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Brasília, cidade formal, precisa de um Zeca Pagodinho

Edmar, carioca da Zona Sul, aos 36 anos, mudou-se para Brasília. Não se pode dizer que fora obrigado, pois, até onde se sabe, ninguém lhe apontou uma arma para a cabeça. E aquele desconforto nos primeiros meses acabou se transformando em algo maior por aquela cidade, aquela terra vermelha, aquele clima seco.

Como disse um sábio, o ódio é irmão gêmeo do amor. Pois é, um novo sentimento começou a entrar no coração do Edmar. E era assim que o homem conseguia suportar passar tanto tempo na capital, pois aprendeu a dosar aquelas duas emoções no seu peito: o ódio e a ganância. Aliás, por conta desta, o carioca fez fortuna em pouco mais de cinco anos.

Rico e com Brasília a seus pés, Edmar poderia morar nas partes nobres da cidade. Rejeitou até mesmo o Lago Sul, para você ver. É verdade que a muvuca de Taguatinga o atraía, mas acabou comprando um amplo apartamento na decadente Asa Norte. A localidade, apesar de alquebrada, mantinha Edmar ligado à realidade, que, além de despida, quase nunca lhe chegava bem-passada.

O homem sentia falta não apenas das praias, como também das esquinas tão cariocas. Gostava de tomar uma geladinha, saboreada de pé encostado no balcão. Que as mesas e cadeiras continuassem por ali para quem quisesse se sentar. Mas cadê aquele toque de descompromisso? Cadê aquela troca de ofensas em tom de brincadeira com o atendente? Cadê aquela bandeja de ovos coloridos? Sem falar daquela coxinha que, de tantas moscas, poderia facilmente ser confundida com um quibe?

E foi por esses dias que aconteceu um interlúdio entre o ricaço e um legítimo nativo do Distrito Federal. Nascido, cuspido e escarrado por aqui. E não me venham tentar corrigir com aquela conversinha de esculpido em carrara, já que a conversa foi, além de franca, extremamente esclarecedora.

— Brasília é muito formal!

— Como assim, Edmar?

— As pessoas daqui se preocupam mais com aparências do que com a própria vida.

— Como assim?

— Meu amigo, Brasília carece de um Zeca Pagodinho.

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