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Crise hídrica

Brasília colhe falta dágua que outros governos plantaram

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Luis Cláudio Alves e F. Montoro

Em tempos de racionamento de água, a Câmara Legislativa do Distrito Federal debateu a crise hídrica que tem preocupado população, especialistas e autoridades. Por iniciativa dos deputados Joe Valle (PDT), Chico Leite (Rede) e Telma Rufino (PROS), a sessão plenária foi transformada em uma comissão geral para discutir o problema.

O presidente da Casa, deputado Joe Valle (PDT) comentou que o baixo nível dos reservatórios que fornecem água à população do DF levou o governo a tomar a iniciativa de suspender o fornecimento em determinadas regiões. “A situação é bastante delicada e nos leva a levantar um debate sério com relação à melhor forma de utilização dos recursos hídricos que nossa região dispõe”, comentou o distrital.

Já secretário do Meio Ambiente, André Lima, observou que a crise vivenciada atualmente é a “colheita” de muita irresponsabilidade e descaso de vários governos nos últimos 25 anos. Para ele, o assunto não pode ser politizado, pois é de interesse de todos. Lima também fez um apelo para a construção de um pacto de toda a sociedade para mudar a cultura do consumo de água no DF.

O secretário destacou também que a população pouco se preocupou com o tema nos últimos anos e não cobrou dos governos as medidas necessárias para evitar a crise atual. André Lima fez um relato sobre algumas ações que estão sendo empreendidas pelo GDF, como o combate a grilagem de terras, mas ressaltou que os resultados só aparecerão no futuro. O secretário disse ainda que é necessário mais investimento em novas tecnologias para o uso racional da água.

No requerimento apresentado para propor o debate, os distritais argumentaram que “as recorrentes interrupções no fornecimento de água no Distrito Federal constituem grandes transtorno à população”. Para eles, a discussão é uma tentativa de identificar as causas da crise hídrica e buscar soluções definitivas para o problema.

Falta de planejamento – O deputado Bispo Renato Andrade (PR) fez duras críticas ao programa Minha Casa, Minha Vida e enfatizou que o programa foi um grande erro do governo federal. O distrital afirmou que foram criadas muitas moradias sem nenhuma infraestrutura. “Foi pensado só no momento, sem uma preocupação prévia do futuro. As recorrentes interrupções no fornecimento de água no Distrito Federal constituem grandes transtornos à população. É preciso buscar uma solução definitiva para o problema”, argumentou o parlamentar.

O debate contou também com a participação de especialistas e de moradores de várias áreas do DF. O professor Sérgio Koide, do programa de tecnologia ambiental e recursos hídricos da UnB, chamou a atenção para a necessidade de redução do consumo em prédios públicos. Segundo ele, o racionamento não resolve esta questão. O professor sugeriu a adoção de medidas mais efetivas de conscientização do setor público.

Sérgio Koide acha que é importante também que a população e as autoridades se preocupem com a qualidade da água. Para ele, num futuro breve a população terá que consumir água de locais que hoje recebem esgoto.

Fiscalização – Alguns participantes defenderam a necessidade de maior fiscalização dos recursos hídricos e combate à grilagem de terras. O presidente da Associação de Engenheiros Florestais, Pedro de Almeida Sales, assinalou que o uso sustentável do meio ambiente precisa ser melhor assimilado por toda a sociedade e citou como exemplo a necessidade do plantio de árvores e da gestão florestal da região.

Para Nísio de Souza Sá Filho, gestor ambiental e da associação de moradores de Águas Claras, o DF tem hoje a melhor água do Brasil, mas que corre o sério risco de se tornar a pior. Para ele, os mananciais e as nascentes precisam ser preservados. Sugeriu também a captação de água do Lago de Queimados, como alternativa a Corumbá IV.

Na opinião do cientista ambiental Paulo Alipios, do Grupo de Olho no Cerrado, e de Robson Azevedo, morador de Brazlândia, o setor agropecuário e a indústria, considerados os maiores consumidores de água no DF, não estão sendo afetados pela crise, “ao contrário do que vem sofrendo a população”. “Fiscalizar e penalizar os pobres é fácil, mas os órgãos do governo deveriam fiscalizar as grandes empresas e os grandes consumidores”, ponderou Robson Azevedo.

Também participaram do debate a presidente da Agência de Fiscalização (Agefis), Bruna Pinheiro; o secretário de Agricultura, José Guilherme Tollstadius Leal, e o presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa), Paulo Salles, além de representantes da Caesb e de outros órgãos.

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