Parafraseando o mito Jair Bolsonaro, temporariamente mandatário deste país denominado jocosamente de República de Bananas e ídolo do governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha, não há nada ruim que não possa ficar pior. Parabéns, presidente. Nada mais atual do que sua futurista frase. E ela se aplica tanto ao Brasil quanto a Brasília. Lá e cá, estamos entregues às baratas, às cobras e, em muitos casos, aos escorpiões. Povo brasileiro e brasiliense, salve-se quem puder. Isso quando tiverem luz, água, saúde e, sobretudo, segurança. Administradores de almanaques de farmácias, tanto lá quanto cá ainda não conseguiram ler ou receber informações do que significa o verbo transitivo direto governar. Ele não é fake. É fato e quer dizer dirigir como chefe de governo, ter mando, comando, regência, autoridade, condução. Simples assim, mas não temos. Estamos absolutamente desgovernados.
Na prática, a função de um presidente ou governador é criar palco para a sociedade civil e o setor privado desempenharem seus papéis. Tenho receio dos radicalismos, mas não posso deixar de ser radical ao afirmar que Brasil e Brasília estão acéfalos. E faz tempo. Sem medo de errar, a afirmação pode ser entendida por todos os sentidos, desde o figurado ao do direito. No plano superior, isto é, no Governo Central, falta tudo. Recuperamos a inflação, conseguimos perder de vista os que passam fome, desfiguramos e dividimos o povo, transformamos a gasolina em ouro e já perdemos quase 600 mil brasileiros para a Covid. Apesar disso, na avaliação do presidente da República, tudo é lindo, tudo são flores. Vivemos sobre um mar de rosas. As eventuais coisas ruins são culpa da pandemia.
A chuva que se anuncia se encarregará de empurrar o que sobrar para entupir os bueiros da capital, cidades-satélites e do entorno. É sempre assim. E vamos empurrando a carroça até o carnaval chegar. Se a segunda onda deixar. Se em cima falta tudo, embaixo, no GDF, nada temos. Ou temos e não sabemos administrar. Casos da saúde e da segurança, carros-chefe da grife Ibaneis Rocha, mas que devem ter atolado nos devaneios piauienses do governador. É redundância falar de hospitais superlotados, da falta de médicos e de medicamentos no país. No DF, é sacanagem da imprensa marronzista, pois nada que uma nota bem redigida não tente desmentir o que é mostrado diariamente. Fora a do próprio governador, a segurança é uma piada.
Um dos metros quadrados mais caros do quadradinho, o Setor Sudoeste sofre com a falta de policiamento. Para não ser injusto, ele até existe. No entanto, está limitado a meia dúzia de viaturas mal estacionadas sobre os canteiros ou calçadas do “bairro”. Via de regra, no interior, dois ou três policiais trancados e entretidos com os jogos dos celulares à disposição. Ficam tão entretidos que raramente percebem o que ocorre a menos de 100 ou 200 metros de onde estão. Embora sejam muito bem pagos, os policiais não são de ferro. Por conta disso, tornaram-se comuns os roubos a pedestres e assaltos às joalherias da região. Esta semana, à luz do dia, uma famosa loja de produtos importados foi assaltada, as empregadas rendidas e ninguém viu nada.
Os ladrões roubaram dezenas de relógios e fugiram como se tivessem saído de uma festa de aniversário. Tudo isso a menos de um quilômetro de um batalhão da PM e da sede da Polícia Civil. Nada que não possa piorar. A verdade é que, aos 61 anos, com índices de criminalidade nada alvissareiros e um sistema de segurança caríssimo – quero dizer muito bem pago -, Brasília sofre com grotescas incoerências determinadas pelas chefias ou criadas deliberadamente pelos seus super agentes. Uma dessas novidades seria ótima caso fosse bem intencionada.
Faz alguns meses, três motociclistas da PMDF fazem plantão diariamente na sombra das árvores da saída da Quadra 101 do Sudoeste. Também entretidos nos celulares, parecem despertar com a rapidez de um raio quando algum desavisado surge com o telefone móvel à mão dentro do carro. Ocorreu comigo. Recentemente, fui merecidamente multado. Não é essa a queixa. Curioso é que, quase no mesmo instante, assaltavam uma outra joalheira na quadra vizinha. Certamente avisados, os briosos homens de farda sequer desceram das motos. Afinal, coibir assaltos não é da alçada deles. Ou seja, foram feitos para multar. Para nós contribuintes, o recado é curto e grosso: o fundo do poço é logo ali.