rede da varanda, em seu apartamento na Asa Norte, quando o agora sessentão Romeu deu um carinhoso beijo na face rosada da amada. Ela fechou os olhos e sorriu aquele sorriso de quem sabe que havia escolhido o homem certo para casar. E foi justamente nesse momento que o homem, segurando a mão da esposa, propôs o seguinte interlúdio.
— Julieta, meu amor, será que consigo chegar aos 80 anos?
— Não sei, mas se você conseguir, quero viver pelo menos até os 90.
— Por quê?
— Pra eu ter pelo menos 10 anos de paz.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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